Viagem no tempo mostra a evolução do Universo
O despertar na Via Láctea – Uma história da Astronomia, Timothy ferris, Editora Campos, Rio de Janeiro, 1990
Eugênio Scalise Jr.
Um leitor desavisado, ao se deparar com este livro poderá se sentir atraído, na esperança de que ele contenha respostas místicas sobre a Via Láctea. Puro engano. Na realidade, o americano Timothy Ferris, jornalista e professor de Astronomia da Universidade da Califórnia, nos leva a viajar pelo tempo, mostrando como evoluíram os conceitos filosóficos que culminaram na concepção atual do Universo. Embora hoje, falemos corriqueiramente em galáxias, a idéia de que hanitamos entre bilhões de galáxias só foi firmemente estabelecida a cerca de sessenta anos.
Para chegar até aqui, foi preciso uma paciente espera de alguns milênios, ao longo dos quais os conceitos se solidificaram e a tecnologia avançou , dando aos observadores e aos teóricos as provas necessárias. Revendo a história da Astronomia, concluímos que tudo aconteceu no momento certo, nem antes , nem depois. No início, os agricultores da antiguidade enxergavam o movimento do Sol como relógio e calendário, e assim se orientavam e decidiam a época do plantio. A partir daí, Ferris conta como a noção de geocentrismo – teoria pela qual a Terra estaria no centro do Universo – evoluiu entre os gregos e os motivos que os levavam a achar que estavam certos.
Em seguida, o autor relata como a Escola de Sagres e os descobrimentos dos séculos XV e XVI ajudaram a ampliar o conhecimento do céu e a rever a dimensão da circunferência da Terra, chegando à teoria de Nicolau Copérnico (1473 – 1543), que colocava o Sol no centro do sistema planetário. Graças ao aparecimento de cometas e estrelas muito brilhantes (as novas), consolidou-se o heliocentrismo, e a idéia da imutabilidade do céu foi soterrada. A partir daí, os fatos se sucederam com rapidez, protagonizados pelo astrônomo alemão Johannes Kepler (1571 – 1630) e as leis que regem as órbitas elípticas dos planetas, pelo físico italiano Galileu Galilei (1564 – 1642) e o descobrimento do telescópio e pelo físico inglês Isaac Newton (1643 – 1727) e suas leis sobre o movimento.
Para expandirmos nosso céu, necessitávamos saber melhor a distância da Terra ao Sol e aos planetas e imaginar como determinar a distância às estrelas. O filósofo Immanuel Kant (1724 – 1804) e o astrônomo Willian Herschel (1738 – 1822), ambos alemães, nos levaram a desvendar a natureza das nebulosas. Durante o século XIX, com o desenvolvimento da espectropia (estudo da distribuição da matéria ou energia por meio do comprimento de onda) e a descoberta de supernovas em nebulosas, ficou evidente que algumas eram , na verdade, formadas por bilhões de estrelas. Quando os astrônomos encontraram estrelas cariáveis do tipo das Cefeídas nessas nebulosas, foi possível determinar suas distâncias e chegar ao conceito atual de galáxia.
Com Albert Einstein (1879 – 1955) e sua Teoria Especial da Relatividade, teve início a completa reformulação dos conceitos cosmológicos que culminara, com a Lei de Hubble – segundo a qual a galáxias distantes estão se separando a velocidade diretamente relacionadas com a distância entre elas – e a noção de Universo em expansão. Só neste século ficamos sabendo que a fonte de energia do sol é de origem atômica e que este, com 5 bilhões de anos, se encontra na metade de sua vida. Esses conhecimentos possibilitaram o cálculo da expectativa de vida das estrelas, que, de acordo com sua massa, pode variar de 1 milhão a mais de 100 bilhões de anos.
Quando o combustível esteiar se extingue, a estrela explode, tornando-se uma supenova, e o material expelido, formado por átomos de elementos pesados, irá dar origem a outras estrelas, num processo contínuo. Ao penetrar, finalmente, no mundo das partículas , Ferris discute as quatro forças fundamentais conhecidas que operam na natureza (gravitação, eletromagnetismo, força nuclear forte e força nuclear fraca) e as teorias que estão sendo formuladas atualmente, numa tentativa de unificar suas forças. De leitura fácil, mas com linguagem científica precisa, o livro contém um glossário de termos técnicos trocados em miúdos. Com tradução esmerada, revista por um especialista no assunto, O despertar na Via Láctea vem enriquecer os minguados títulos traduzidos sobre astrofísica disponível no Brasil.
Eugênio Scalise Jr. É astrofísico do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe)
Sobre radiotividade
Radiação: efeitos, riscos e benefícios, Emico Okuno, Editora Harbra, São Paulo, 1988
Acidentes nucleares como os que ocorreram na Usina de Chernobyl, em 1985, na União Soviética ou em Goiânia, em 1987, quando uma cápsula de césio-137 foi retirada de um aparelho de radioterapia e contaminou 250 pessoas, revelaram um desconhecimento do público em geral sobre suas trágicas conseqüências. Pensando nisso, a autora, física da Universidade de São Paulo, resolveu explicar em linguagem simples não só os males que a radioatividade pode causar mas também os benefícios que ela proporciona quando usada para fins terapêuticos.
40 anos de ciência
Manguinhos do sonho à vida – A ciência na belle époque, Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz, rio de Janeiro, 1990
Frutos do trabalho dos pesquisadores da Casa de Oswaldo Cruz, uma das unidades que integram a Fundação Oswaldo Cruz, o livro conta a história da mais importante instituição de investigação científica brasileira, nas quatro primeiras décadas deste século. É também uma homenagem a seu ilustre fundador, o bacteriologista Oswaldo Gonçalves Cruz (1872 – 1917), e ao importante trabalho de arquitetura hospitalar, quase sempre esquecido, realizado pelo engenheiro português Luiz de Morais Júnior, o responsável pelo projeto de muitos prédios que ainda hoje compõe o conjunto de Manguinhos.
Revisão do passado
História Geral do Brasil, Maria Yeda Linhares (organizadora), Editora Campos, rio de Janeiro, 1990
Coletânea de textos que procura dar uma visão mais moderna da história do Brasil, do descobrimento aos dias de hoje. A preocupação dos autores – Ciro Flamarion Cardoso, Francisco Carlos Teixeira, Hamilton de Mattos Monteiro, João Luís Fragoso e Sonia de Mendonça – foi resumir o passado brasileiro para o público leigo, utilizando informações de fontes primárias, tais como crônicas de viagem dos tempos de colonização, e de pesquisas mais recentes.
Questão polêmica
O nascimento do tempo, Ilya Prigogine, Edição 70, Lisboa, 1990
Para o físico e químico soviético Ilya Prigogine, o tempo deve ser colocado em posição privilegiada na estrutura da ciência moderna: ele tem vida independente, não existe apenas na imaginação do homem. A questão é polêmica e divide os cientistas. Uma entrevista com as opiniões de Prigogine sobre o tema e duas conferências, pronunciadas por ele em 1984 e 1987, em linguagem acessível, compõem este livro de apenas 75 páginas.