Multitenimento
Sala de espera do dentista, aniversário de criança ranhenta, ponto de ônibus lento... Conheça as tendências que estão levando o entretenimento até para os lugares mais chatos do mundo
Texto Enrique Tordesilhas
Nunca foi tão fácil se divertir. Nos últimos anos, o entretenimento se tornou onipresente. Está escamoteado nos recantos mais sisudos do mundo, pronto para escapulir sempre que puder. O exemplo mais banal é o celular: permite que você jogue games, ouça música e paquere por SMS durante uma reunião ou na sala de espera do dentista. Mas a busca pela diversão onipresente vai muito além dos telefones móveis.
O Kindle, leitor de livro eletrônico lançado pela Amazon (e que ainda não funciona no Brasil), armazena livros, jornais e revistas. Mais que isso: uma conexão de banda larga móvel permite que ele receba conteúdo o tempo todo. Por exemplo: se você está lendo um livro de poemas antes de dormir, é só deixá-lo na mesa de cabeceira. Durante a noite, em alguns minutos, o aparelho vai receber o jornal do dia. Quando acordar, a edição digital estará lá. Para os donos do gadget, ir até a porta pra apanhar o jornal é coisa do passado.
Ver filmes no celular ou no mp3 player é moleza. Mas gravar suas próprias criações em HD também está cada vez mais simples. Forte candidata a gadget do ano, a Flip Ultra HD é uma camerazinha que custa no máximo US$ 199 (metade do preço de qualquer coisa parecida), grava em alta definição, se conecta ao computador por USB e joga tudo direto no YouTube. Tem o tamanho e o formato de um iPod. Além de tudo, é uma belezinha: seu design é matador. Virou um sucesso. Não só de vendas. Saiu em abril. Um mês depois, a fabricante, Pure Digital, foi comprada pelo gigantesco grupo Cisco por US$ 590 milhões – e isso em plena crise econômica. A Flip é tão, mas tão fácil de usar que qualquer um consegue fazer um filminho com ela. E aí haja YouTube pra armazenar tanto vídeo de pôr-do-sol e cachorro brincando com bola.
A cena de um escriturário preguiçoso jogando paciência no computador já virou até clichê. Mas a verdade é que os pcs ligados à internet quase imploram para que a gente não trabalhe. Atrás do Word em que escrevo este texto há um mundo de coisas para explorar – e em certas horas até os sites de fofoca parecem mais interessante que escrever este texto (será que meu editor vai ler isso?). Com a chegada dos netbooks, que facilitam a conexão com a web, podemos ler os sites de fofoca ou ouvir músicas na Blip.fm de qualquer lugar que tenha wi-fi, como o café da esquina. E, se não tiver internet, sem problema: no pen drive, ficam os últimos episódios de True Blood para uma emergência.
Claro que toda essa malemolência de entretenimento onipresente pode acarretar também uma certa perda de qualidade. Claro que qualidade nem sempre é tudo. Foi no YouTube, com todas as limitações que o site tem, que Susan Boyle emocionou o mundo. Mas não dá pra negar que, tecnicamente, um filme em Blu-ray tem uma resolução superior à do YouTube – mesmo em sua versão HD. E essa é outra novidade destes tempos de entretenimento onipresente: o mesmo avanço tecnológico que permite que você se divirta em qualquer lugar permite que, em certos lugares, a diversão alcance níveis impensáveis até pouco tempo atrás.
As Flips tomam conta das ruas americanas e produzem milhões de vídeos. E isso não importa. O filme do ano deve mesmo ser Avatar – um petardo em 3D IMAX de US$ 200 milhões que tomou 14 anos da vida de seu diretor, James Cameron, que precisou inventar até a câmera que usou (leia mais sobre Avatar na página ao lado). Como em todos os grandes lançamentos de Hollywood, é provável que a versão pirata chegue aos camelôs ainda no dia da estreia. Mas, para assistir a Avatar pra valer, tem que ir até uma sala com todos os recursos para os quais o filme foi concebido.
Se há muita diversão de graça por aí, a palavra-chave para motivar alguém a ir até uma sala de cinema ou pagar por algo é, cada vez mais, experiência. Daí a explosão da venda de home theaters, TVs com resolução cada vez maior e consoles de videogames em Blu-ray. Afinal, uma coisa é você ouvir Beatles no iPod. Outra é fingir ser John, Paul, Ringo ou George no recém-lançado Rock Band: Beatles, que tem 45 músicas e rememora grandes momentos da banda inglesa.
Podem falar o que quiserem: que o mundo está mais violento, mais complicado… Mas a verdade é que ele também está mais divertido do que nunca.
O site americano Hulu, em que as TVs exibem seus programas oficialmente e de graça para coibir a pirataria, teve 38 milhões de espectadores em julho. Isso deixa o site na frente da 2ª maior operadora de cabo do país, a Time Warner Cable, que registrou 34 milhões de clientes no período, segundo a comScore.