O arqueólogo da música
Trata-se de Stephan Micus, um alemão cujo trabalho pode ser chamado de arqueologia musical.
Caio Vilela, de Adis Abeba
Estou em Adis Abeba, capital da Etiópia, ouvindo um som grave e reverberante, tirado de um instrumento feito de pedaços de madeira e de tripas de carneiro esticadas. A cena poderia estar se passando em tempos bíblicos. Mas tem uma coisa que destoa do resto: o músico. O sujeito dedilhando o begene, um dos mais antigos instrumentos de corda do mundo, é um loiro grandalhão, usando um chapeuzinho de turista para proteger a pele branquela do sol. Trata-se de Stephan Micus, um alemão cujo trabalho pode ser chamado de “arqueologia musical”. Micus passa a vida rodando países exóticos atrás de instrumentos à beira da extinção, como o doussn gouni (harpa africana), o rabab (instrumento de 13 cordas do Afeganistão) e o djegok (xilofone dos templos de Bali). Em cada lugar que chega, Micus procura um grande mestre, aprende com ele a técnica e grava um CD. “Nunca tive um aluno que aprendesse tão rápido”, afirma o mestre Alemu Aga, único professor de begene do mundo. Os discos estão à venda na Amazon.com.