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O grande vazio

Para entender o sentido, e a falta de sentido, da vida.

Por Alexandre de Santi (edição: Bruno Garattoni)
Atualizado em 26 out 2020, 08h41 - Publicado em 19 nov 2015, 16h30

Livro: O Estrangeiro
Autor: Albert Camus
Ano: 1942
Por que ler? Para entender o sentido da vida (e a falta de sentido).

O escriturário argelino marcel meursault mora no subúrbio e não tem muitos amigos. apesar de o pronome “eu” aparecer 1.259 vezes no livro, o narrador não se apresenta ou se explica. apenas conta. O curto livro de Albert Camus é dividido em duas partes: a primeira dura 18 dias e mostra Meursault recebendo a notícia da morte da mãe, indo até o enterro e vivendo o luto de uma forma peculiar. Vai ao cinema, namora e sai com amigos. Durante um passeio à praia, sozinho e com uma arma no bolso, Meursault encontra um árabe que era desafeto de um amigo. O sol ofusca o protagonista, e ele perde brevemente a razão. Dispara quatro vezes e mata o árabe. A partir daí, só piora. Na segunda parte, Meursault vai a julgamento e, além de responder sobre o crime, também precisa explicar por que não chorou no enterro da mãe. Ele não se arrepende e nem quer se defender. Tudo isso (ATENÇÃO! SPOILER ALERT) o leva a ser condenado à pena de morte.

À noite, Marie veio buscar-me e perguntou se eu queria casar-me com ela. Disse que tanto fazia (…). Quis, então, saber se eu a amava. (…) Expliquei que isso não tinha importância alguma.

Tudo sem sentido, certo? Sim. Assim como a vida. A linguagem é tão crua e direta que muitos leitores acabam o livro sem entender qual era o objetivo de Camus. Mas foi de propósito. O livro faz parte da trilogia do absurdo, série em que o argelino reflete sobre a falta de sentido da vida: O Estrangeiro (1942), O Mito de Sísifo (1942) e a peça de teatro Calígula (1945). Camus foi um dos expoentes do existencialismo, escola filosófica que questiona por que estamos vivos e qual o sentido disso. Sua obra conversa com a do filósofo francês Jean-Paul Sartre, que não via sentido prévio no fato de estarmos aqui. Eles acreditavam que o homem é livre e pode tomar as rédeas de sua vida porque não nasceu com uma missão pré-definida.

o estrangeiro camus

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Em O Estrangeiro, Camus, ganhador do Nobel de Literatura em 1957, eleva a tese existencialista à enésima potência, e argumenta por meio da frieza de Meursault que não há sentido bom ou ruim em matar ou não um árabe por causa do sol. Ou se emocionar ou não quando a namorada lhe pede em casamento. Claro que o filósofo não estava propondo que todo mundo saísse por aí atirando nos outros. Mas, nesse vazio existencial, o indivíduo pode dar sentido ao que bem entender. Até ao absurdo.

O livro ainda é rico pela mensagem política. O árabe morto da história, que não tem nem nome, representa os países colonizados, que sofrem sem serem lembrados. Além de influente na literatura, Camus foi importante na resistência francesa contra os nazistas. Participou do jornal clandestino Combat e colaborou com publicações socialistas. Ele via muitas razões para viver, mas teve uma morte que consideraria absurda: um acidente de carro, em 1960.

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