Clarissa Passos-Garcia
No ar desde 1962, Silvio Santos é uma figura ímpar na televisão brasileira. O dono do SBT se dispõe a dividir sua jornada de trabalho como empresário com a função de apresentador de programas de auditório – e ainda arruma tempo para criar polêmica com falsas afirmações de que estaria no bico do corvo e gravar marchinhas carnavalescas de gosto duvidoso, como “A Pipa do Vovô Não Sobe Mais”.
A voz inconfundível, o sorriso impecável e o microfone aparentemente chumbado no peito são as marcas registradas que fizeram de Senor Abravanel o “seu Silvio”, como insistem em chamá-lo as “colegas de auditório” que se sentem íntimas do comunicador. Também, pudera: em 42 anos no comando da telinha dominical, Silvio emplacou sucessos e esteve à frente da animada trupe de senhoras da platéia em pérolas inesquecíveis, como…
Domingo no Parque (1968–1988)*
Fórmula: Programa infantil com provas de gincana, dividia as equipes em times de futebol. No quadro clássico, a criança devia responder a cada vez que uma luz acendia. Do outro lado, Silvio fazia perguntas como “quer trocar uma bicicleta por 1 milhão?” – mas o tal milhão era um milho grande de isopor… Os vencedores saíam calçados com pares de tênis Montreal – o único que protegia contra os mi-cró-bi-os.
Frase inesquecível: “Siiiiiiiiiiim! Nãããããããããão!” Sem ouvir as perguntas, crianças tentavam deixar do programa com um bom prêmio.
Namoro na TV (1968–2000)*
Fórmula: Baseado na criação do americano Chuck Barris, trazia ao palco homens e mulheres que podiam se apaixonar. Silvio divertia-se com o constrangimento do casal. A essência voltou no Em Nome do Amor, com um hilário termômetro que media a animação do bate-papo entre os participantes e binóculos para ajudar na visualização do pretendente.
Frase inesquecível: “Rrrrrroque, pode trazer as flores!” Silvio premiava os pombinhos recém-aninhados com um ramalhete, trazido por seu intrépido assistente Gonçalo (era esse o primeiro nome dele) Roque.
Qual É a Música? (1976–2002)*
Fórmula: Artistas provavam seu conhecimento musical. Atração à parte, os assistentes Pablo e Fernanda dublavam músicas ostentando bizarras pinturas faciais. O título de maior vencedor ainda causa polêmica. “Ninguém ganhou mais que eu”, afirma Ronnie Von. “O vencedor sou eu”, diz Nahim. Na verdade, cada um foi o grande campeão de uma emissora diferente: Ronnie na TV Tupi, em 1977, e Nahim na TVS-SBT, em 1981.
Frase inesquecível: “Uma nota, maestro Zezinho.” Sob o comando de Silvio, o maestro era autorizado a dar uma dica musical aos convidados.
Porta da Esperança (1985–1997)*
Fórmula: De conjunto de material escolar à casa própria, passando por geladeiras e cadeiras de roda: todo mundo que participava do programa tinha algo para pedir. Enquanto Silvio conversava com o requerente, a produção tentava fazer com que o desejo fosse atendido. Nem sempre dava certo – e a porta aberta podia exibir nada mais que um doloroso vazio.
Frase inesquecível: “Vamos abrir as portas da esperança!” As palavras determinavam a hora da verdade e disparavam a adrenalina de quem estivesse esperando por uma graça no palco.
Show de Calouros (1968–1993)*
Fórmula: Inspirado em atrações internacionais, como o Gong Show, também de Chuck Barris, recebia no palco candidatos a artista. Os calouros passavam pelo crivo de Aracy de Almeida, Pedro de Lara e Elke Maravilha, entre outros, e podiam sair dali com algum dindim, conferido pelos jurados e dobrado por um efeito sonoro característico.
Frase inesquecível: “O Silvio Santos lá, lá, lá, lá, lá!” O coro musical abria o programa apresentando o patrão, cada um dos jurados, Lombardi e o auditório com o mesmo refrãozinho.
Topa Tudo por Dinheiro (1986–2001)*
Fórmula: Oferecer uns trocados a quem quisesse passar por uma prova esdrúxula, como sentar-se sobre uma tina d’água e abrir um envelope. Se a palavra ali fosse “prêmio”, o participante descia sequinho; se fosse “água”, seu destino era o banho. Certa vez, Silvio resolveu testar a engenhoca e se deu mal. Saiu encharcado, com microfone no peito e tudo.
Frase inesquecível: “É pegadinha, é pegadinha!” O ator Ivo Holanda, desesperado e correndo para não apanhar, tentava avisar cidadãos enfurecidos que tudo não passava de uma brincadeira.