O poder que não se deixa ver
A obra-prima de um dos melhores críticos da globalização: Pierre Bourdieu.
Antônio Madalena
Com a morte de Pierre Bourdieu, no início de 2002, o mundo perdia aquele que melhor encarnava a clássica figura do intelectual francês: a do pensador combativo e politicamente posicionado, que não se omite das questões e polêmicas que marcam e definem sua época. Um dos críticos mais contundentes do neoliberalismo e da globalização, Bourdieu falava com conhecimento de causa e experiência pessoal: seu trabalho renovou e revitalizou as ciências humanas, especificamente o campo da sociologia e da antropologia, pela ênfase e equilíbrio entre a pesquisa teórica e a empírica. Sua obra escapa às alternativas excludentes do objetivismo ou do subjetivismo, por meio de dois conceitos centrais e interligados: o de habitus, que ele recupera dos escolásticos, e o de “campo”.
Em O Poder Simbólico (Bertrand Brasil), Pierre Bourdieu mostra como diferentes campos, da política, da arte, do direito, da ciência e do próprio mundo acadêmico, obedecem um mesmo padrão, uma homologia estrutural, embora cada um tenha a sua especificidade própria. Em vez da noção de classe, o conceito de campo e a dinâmica das relações no interior deste, aliado às idéias de capital cultural e social, revelam como os detentores do poder o mantêm através de mecanismos que envolvem os dominados sem que estes tenham consciência de seu consentimento. Uma operação em que a linguagem e seu poder performativo se revelam mais fortes e eficazes que o uso da força explícita.