O verdadeiro rei do pop
Não é Michael Jackson. O turco Ahmet Ertegun, criador da Atlantic Records, inventou um som fadado ao sucesso.
Ahmet andava de um lado para outro na sala da sua gravadora, especializada em jazz, que abrira havia 12 meses. Era 1948 e a Atlantic Records vendera pouquíssimas cópias de discos de 78 rotações. “Eu preciso inventar um som comercial”, matutava. Foi então que teve a idéia de viajar pelo sul dos EUA para recolher amostras musicais. De volta a Nova York, trancou-se num estúdio durante dias até chegar à música que agradou em cheio aos compradores: um som dançante com vocais rasgados, entremeados por solos de sax. Assim, mais do que inventar o “som da Atlantic”, Ahmet criou a música popular moderna. De Phil Spector – produtor dos Beatles – a Celine Dion, o panteão pop tem uma dívida de gratidão com o turco, nascido em Istambul, filho de diplomata, que desistiu de estudar filosofia para abrir a gravadora com dinheiro emprestado por um dentista, amigo da família.
A primeira estrela a brilhar em suas mãos foi Ray Charles. “Antes de mim, Ray era um pianista fracassado de Seattle”, dizia. Ahmet escreveu, sob o pseudônimo A. Nugetre (seu sobrenome, Ertegun, ao contrário), o primeiro sucesso do soul man, Mess Around, de 1954. Seus dias de glória, contudo, aconteceram nos anos 60 e 70. O turco viu que o gosto popular estava mudando em direção ao rock ’n’ roll. Três de seus petardos da época: descobriu o Led Zeppelin depois de ouvir uma fita demo, fechou contrato para distribuir os discos dos Rolling Stones nos EUA, em 1971, e assinou com a banda Cream, de Eric Clapton. Também descobriu uma cantora de igreja e transformou-a na rainha do soul americano: Aretha Franklin. A única coisa que não conseguiu foi que os EUA fossem capazes de pronunciar o seu nome. O cantor Otis Redding, por exemplo, chamava-o de “Omelete”.
Ahmet morreu no ano passado, depois de sofrer uma queda, aos 83 anos, durante um concerto dos Rolling Stones em Nova York. Robert Plant (do Led Zeppelin) ligou para a Atlantic Records, perguntando para onde deveria enviar uma coroa de flores. A recepcionista que o atendeu nunca ouvira falar de Ahmet Ertegun. A glória é efêmera no circo do pop.
Grandes momentos
• Ele sempre se lamentava de duas bobagens: não ter insistido para ficar com o passe de Elvis Presley (perdido para a RCA) e ter perdido o contrato com uma banda inglesa, The Beatles.
• Mas a música não era tudo. Em 1971, montou o time New York Cosmos e ajudou a levar uma leva de craques para o escrete nova-iorquino: vPelé, Carlos Alberto Torres, Beckenbauer e Chinaglia. O Cosmos fechou as portas em 1984.
• Em 1967, vendeu a Atlantic Records à Warner Brothers por US$ 17 milhões. Mas nunca se aposentou. Suas últimas descobertas: a cantora Jewel e o roqueiro Kid Rock.