Oscar: Entenda a briga entre Steven Spielberg e a Netflix
Depois do sucesso de "Roma", o diretor de "Tubarão" e "Jurassic Park" quer propor mudanças nas regras da premiação
Na última edição do Oscar, Green Book – O Guia venceu o prêmio principal, mas o maior destaque da noite foi, sem dúvida, Roma, uma produção original Netflix dirigida por Alfonso Cuarón. Das dez categorias a que estava indicado, levou três: Melhor Diretor, Fotografia e Filme Estrangeiro. Foi, inclusive, a primeira obra em espanhol na história do Oscar a concorrer a Melhor Filme.
Além dos três prêmios, a Netflix ainda levou o Oscar de Melhor Curta-Documentário com o filme Absorvendo o Tabu. Ela já havia ganho, em 2018, o troféu de Melhor Documentário por Icarus. Mas, no que depender do diretor Steven Spielberg, essa maré de sorte do serviço de streaming pode acabar.
Na última semana, uma reportagem do site IndieWire revelou que o diretor, responsável por clássicos como ET – O Extraterrestre, Jurassic Park e Tubarão, quer mudar as regras que regulam se um filme pode ou não concorrer ao Oscar – o que dificultaria a vida das produções da Netflix e de outros serviços semelhantes.
“Steven tem uma opinião muito forte sobre as diferenças entre cinema e streaming”, disse um porta-voz da Amblin Entertainment, produtora de filmes fundada por Spielberg nos anos 1980. “Ele gostaria que outros se juntassem à sua campanha quando ela começar”.
Tudo indica que ele apresentará essa proposta em abril, durante a reunião anual do Conselho de Governadores da Academia, de cuja gestão atual Spielberg faz parte. Essa organização é formada por profissionais da sétima arte e, dentre outras responsabilidades, debate e aprova mudanças nas regras do Oscar.
Principais reclamações
Spielberg defende que o modelo da Netflix se assemelha às produções de televisão e, portanto, seus filmes deveriam concorrer ao Emmy, e não ao Oscar. Os estúdios de cinema reclamam também que a disputa é desleal: Roma, por exemplo, foi lançado em mais de 190 países e está disponível 24 por dia, sete dias por semana.
O filme de Cuarón também não respeitou a janela de três meses entre o lançamento nos cinemas e o de home video e não teve o número de espectadores divulgado (dado que a Netflix nunca revela). A diferença fica maior quando se compara o dinheiro gasto nas campanhas de divulgação: de acordo com o New York Times, Roma investiu US$ 25 milhões em marketing, enquanto Green Book gastou apenas US$ 5 milhões.
Mas como Roma e outros filmes da Netflix conseguem entrar na disputa do Oscar? Pelas regras da Academia, para uma produção se tornar elegível para o prêmio, precisa ser exibida em salas em Los Angeles e Nova York por, ao menos, uma semana. O filme mexicano, todo filmado em preto e branco, estreou em mais de 100 telas nos EUA e ficou em cartaz por três semanas.
Resposta da Netflix
No último domingo, a Netflix respondeu ao caso via Twitter. A mensagem original dizia o seguinte:
“Nós amamos cinema. Aqui estão algumas coisas que também amamos:
-Acesso para pessoas que nem sempre podem pagar, ou moram em cidades sem cinemas
-Permitir a todos, em todos os lugares, desfrutar de lançamentos ao mesmo tempo
-Dar aos cineastas mais maneiras de compartilhar a sua arte
Essas coisas não são mutuamente exclusivas.”
Por ora, ainda não dá para saber exatamente quais mudanças Spielberg pretende propor. Mas algumas personalidades, como a diretora Ava DuVernay (de Selma) e o ator Bruce Campbell (The Evil Dead) saíram em defesa da Netflix, que no mês passado entrou para a Motion Pictures Association of America (MPAA), grupo que reúne as principais produtoras de Hollywood.
Enquanto isso, a empresa se prepara para o lançamento de The Irishman, longa que será dirigido pelo veterano Martin Scorsese (Taxi Driver, Touro Indomável), estrelado por nomes como Al Pacino, Robert De Niro e Joe Pesci e com um orçamento de US$ 150 milhões – que deve gerar mais um capítulo em uma discussão que vai se estender por mais alguns anos.