Quais os pontos fortes – e quais as kriptonitas – de “Batman vs Superman”
O embate entre o homem morcego e o homem de aço está recheado de erros - e de acertos também
Desde 1986, quando Frank Miller escreveu O Cavaleiro das Trevas, os nerds ao redor do globo esperavam o momento em que Batman e Superman se enfrentassem nos cinemas. Foram quase 30 anos de espera, recheados de easter eggs, expectativas, mas poucas chances reais de conclusão. Agora, em 2016, finalmente os heróis vão trocar socos na telona. Batman vs Superman: A Origem da Justiça chega aos cinemas brasileiros nesta quinta, 24. Separamos, então, os pontos fortes e também as kriptonitas do longa.
PONTOS FORTES
– É puro fan service:
É bom lembrar que Batman vs Superman não é uma adaptação de Cavaleiro das Trevas, mas as inspirações são claras. Além dos uniformes do homem morcego, há cenas e situações idênticas à HQ de Frank Miller. Isso é legal pra caramba. Zack Snyder, o diretor do longa, tem plena consciência de que uma legião de fãs da DC pensava em Cavaleiro quando imaginava o embate entre os dois heróis. Ver o Batman na pose clássica de Miller com um raio caindo ao fundo é de arrepiar a nuca de quem é apaixonado por graphic novel.
– Adeus, Christopher Nolan:
Christopher Nolan é ótimo, e sua triologia do Batman (formada por Begins, Cavaleiro das Trevas e Cavaleiro das Trevas Ressurge) é um dos produtos responsável pela popularização da cultura nerd nos anos 2000. Mas a fórmula de que tudo tem que ser realista e justificado cientificamente já estava esgotada. Uma das grandes sacadas da Marvel no cinema foi justamente essa. Thor, por exemplo, é um deus nórdico que possui um martelo mitológico disparador de raios. Fim. Nenhuma fórmula física para explicar a potência elétrica gerada por um objeto tão pequeno. Esse tipo de pensamento dá muito mais liberdade para os filmes e consegue trazer de volta a aura mitológica dos heróis de quadrinhos. Com Batman vs Superman a DC finalmente se liberta da obrigação de justificar tudo. A roupa do Batman é à prova de balas. Simples assim, nenhum polímero foi criado para explicar o novo tecido. Pensamento que anda muito mais em sintonia com o mundo em que um cara sem óculos não é reconhecido depois de atravessar o globo salvando a população.
– Vai te divertir:
O filme consegue entreter. Você dá risada, você torce pelo mocinho, cruza os dedos para o vilão perder – tudo isso sem ofender ninguém. Viu, Deadpool?. O ponto é que a reunião do Batman, do Superman e da Mulher Maravilha finalmente aconteceu nos cinemas e, mesmo com as falhas que narraremos a seguir, ela cumpre seus dois objetivos: divertir o telespectador, e preparar terreno para o filme da Liga da Justiça. Vale o preço do ingresso, e é aquele tipo de filme que metade dos seus amigos vai amar, enquanto os outros 50% vão odiar. Se você quer ter conversa para o bar, é bom conferir – mesmo que seja para falar mal depois.
KRIPTONITAS
– Você não sabe, mas já viu o filme
Sabe o segundo trailer, aquele que aparece um grande vilão no final? Pois é, ele estragou o filme. Praticamente o roteiro inteiro do longa está naquela prévia. Para não ser injusto, o final do filme ainda guarda uma surpresa, assim como as inserções (não muito boas) que abrem caminho para o filme da Liga. Mas não ache que você vai se deparar com grandes reviravoltas, talvez tome um susto uma ou duas vezes. Nada além disso.
– O roteiro não faz muito sentido
Infelizmente, o filme acaba sendo uma grande colcha de retalhos com ótimas referências, mas que não fazem muito sentido em suas ligações. O roteiro força a barra para que os dois heróis briguem. Em vários momentos você consegue enxergar bons motivos que realmente fariam Batman e Superman caírem no pau, os quadrinhos já citaram milhares e o próprio filme faz alusão a alguns, mas a motivação escolhida acaba sendo a mais fraca de todas. Até o desenvolvimento dos personagens acaba esbarrando no roteiro. O Lex Luthor não convence do porquê está fazendo tudo aquilo, e – apesar da ótima primeira cena – Lois Lane só serve para bancar a donzela indefesa. É claro que todo mundo queria ver a luta dos dois personagens, mas ela poderia ter rolado de maneira muito mais natural.
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– Super-heróis matam. De novo.
Se você não viu Homem de Aço, talvez queria pular esse trecho. Se você viu, sabe que o Supeman mata o vilão do filme. Acontece que a atitude do herói foi bastante criticada pelos fãs – Super-Homem é basicamente o paladino da justiça, e se tem alguém que não deve matar alguém sem julgamento, é ele. Mas o roteiro do longa em momento nenhum problematiza isso. Pelo contrário. Ele ignora esse fato e ainda faz com que o outro nome do título comece a assassinar pessoas. O Batman usa armas, fato que vai contra a grande maioria das HQs, e mata os bandidos sem nenhum tipo de remorso. Não tinha pra quê. A situação também não melhora nas lutas que não há óbitos. As lutas em que o Batman prefere imobilizar os vilões a matá-los são extremamente coreografadas, chega ao nível em que o bandido nº2 espera o bandido nº1 terminar de apanhar para que possa finalmente atacar.
SALDO:
A parte chata é que Batman vs Superman: A Origem da Justiça poderia ser um filme bem melhor do que é. Isso é fato. Mas também é importante ressaltar que o resultado também está longe de ser esse show de horrores que podem ter te pintado. Na comparação, o filme consegue ser mais envolvente que O Incrível Homem-Aranha 2, e Vingadores: A Era de Ultron, por exemplo. Ao mesmo tempo, a luta do homem morcego contra o homem de aço é infinitamente menos carismática do que o primeiro filme que reuniu dos super-heróis da Marvel. Ou seja: Batman vs Superman não é o melhor filme da sua vida, não vai ser nem mesmo o melhor filme de heróis que vai estrear esse ano. Mas, definitivamente, também não é a pior coisa que você vai ver nesse semestre.
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