Rafael Kenski
Para saber mais
Na internet:
https://www.deepseavoyages.com
https://www.canadianarrow.com/spacediving.htm
rkenski@abril.com.br
Vire uma estrela cadente
“O turismo de aventura se desenvolverá muito nas próximas décadas”, afirma Augusto Huescar, diretor da Organização Mundial de Turismo, em Madri, Espanha. Esportes como bungee-jump e alpinismo se tornarão mais seguros e serão praticados por muita gente. Mas aqueles que quiserem algo ainda mais emocionante poderão praticar mergulho do espaço, uma forma de liberar quantidades de adrenalina, digamos, astronômicas. O esporte consiste em saltar de naves espaciais de altitudes de até 100 quilômetros, atingir velocidades superiores à do som, enfrentar temperaturas acima de 1 000 graus Celsius e ainda permanecer vivo.
A idéia surgiu na década de 60, quando a Nasa imaginava uma maneira de ejetar a tripulação de suas naves no caso de acidente. Os astronautas vestiriam roupas pressurizadas e entrariam em um saco plástico protegido por um escudo resistente ao calor. Quando atingissem a altitude de 9 quilômetros, acionariam um pára-quedas para trazê-los com segurança ao solo. A idéia não foi posta em prática porque, além do perigo representado pela alta velocidade e temperatura, o astronauta que atrasasse o pulo em segundos poderia cair no continente errado. No futuro, quando o acesso ao espaço for mais barato e surgirem materiais mais resistentes, a brincadeira se tornará mais segura. “Vai demorar, mas esse esporte poderá ser praticado por pessoas comuns”, diz David Ashford.
Leve sua casa para passear
Os turistas que não quiserem viajar em espaçonaves terão outras opções – bem mais seguras e confortáveis – de dar a volta no planeta. Uma delas é o Freedom Ship, um navio de 25 andares e mais de 1,3 quilômetros de comprimento. A construção, que deve ficar pronta daqui a 3 anos, incluirá centros de compras, condomínios residenciais, escolas, hotéis, restaurantes, bancos, cassinos, um hospital, um aeroporto e outras instalações encontradas em qualquer cidade. Planeja-se que ele dê a volta ao mundo a cada dois anos e passe dois ou três dias nos principais portos do caminho, o que inclui cidades da costa brasileira. “A proposta não é apenas construir um barco gigantesco, mas criar um estilo de vida em que trabalho e turismo estejam no mesmo lugar”, afirma Norman Nixon, presidente da empresa.
Outra opção para se viajar ao redor do mundo serão os dirigíveis que, depois de décadas de esquecimento, voarão novamente em versões rápidas e seguras. A companhia alemã Zeppelin Luftschifftechnik GmbH já construiu um veículo para vinte pessoas e, a partir deste ano, fará vôos panorâmicos entre lagos e cidades históricas da Alemanha. Em dez anos, dirigíveis bem maiores cruzarão o planeta inteiro. “Serão hotéis voadores que darão a volta ao mundo para observar do alto os nossos principais monumentos”, diz John Spencer.
Seja vizinho dos peixes
O movimento de turistas deverá explodir nas próximas décadas. “O número de viagens realizadas no mundo irá dobrar até 2010 e triplicar até 2020”, afirma Augusto Huescar. Daqui a vinte anos, mais de 1,5 bilhão de pessoas viajarão pelo mundo, e provavelmente lotarão todos os pontos interessantes sobre a Terra. A solução pode ser explorar o turismo em regiões marítimas, que cobrem 79% da superfície do planeta.
A Wimberly Allison Tong & Goo, uma empresa de arquitetura especializada em instalações turísticas, projetou um resort onde a maior parte dos quartos estão embaixo d’água. Ele possui muitas paredes de vidro para que o hóspede esteja o tempo todo com corais, peixes e tartarugas em seu campo de visão. O plano também inclui um cassino e áreas de pesquisa científica. Até agora, tudo não passa de uma idéia, mas a empresa americana Cala Corporations pretende utilizar o estudo em um hotel a ser construído em breve nas ilhas Maui, no Havaí. Por enquanto, a única opção para quem quer se hospedar embaixo d’água é o Jules Undersea Lodge, na Flórida, Estados Unidos. É uma instalação de dois quartos feita no fundo de um lago, a 6 metros de profundidade. Só dá para chegar lá é mergulhando.
Safáris no fundo do mar
No futuro, será difícil encontrar lugares desertos – até o cume do monte Everest será ponto de encontro para milhares de pessoas. Só haverá sossego em localidades ainda mais inóspitas. Essa tendência já pode ser vista hoje. Em setembro deste ano, a empresa americana Deep Sea Voyages pretende, por 70 000 dólares, levar turistas para conhecer o que ela define como o “verdadeiro Pólo Norte”. Eles chegarão até o extremo norte do planeta a bordo de um navio quebra-gelo russo e, uma vez lá, descerão de submarino até o fundo do mar, 4 400 metros abaixo da superfície. Lá conhecerão peixes abissais diferentes de tudo o que se vê em águas rasas – uns são cegos, outros emitem luz.
A mesma companhia já oferece, por 37 000 dólares, expedições para navios naufragados, como o Titanic (a 3 775 metros de profundidade, no norte do Atlântico) e o Bismarck (principal navio alemão da Segunda Guerra Mundial, hoje a 4 550 metros da superfície, ao oeste da França). No futuro, será possível ir para lugares ainda mais arriscados, como as Fossas Marianas, no Oceano Pacífico, a região mais profunda do planeta, a 11 quilômetros abaixo do nível do mar. “Cerca de 95% dos oceanos são desconhecidos, o que os torna um mercado promissor para o turismo”, afirma Scott Fitzsimmons, presidente da Deep Sea Voyages.
Passeie entre as crateras da Lua
N o filme O Vingador do Futuro, uma empresa vende pacotes de turismo virtual nos quais falsas lembranças das férias são diretamente implantadas no cérebro. Estamos ainda bem longe disso, mas, em 2003, milhões de pessoas poderão visitar virtualmente a Lua. Mais que isso: será possível dirigir equipamentos e mover pedras por lá. Nessa data está programado para chegar ao satélite da Terra um robô da empresa Lunacorp, equipado com câmaras, microfones e vários sensores. O objetivo da expedição é procurar gelo, mas a empresa pretende também usá-la como atração para parques temáticos. As informações que o robô enviar serão transmitidas para salas em diversas partes do globo, onde poltronas tecnológicas reproduzirão as imagens, os movimentos e até o ranger das rodas no solo lunar. “O cérebro, ao receber esses estímulos, acredita que realmente está lá”, afirma David Gump, presidente da Lunacorp.
Um programa permitirá que as pessoas recebam as imagens pela internet e votem no caminho que a máquina deve seguir. Por um preço extra, será possível tirar fotos de um ponto específico da Lua ou escolher uma pedra para o robô destruir com um disparo de raio laser. “A expedição acostumará as pessoas à experiência de viver no espaço”, diz Gump. Caso o plano dê certo, espera-se lançar outras sondas para percorrer os lugares por onde as missões da Nasa passaram – poderemos visitar virtualmente as pegadas de Neil Armstrong. Essa tecnologia será usada também para dar ao público a sensação de estar em outros lugares inóspitos, como em crateras de vulcões. Depois, recursos ainda mais avançados recriarão ambientes artificialmente, sem o auxílio de robôs. “A realidade virtual não fará com que as pessoas desistam de conhecer o lugar, mas certamente serão uma excelente atração em parques temáticos”, afirma Augusto Huescar.
Dentro de algumas décadas, aparecerão instalações capazes de fazer os turistas se sentirem em Paris na época da Revolução Francesa, na Palestina de Jesus Cristo ou em Ouro Preto no tempo da Inconfidência Mineira.
Entre em órbita
Ir para o espaço não é um sonho tão distante. “Esperamos que até 2003 haja foguetes comerciais capazes de levar gente para lá”, afirma Peter Diamandis, presidente da X Prize Foundation, organização que oferece 10 milhões de dólares à primeira empresa que construir uma nave espacial reutilizável. “Daqui a quinze anos será possível construir instalações turísticas na órbita da Terra”, afirma David Ashford, diretor da Bristol Spaceplanes, candidata ao prêmio. Apesar da previsão ser otimista (para outros especialistas precisaremos de, no mínimo, quarenta anos), é provável que muitos de nós um dia tiremos férias fora do planeta.
A possibilidade já existe: o bilionário americano Denis Tito pagou 20 milhões de dólares para viajar num foguete russo até a Estação Espacial Internacional, a 350 quilômetros de altitude (até o fechamento da revista, a decolagem estava marcada para 28 de abril, mas corria o risco de ser adiada por problemas técnicos). O pacote de Tito inclui seis meses de treinamento em gravidade zero e pressões fortíssimas, além de aulas de russo. Ashford prevê que até 2016 o custo da viagem cairá para 20 000 dólares e será necessária apenas uma semana de treinamento.
Enquanto isso, diversas empresas fazem esboços de acomodações espaciais. A rede de hotéis Hilton chegou a projetar um resort lunar, com 5 000 quartos. Infelizmente, a idéia foi abandonada. Mas, nas próximas décadas, é provável que surjam os primeiros hotéis em órbita. Eles teriam regiões com gravidade artificial (para tarefas como ir ao banheiro). Já as piscinas, sem gravidade, seriam feitas de enormes gotas de água flutuantes. “As pessoas desejam se hospedar no espaço para brincar em gravidade zero, ver a Terra de longe e depois contar para os amigos”, diz o arquiteto John Spencer, presidente da Space Tourism Society, que faz projetos de hotéis espaciais. Entre as atrações que se prevêem para esses estabelecimentos estão novos esportes, como corridas de foguete e jogos de futebol em três dimensões – seria possível correr para cima e para baixo, e não apenas para frente e para os lados. A falta de gravidade também permite que pessoas fiquem em posições impensáveis na Terra.
Seria possível, por exemplo, flutuar de ponta cabeça em cima da cama.“Casais em lua-de-mel estão entre o público-alvo”, diz Spencer.