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Rock Alternativo: Não, obrigado

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Atualizado em 31 out 2016, 18h50 - Publicado em 31 out 2004, 22h00

Texto Rodrigo Lariú

Se você já ouviu falar de bandas como Second Come, Beach Lizards, Squonks, A.S.S., Pin Ups, Killing Chainsaw, Sonic Disruptor, Tube Screamers, Mickey Junkies, Garage Fuzz, Low Dream, brincando de deus e Eddie, certamente foi sob a redutora e depreciativa égide das “bandas que cantam em inglês”. Verdadeiros outsiders na história do rock brasileiro em sua época, esses grupos são, isso sim, mártires que pagaram o pato para que existisse um circuito independente forte e organizado no Brasil. Gente que merece os louros de ter virado as costas para o hoje decadente mercado fonográfico “formal” e criado as bases de tudo o que se entende por alternativo no país.

Em fins de 1988, as referências musicais estavam mudando. Para os jovens de 18 ou 19 anos, o pós-punk inglês já tinha dado o recado. The Cure, The Smiths, The Police e New Order já haviam sido triturados e reprocessados pelo rock brasileiro da década – este também em curva descendente. A novidade na ponta das agulhas dos toca-discos eram os desdobramentos da cena inglesa gerados pela chamada “turma de 86”, que misturava a psicodelia dos anos 60 com guitarras distorcidas. Jesus & Mary Chain, My Bloody Valentine, Spacemen 3, Loop e Primal Scream pareciam bem mais excitantes do que os cabelos desgrenhados de Robert Smith balançando ao som de “Boys Don’t Cry” nos programas da TV Globo.

O rock brasileiro que havia estourado no começo da década de 80 chegara a uma entressafra em 1988 e 1989. Para muitos aficionados em música, o rock que tocava nas rádios e no programa do Chacrinha já havia se vendido e se adaptado. Ao mesmo tempo, bandas contemporâneas com uma proposta menos comercial, como Black Future, Harry, Fellini, Vzyadoq Moe, Picassos Falsos, Maria Angélica, Nau, Muzak, Eterno Grito e 3 Hombres, tinham dado de cara com a frustração. Seus discos vendiam pouco e as músicas não tocavam nas rádios. A sensação era de que o rock brasileiro falhara ao tentar criar a base para uma cena auto-sustentável. Para as bandas que viriam a seguir, virar as costas para o Brasil era o caminho natural.

Talvez a mais importante banda dessa cena outsider tenha sido a paulistana Pin Ups, a primeira a gravar um disco, Time Will Burn, de 1990. Ao vivo, a banda era ainda mais potente: subia ao palco com pressa, tocava absurdamente alto e fazia shows curtos. Sempre muito relacionada a Jesus & Mary Chain, Pin Ups emulava o comportamento que ocupava as manchetes britânicas e os aparelhos de som de uma pequena parcela de amantes de música nova no Brasil.

Outra banda que conseguiu alguma projeção no começo dos 90 foi a carioca Second Come. Com dois integrantes vindos de um projeto chamado Eterno Grito, a banda decidiu abandonar o português como língua mãe “por uma questão de sonoridade”. Entenda-se nessa frase um total desprezo pela música que se fazia em português no Brasil e pelo pensamento que ela representava. Suas primeiras demos misturavam batidas do indie dance de Manchester com riffs de guitarra pesados. Enfrentando maior dificuldade do que o Pin Ups para achar uma gravadora que lançasse seu disco, o Second Come foi um dos grupos responsáveis pela criação de um mercado alternativo de fitas demo. Em seus shows, as demos eram vendidas às centenas. Lojas especializadas em todo o país começaram a comercializar uma fita com três, depois sete e no final dez músicas da banda. Mesmo vendendo muitas fitas, a banda só foi conseguir um contrato para lançar seu primeiro disco em 1991. You saiu pela loja/selo Rock It!, ironicamente criada por dois ícones da geração roqueira dos anos 80: Dado Villa-Lobos (da Legião Urbana) e André Muller (da Plebe Rude). O motivo era simples: as demos do Second Come vendiam mais do que muito disco nacional na loja da dupla. You saiu no mesmo ano, mas meses antes que Nevermind, do Nirvana. Mesmo assim, mais uma vez, uma banda brasileira era acusada de oportunismo. Para o Second Come, os jornais reservavam frases como “o menos é mais” e “são bons, mas cantam em inglês”. Vender 3 mil ou 5 mil discos e fazer shows para “apenas” 500 pessoas não era uma opção agradável para o mercado da época, principalmente para a EMI, que distribuía os discos da Rock It!.

O Killing Chainsaw, de Piracicaba, completava com as duas bandas anteriores a tríade dessa cena que despontou na virada para os anos 90. Uma noite em São Paulo, quando o etéreo Cocteau Twins se arrastava no palco de uma grande casa de shows, a poucos quilômetros dali, no minúsculo Espaço Retrô, o Killing Chainsaw demolia tudo. Sinal dos tempos: apesar do amadorismo e das dificuldades, os pioneiros dessa fase do rock independente brasileiro haviam atingido a maturidade criativa. Dentro de uma cena lembrada apenas como derivativa, todos que presenciaram essa noite em São Paulo chegaram à mesma conclusão: “Às vezes gostamos mais do nosso indie do que do indie que julgávamos intocável, como o do Cocteau Twins”. Dessa cena, foi a banda que mais tardou a lançar seu disco – o que ocorreu apenas em 1992, ganhando elogios até do baterista do Nirvana, David Grohl.

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Essas três bandas lançaram as sementes para que outras bandas independentes surgissem durante os anos 90. Low Dream, de Brasília, Mickey Junkies, de São Paulo, e mais tarde brincando de deus (assim mesmo, todo em minúsculas), de Salvador, apareceram para oficializar uma rede de fanzines, programas de rádio e lugares para shows que existem até hoje. Se atualmente temos um mercado de CDs independente, milhares de fanzines na internet e festivais de bandas alternativas, foi por causa dessas três bandas no começo dos anos 90. Foi com as cópias caseiras de seus trabalhos, em fitas TDK ou Basf despachadas para lojas em todo o país, que criaram o mercado independente. As majors Sony e Virgin, em meados dos anos 90, diziam que Raimundos e Little Quail foram contratados por causa de seus shows lotados e da vendagem de suas demos.

Enquanto a imprensa “oficial” os criticava por virar as costas para o mercado (se esquecendo que, àquela altura, o mercado não era uma opção), toda uma rede de zines e programas de rádio os elogiava. Essa dicotomia alimentou a distância entre o showbiz e a reciclagem que se promovia no underground. Uma renovação bem diferente do que imaginavam os saudosistas dos anos 80, a época de ouro (ouro no bolso, bem entendido). Os outsiders, que fizeram rock em inglês, podem não ter contribuído esteticamente para o futuro da música brasileira, mas o ideal que criaram, para a formação de um mercado independente, talvez seja um dos recados mais importantes já dados em toda a década de 80.

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1990

Janeiro

• A MTV norte-americana põe no ar pela primeira vez o programa Acústico, com a banda Squeeze.

• É inaugurado o primeiro McDonald’s na Rússia.

Fevereiro

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• Mike Tyson encara sua primeira derrota para James “Buster” Douglas.

Março

• Fernando Collor assume a Presidência do Brasil.

• Mikhail Gorbachev torna-se o primeiro presidente da União Soviética.

• O filme Uma Linda Mulher estréia nos Estados Unidos.

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Julho

• Morre Cazuza, vítima da aids, aos 32 anos.

• Estréia o filme Ghost.

Agosto

• Morre o guitarrista de blues Stevie Ray Vaughan.

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Outubro

• Estréia a MTV Brasil com o clipe de Marina Lima Garota de Ipanema.

• Gorbachev recebe o Nobel da Paz, graças a seu trabalho pelo fim da Guerra Fria.

Novembro

• A dupla Milli Vanilli admite, em entrevista coletiva, que dubla suas canções.

• A primeira página da web é escrita.

1991

Janeiro

• Começa a Guerra do Golfo.

• É realizado o segundo Rock in Rio, no Estádio do Maracanã.

Março

• Morre o ícone do pop francês Serge Gainsbourg.

Setembro

• O grupo de Seattle Nirvana lança Nevermind, que transformou o rock alternativo em moda.

• Morre Miles Davis.

Novembro

• Morre o vocalista do Queen, Freddie Mercury, vítima da aids.

• Michael Jackson assina um contrato de 1 bilhão de dólares com a Sony Music.

Dezembro

• Em reunião histórica no parlamento russo, é dissolvida a União Soviética.

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