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Sorrisos de silício

John Nelson contacomo foi fazer metade do filme Eu, Robô em computador

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h48 - Publicado em 30 nov 2004, 22h00

Os robôs também choram. Pelo menos no ano de 2035 e nas mãos de John Nelson. Vencedor do Oscar por Gladiador, o especialista em efeitos especiais embarcou na produção de Eu, Robô com um desafio: dar credibilidade às emoções do robô Sonny, o protagonista da história. Mais: seu departamento teve de criar aquele mundo onde os títeres de aço estão em todos os cantos, plenamente integrados à sociedade.

Nelson contou com a ajuda de centenas de profissionais de várias companhias de efeitos especiais, entre elas a Digital Domain (Titanic) e a WETA Digital (Senhor dos Anéis), e de novas tecnologias, como a revolucionária Encodacam. Foram oito meses de trabalho, que resultaram em 1080 cenas geradas por computador – quase metade do filme. “O que conseguimos fazer foi bastante inovador”, disse Nelson em Londres à Sapiens. Quem viu Eu, Robô garante: o esforço não foi em vão.

Como você deu emoção ao robô Sonny?

Começamos com a mesma técnica usada em O Senhor dos Anéis para criar o monstro Gollum: vestimos um ator com uma roupa cheia de sensores que captavam seus movimentos. Para fazer as expressões de Sonny, usamos duas câmeras que captavam só os movimentos do rosto do ator. Com essas imagens, os animadores tinham uma idéia exata, em 3D, dessas expressões. E as desenharam quadro a quadro. Outro desafio foi fazer com que as partes internas do robô ficassem visíveis por baixo do rosto de Sonny. Conseguimos isso usando 17 camadas de gráficos em cada robô para controlar elementos como o brilho e a transparência. Para chegar à luz perfeita, substituímos o ator por um boneco e filmamos a cena de novo. Assim, tínhamos a referência de como iluminar Sonny na hora de gerar imagens pelo computador.

Robôs com mais emoção era algo que faltava nos filmes de ficção científica?

Sim. Foi esse o ponto em que tentamos nos diferenciar. A indústria do cinema está sempre dando passos à frente. Foi o que fizemos em Eu, Robô. Também temos uma boa história, e é isso que faz um filme ser bom. Os filmes ainda são sobre histórias e personagens. Ainda gosto, por exemplo, de Exterminador do Futuro I e II, por mais que seus efeitos especiais já estejam ultrapassados.

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Que efeito foi mais difícil: recriar o coliseu de Gladiador ou a Chicago de 2035 em Eu, Robô?

Eu, Robô foi mais difícil, porque o filme tem mais efeitos. Adicionamos literalmente mais de mil cenas geradas por computador. Criamos sets inteiros digitalizados, lutas complexas no computador e tivemos um robô falante e cheio de emoção, o que foi a parte mais difícil. Você pode fazer tudo ter um visual apropriado, ser fotorealista e se encaixar perfeitamente com os outros elementos do filme, mas se em cima de tudo isso você ainda tem de fazer com que suas criações sejam emotivas, isso é muito, muito mais difícil.

O que ainda é impossível de reproduzir com efeitos especiais?

Nada. Você pode fazer o que quiser. Qualquer coisa é possível. Mas as verdadeiras perguntas são: o que é bobo e o que não é? O que faz sentido ser criado? O que vai ser intrigante no resultado final? O que é bacana?

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Qual o próximo passo dos efeitos especiais?

Um realismo mais sutil e harmônico. A indústria vai continuar à procura de novos caminhos pra mostrar coisas diferentes com efeitos que, além de serem espetaculares, complementem os personagens e as histórias. O importante é que os efeitos não sejam gratuitos, feitos só para mostrar o quanto a tecnologia evoluiu. Temos que saber como usar o nosso potencial. Esse vai ser um grande desafio para os roteiristas e diretores.

Mas a tecnologia, sozinha, não acaba levando mais público ao cinema?

Acredito que vamos ao cinema porque somos seres humanos e queremos ver filmes que reflitam a nossa condição humana. Algumas histórias – sobre bravura, amor, honra, “bem contra o mal“ – nunca saem de moda. Olhamos e nos sentimos melhor. Acho que os efeitos visuais têm de se encaixar nisso tudo. Têm de ser apenas mais uma ferramenta na arte de contar histórias. Uma ferramenta que dê mais emoção ao filme, que transforme o produto final em algo mais gostoso de ser apreciado. O espectador tem de se sentir em uma montanha-russa na Disneylândia. Caso contrário, parafraseando Shakespeare, os efeitos serão apenas um monte de som e fúria.

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Você esteve no Brasil para gravar Anaconda. Como foi a experiência?

Foi incrível! Ficamos na floresta amazônica por três semanas. Numa madrugada, a cobra mecânica que usamos começou a funcionar sozinha. Foi uma gritaria. Jennifer Lopez estava em um trailer perto e entrou em pânico. A cobra começou a destruir o set sozinha!

John Nelson: Especialista em efeitos especiais

Entrevistado por: Juliano Zappia

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Galpão vazio

John Nelson: “Na cena da linha de montagem de robôs, tem só um cara vestido de verde, fazendo de conta que é o robô, e o Will Smith. Os dois ficam andando em um imenso lugar vazio, que é o set de filmagem, também todo verde. Para facilitar cenas assim, criamos um programa chamado Encodacam, que permite visualizar uma versão dos sets virtuais na câmera mesmo, enquanto as cenas ainda estão sendo filmadas. Com ela, temos a noção exata do que vai acontecer quando os efeitos especiais estiverem prontos e conseguimos, por exemplo, saber a localização exata dos mil robôs virtuais desta cena. Daí o cameraman pode ver onde eles estarão, escolher os ângulos e melhorar a cena. Já o ator vê apenas um mundo verde que será preenchido pelos efeitos”.

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