Walter White era péssimo professor – e Gus Fring ensinava melhor que ele
Professor da Johns Hopkins analisou Breaking Bad à luz de teorias sobre educação
O gênio da química que acabou se tornando professor do colegial e terminou como produtor e traficante de metanfetaminas. A inteligência de Walter White é uma das suas características mais marcantes e logo de início os roteiristas de Breaking Bad deixam claro que ele é qualificado demais para dar aula na J. P. Wynne High School.
O professor Samuel Chambers, da Universidade Johns Hopkins, pensa o contrário. Por mais inteligente que White fosse, seu crime maior foi de ser um péssimo professor.
Chambers escreveu um artigo científico em que analisa os personagens de Breaking Bad segundo as teorias da educação do filósofo francês Jacques Rancière.
Na posição de aluno, é claro, fica Jesse Pinkman. Parceiro na produção de metanfetamina, ele chegou a ser estudante de Walter no colegial – e, é claro, reprovou. É a união de um professor derrotado e um aluno derrotado. Jesse é bem mais novo, perdido na vida e vê no sócio um mentor e até uma figura paterna.
Pena que, segundo Chambers, Walt desempenha esse papel muito mal. Desde o início da relação dos dois, White faz questão de manter uma relação de desigualdade entre os dois, destacando a sua própria inteligência perante uma suposta burrice de Jesse. “Desde o início e ao longo de toda a série, Jesse chama Walt de ‘Sr. White’ [como fazia na escola] e todas as exceções são intencionais e cheias de significado”, escreve o professor.
E não é só Pinkman que é colocado nessa situação – fazer os outros se sentirem burros é a forma como Walter impõe respeito.
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Assistindo à serie, Chambers percebeu uma outra figura que serve como educador para Jesse: Gus Fring, chefão do narcotráfico. E o triângulo Walt-Jesse-Gus se encaixa direitinho no modelo pedagógico de Rancière, em que existem dois tipos de professor: o que emancipa e o que invalida o aluno.
O pesquisador analisa a fundo o primeiro e os últimos episódios da quarta temporada no artigo, destacando como a relação de Walt e Jesse fica mais frágil conforme o professor diminui e desestimula a independência do aluno. Ao mesmo tempo, a aproximação de Jesse e Gus faz com que o garoto se sinta mais confiante e mais experiente.
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A diferença fica especialmente clara no episódio 9, quando Gus quer que Jesse produza a receita de metanfetamina de Walt para o cartel mexicano. Rivalizando com Gus, Walt se recusa, apesar dos pedidos de Jesse, que não se sente seguro para trabalhar sozinho. White responde como um sabe-tudo ofendido e menospreza o aprendiz. Pinkman, nervoso, segue com o plano, e escuta de Gus Fring um discurso estimulante: “Você consegue”.
Com isso, do ponto de vista pedagógico, Samuel Chambers conclui: “Apesar de ser um assassino cruel, assustador e sem dúvida frio, Gus prova ser um professor muito melhor que Walter. Apenas um professor ruim domina o aluno afirmando ter uma inteligência superior”.
Estudos à parte, os altos e baixos da relação entre Walt e Jesse contam muito para o sucesso de Breaking Bad. E quanto à pedagogia de Gus Fring… Bom, ela explodiu na cara dele.