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História

A história de Chernobyl, Fukushima e outros 4 acidentes nucleares

Ucrânia e Japão foram palco das maiores tragédias. Mas há um histórico de emissões de fumaça radioativa, vazamentos em massa e explosões.

por André Bernardo e Tiago Cordeiro Atualizado em 26 abr 2021, 15h34 - Publicado em 9 jan 2020 17h46

Chernobyl – O dia em que a Terra tremeu

Entenda o que causou o acidente nuclear mais grave da história e conheça os bastidores da série da HBO sobre o caso e seus protagonistas.

Texto: André Bernardo | Edição de arte: Estúdio Nono | Design: Andy Faria


No dia 29 de novembro de 2016, TVs do mundo inteiro noticiaram a inauguração da nova cúpula de segurança do reator 4 da usina nuclear de Chernobyl, distante 130 km de Kiev, a capital da Ucrânia. Apelidada de “Arca”, a redoma de aço mede 108 m de altura, 250 m de largura e 150 m de comprimento.

Orçada em US$ 1,7 bilhão, a Arca tem espaço para abrigar um prédio de 36 andares. Pesando 36 mil toneladas, o domo foi construído sobre o antigo sarcófago de concreto, com o objetivo de impedir novos vazamentos radioativos. Passados 30 anos, a antiga estrutura de contenção, erguida em volta do que sobrou do reator que explodiu na madrugada de 26 de abril de 1986, à 1h23min40, durante um teste de segurança, apresentava rachaduras e ameaçava ruir.

A nova cúpula foi projetada para durar 100 anos. “Até hoje, os russos custam a acreditar no que aconteceu. Para eles, seus reatores nucleares estavam entre os mais seguros do mundo”, afirma o escritor e jornalista britânico Adam Higginbotham, autor de Midnight in Chernobyl: The Untold Story of the World’s Greatest Nuclear Disaster. “A hipótese de explosão era algo ridículo, impensável. Foi esse excesso de confiança que nos levou ao maior desastre nuclear de todos os tempos.”

O roteirista americano Craig Mazin, de 48 anos, foi um dos telespectadores que, naquela noite de 2016, assistiram às imagens transmitidas da antiga república soviética. Em sua casa em Pasadena, na Califórnia, não parou mais de pensar no assunto: “Se você perguntar a qualquer um como o Titanic afundou ou como JFK morreu, todo mundo vai responder. Mas, e Chernobyl?”.

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Quando um dos quatro reatores da usina de Chernobyl voou pelos ares, lançando pedaços de grafite altamente radioativo sobre os arredores da usina e liberando uma nuvem tóxica, que se espalhou por 12 países da Europa e causou irreparáveis danos à saúde de seus habitantes, Mazin tinha acabado de completar 15 anos e cursava o ensino médio na Freehold High School, em Nova Jersey. Do que ele se lembrava? Praticamente nada.

Foi quando teve a ideia de escrever uma minissérie sobre o pior acidente nuclear da história. “Chernobyl é um misto de falha humana e erro de projeto. No início, a culpa foi atribuída os operadores. Passados alguns anos, o governo admitiu que uma falha no reator RBMK-1000 contribuiu”, explica Claudio Ubirajara Couto, da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN).

Últimos moradores

Daquela noite em diante, Craig Mazin aproveitou o tempo livre para pesquisar sobre Chernobyl. Viajou até a Ucrânia. Na zona de exclusão de 2,6 mil quilômetros quadrados criada ao redor da usina, visitou a cidade-fantasma de Pripyat e conversou com os últimos de seus 48 mil habitantes. Apesar do risco de contaminação, cerca de 150 pessoas, todas na casa dos 70 anos, ainda moram lá. São os chamados samosely. “A evacuação de Pripyat e de outros vilarejos vizinhos aconteceu somente 36 horas depois da explosão do reator”, afirma a física nuclear Emico Okuno, da Universidade de São Paulo (USP). “Pediram aos moradores que levassem apenas documentos, pertences e, por precaução, alguma comida. Disseram, também, que a evacuação seria temporária. Eles nunca mais voltaram.”

<strong>Os nazistas conduziram em Prypiat, em 1941, uma operação de extermínio de judeus.</strong>
Os nazistas conduziram em Prypiat, em 1941, uma operação de extermínio de judeus. (Mondadori Portfolio/Getty Images)

Um dos livros que Mazin leu para escrever a minissérie foi Vozes de Chernobyl – A História Oral do Desastre Nuclear, da bielorussa Svetlana Aleksiévitch. Resultado de 20 anos de pesquisas, o livro-reportagem levou a autora a visitar a região do acidente muitas vezes. Sempre que chegava à zona de exclusão, ouvia as mesmas recomendações: é proibido arrancar flores, sentar na relva ou beber água dos mananciais. Até os gatos, avisavam, deixaram de comer os ratos mortos. “A morte está por toda a parte”, descreve a autora.

Foi de Vozes de Chernobyl que Mazin tirou dois dos principais personagens: o bombeiro Vasily Ignatenko, de 25 anos, um dos primeiros a chegar à usina, e sua mulher, Lyudmilla, de 23. Naquele dia, Vasily não estava de plantão. Ele e a mulher viajariam para Bielorrússia, onde moravam os pais dele.

“No meio da noite, ouvi um barulho. Olhei pela janela. Ele me viu: ‘Há um incêndio na central. Volto logo’”, relata a viúva no livro. Vasily nunca voltou. Da usina, foi mandado direto para um hospital em Moscou, onde morreu 14 dias depois. Segundo dados oficiais do governo, Vasily Ignatenko é um dos 31 mortos no acidente nuclear de Chernobyl. Segundo estimativas extraoficiais, o número de mortos varia de 4 mil (segundo a Organização das Nações Unidas) a 100 mil (para o Greenpeace).

A própria Svetlana perdeu uma irmã, médica, e a mãe, professora, após a tragédia. Desconfia que as duas foram vítimas do acidente. Mas a inspiração para escrever o livro surgiu mesmo em 1988, quando recebeu um telefonema de Eduard Boríssovitch Korotkóv. Do outro lado da linha, um dos pilotos de helicóptero que sobrevoaram a usina, jogando uma mistura de boro, areia e chumbo sobre o reator em chamas, pediu a ela que fosse vê-lo depressa.

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“Tenho pouco tempo de vida e gostaria de contar o que sei”, adiantou. Alguns de seus colegas já tinham morrido. Outros, tirado a vida. Os pilotos ficaram conhecidos como “Falcões de Chernobyl”. Não fossem eles, a tragédia teria sido muito pior.

Acidentes anteriores

Mas, afinal, o que aconteceu em Chernobyl? Como um simples teste de rotina desencadeou a maior tragédia nuclear da história?

O reator 4 da usina foi desligado na madrugada de 26 de abril, para que os técnicos pudessem avaliar por quanto tempo as turbinas continuavam girando em caso de corte de energia elétrica. O mesmo teste havia sido realizado no ano anterior, e os resultados tinham sido insatisfatórios. Novos componentes haviam sido instalados e precisavam ser submetidos a um novo teste.

Acontece que os operadores cometeram erros graves. Desativaram o mecanismo de desligamento automático do reator e desativaram metade das oito bombas de refrigeração. Ao perceber o problema, tentaram conter o dano lançando gás xenônio para dentro do reator. Não funcionou. Inseriram então hastes com boro. Tampouco adiantou. As reações atômicas dentro do reator saíram de controle e parte da água do sistema evaporou subitamente, gerando uma pressão que soltou a placa de cobertura do reator, que pesava mais de mil toneladas.

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<strong>Após a evacuação da cidade, jatos de água foram usados para retirar a poeira radioativa.</strong>
Após a evacuação da cidade, jatos de água foram usados para retirar a poeira radioativa. (Igor Kostin/Getty Images)

Seguiram-se duas explosões, sendo que a segunda lançou o grafite aquecido, altamente radioativo, para fora da estrutura do reator. O núcleo fundiu e pegou fogo. Demoraria dias para o incêndio ser contido graças ao esforço de pessoas como os Falcões de Chernobyl.

A falha dos operadores não foi a única causa do acidente. “Aquela não foi a primeira vez que um reator RBMK-1000 apresentou falhas”, afirma o doutor em Física Nuclear Luís Antônio Albiac Terremoto, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN). “Antes de Chernobyl, houve dois acidentes semelhantes na antiga URSS: um na Rússia, em 1975, e outro na Lituânia, em 1983. No entanto, nada fizeram para corrigir essas falhas. O acidente de Chernobyl poderia ter sido tranquilamente evitado.”

No momento do acidente, a usina utilizava quatro reatores desse gênero, desenvolvidos três décadas antes e que, somados, geravam 10% da eletricidade consumida pela Ucrânia na época. Mas o modelo se tornava instável quando operava em baixas potências, porque o grafite passava a gerar calor excessivo, capaz de transformar a água do interior do reator em vapor submetido a alta pressão. Nos anos que se seguiram ao acidente, os reatores RB-MK foram submetidos a revisões de segurança. A Rússia utiliza poucos desses modelos, mas eles agora são mais estáveis.

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Fungos radioativos

Exibida entre 6 de maio e 3 de junho de 2019 pela HBO, a série Chernobyl arrancou aplausos até mesmo na Rússia. Poucos, verdade, mas arrancou. O político ucraniano Vladimir Medinsky é dos que elogiaram a produção. Seu pai, ainda vivo, foi um dos 600 mil “liquidadores” que, mesmo trabalhando em condições insalubres e sem roupas de proteção adequadas, evitaram o pior.

O ministro da Cultura do governo Putin, porém, não é regra. É exceção. Em geral, os russos não gostaram nada do que viram. Alegaram, em sua maioria, distorção dos fatos. Tanto que pretendem, eles mesmos, contar sua versão da história. A missão está a cargo do cineasta russo Aleksey Muradov que, em entrevista ao jornal mais lido da Rússia, o Komsomolskaya Pravda, declarou que o roteiro vai girar em torno do suposto envolvimento de espiões da agência de inteligência americana (CIA, na sigla em inglês) na tragédia. “Há uma teoria de que os americanos se infiltraram na usina de Chernobyl. Muitos historiadores não descartam a possibilidade de que, no dia da explosão, um agente dos serviços de inteligência do inimigo estivesse na estação”, discorreu o diretor.

<strong>Cena da série da HBO retrata as incursões com helicópteros que lançavam areia sobre o reator.</strong>
Cena da série da HBO retrata as incursões com helicópteros que lançavam areia sobre o reator. (HBO/Getty Images)

“A KGB chegou a investigar a hipótese de atentado terrorista, mas nada descobriu”, afirma o historiador Serhii Plokhii, da Universidade de Harvard, e autor do livro Chernobyl – The History of a Nuclear Catastrophe (ainda inédito no Brasil). A verdade é que tentar jogar a culpa em espiões americanos não faz o menor sentido. “A suspeita de que há envolvimento da CIA no acidente tem mais a ver com a atmosfera política da Rússia de 2019 do que com a da antiga União Soviética de 1986”, diz ele.

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A vida na região foi transformada pela tragédia. Em 2008, um grupo de pesquisadores identificou 37 espécies mutantes se desenvolvendo em Chernobyl, incluindo um fungo que se especializou em se alimentar de materiais contaminados. Apesar de todos os riscos, milhares de pessoas fazem turismo em Prypiat; só em 2019, a área já recebeu mais de 85 mil visitantes – que podem, inclusive, entrar na sala de controle onde tudo deu errado. É preciso ser maior de 18 anos e não se pode permanecer na sala por mais do que cinco minutos.

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Fukushima – Tragédia em três atos

Entenda como o erro humano, potencializado por um tsunâmi, transformou o desastre de Fukushima, de 2011, no mais grave acidente nuclear desde Chernobyl.

Texto: André Bernardo | Edição de arte: Estúdio Nono | Design: Andy Faria


Os relógios de Tóquio marcavam 14h46 do dia 11 de março de 2011 quando um terremoto de 9,1 graus na escala Richter, o mais devastador já registrado no Japão, virou o nordeste da ilha de cabeça para baixo. “Um abalo sísmico dessas proporções equivale à explosão de 193 milhões de toneladas de TNT”, estima o físico Luís Antônio Albiac Terremoto, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN). Sirenes ecoaram por toda a região de Tohoku, uma das mais castigadas pelo tremor. Muitas famílias pegaram seus pertences, deixaram suas casas e fugiram dali. Outras preferiram ignorar o alerta de tsunâmi. “O pior já passou”, pensaram. Estavam enganados.

Quarenta minutos depois, uma onda de 15 metros destruiu o que encontrou pelo caminho e, segundo estimativas conservadoras, deixou um rastro de 15.800 mortos, 2.500 desaparecidos e 400 mil casas e prédios destruídos. Mas o pesadelo ainda não tinha terminado.

De desastrosa, a situação tornou-se catastrófica quando o terremoto destruiu a rede elétrica e derrubou as linhas de energia que mantinham ligado o circuito de refrigeração dos seis reatores da central nuclear Fukushima Daiichi. Dentro de gigantescas câmaras de concreto, o combustível nuclear fica mergulhado em tanques, que ajudam a reduzir o calor no núcleo dos reatores.

Em caso de apagão, as usinas possuem um segundo sistema de refrigeração, movido por geradores a óleo diesel. Em Fukushima, eles estavam a 10 m acima do nível do mar e entraram em colapso depois de serem atingidos pelo tsunâmi. Para piorar, as baterias usadas para substituir os geradores se esgotaram em poucas horas e as bombas que coletavam água do mar ficaram inoperantes. “Os geradores a diesel deixaram de funcionar. Isso afetou, além do sistema de refrigeração, o controle dos reatores 1, 2 e 3”, explica o físico Ivan Salati, da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

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Sem ter como resfriar o combustível nuclear, a temperatura da água que envolvia o urânio aumentou tanto (possivelmente alcançou os 1.800 ºC) que começou a evaporar. A pressão na parte superior das câmaras de contenção causou explosões de hidrogênio que derreteram três dos seis reatores. O acidente se tornou inevitável.

As usinas 1, 2 e 3 de Fukushima vazaram material radioativo. “O acidente foi uma combinação de erro humano, falha técnica e desastre natural”, descreve o físico Edwin Lyman, autor de Fukushima: The Story of a Nuclear Disaster (2014) e diretor da Union of Concerned Scientists (UCS). “Quando o pessoal da central se deu conta do que havia acontecido, já era tarde demais.”

“Samurais atômicos”

Quando indagado sobre o fatídico 11 de março de 2011, o engenheiro nuclear Masao Yoshida, que dirigia a usina nuclear por ocasião do acidente, costumava citar a Batalha de Iwo Jima, a mais sangrenta da Guerra do Pacífico, em 1945. Tal e qual o general Tadamichi Kuribayashi, designado para liderar 22 mil soldados contra a invasão de 110 mil fuzileiros navais americanos, Yoshida arriscou sua vida para defender Fukushima e minimizar os prejuízos causados por explosões, incêndios e vazamentos. Na época, contrariou a recomendação da Tokyo Eletric Power (Tepco), a empresa responsável pela usina, que, por causa do aumento dos índices de radiação, mandou os 800 operários da central bater em retirada.

Yoshida permaneceu em seu posto de comando para ajudar a controlar a situação. Ou, pelo menos, tentar. Munidos de tanques de oxigênio, os 50 operários de Fukushima usavam roupas de chumbo, enganavam a fome com água e biscoito e enfrentaram uma radiação estimada de 250 mSv (milisieverts; uma tomografia de corpo inteiro não emite mais do que 10 mSv). Mas Yoshida não lutou sozinho. Fazia parte de um exército de 300 homens que, entre técnicos, engenheiros e voluntários, se revezavam na tentativa de resfriar os reatores superaquecidos das usinas 1, 2 e 3, impedindo seu derretimento e, pior, o vazamento de material radioativo.

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<strong>Oito anos após o acidente, a região ainda é monitorada de perto.</strong>
Oito anos após o acidente, a região ainda é monitorada de perto. (Pallava Bagla/Getty Images)

Por seu ato de bravura, eles ganharam status de heróis. Foram apelidados de “Os 50 sem rosto” pelo The New York Times e chegaram a ser recebidos pelo primeiro-ministro japonês, Yoshihiko Noda, em 2012.

“O trabalho deles foi muito importante. Sem os 50 de Fukushima, o índice de derretimento dos núcleos das três usinas teria sido consideravelmente maior e, consequentemente, a probabilidade de escape de uma quantidade ainda maior de material radioativo para o meio ambiente teria sido mais elevada”, afirma Luís Antônio Terremoto, do IPEN.

Dois anos e quatro meses depois do acidente, em julho de 2013, Yoshida morreu, aos 58 anos, vítima de câncer no esôfago, possivelmente resultado do contato com radiação. Se depender do cineasta Wakamatsu Setsuro, seu heroísmo não será esquecido. Ele está por trás da transposição do livro On the Brink: The Inside Story of Fukushima Daiichi (2012), de Ryusho Kadota, para os cinemas. “Embora seu heroísmo não tenha impedido o derretimento dos reatores, os 50 de Fukushima merecem crédito por ter evitado o pior”, pondera Lyman.

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“Mas a segurança de uma usina não deve depender dos trabalhadores que arriscam suas vidas. É preciso que haja um planejamento maior para que, mesmo sob condições adversas, a segurança não seja colocada em risco.”

Refugiados em casa

O acidente desenterrou um neologismo que andava sumido do vocabulário japonês: hibakusha. Criado por ocasião dos bombardeios contra Hiroshima e Nagasaki, em 1945, para designar “os sobreviventes da bomba atômica”, o termo, hoje, é usado para identificar os antigos moradores de cidadelas próximas à central de Fukushima, como Namie, Iitate e Futaba. “No dia do acidente, o governo ordenou que residentes em uma área de 3 km ao redor da usina deixassem suas casas. No dia seguinte, a zona de evacuação foi ampliada para 20 km e, 72 horas depois, para 30 km. Ao todo, 160 mil pessoas deixaram suas casas”, relata a física nuclear Emico Okuno, da Universidade de São Paulo (USP).

Passados oito anos, muitas famílias ainda vivem em alojamentos temporários. São refugiados em seu próprio país. Minamisoma é uma das muitas cidades assombradas pelo fantasma da radiação. Situada a 25 km da central de Fukushima, ganhou visibilidade depois que um de seus 71 mil habitantes se recusou a obedecer ao plano de evacuação do governo. Em vez de fugir para um abrigo improvisado, o escritor e tradutor Takashi Sasaki, de 72 anos, preferiu ficar em casa, cuidando da esposa, Yoshiko, portadora de Alzheimer. Não satisfeito, ele criou um blog e publicou um livro, Fukushima: Living the Disaster (2013). “Seguimos com nossas vidas biológicas, mas nos roubaram nossas vidas biográficas”, escreveu Sasaki, parafraseando um de seus autores favoritos, o espanhol Miguel de Unamuno.

<strong>Semanas após o incidente, o sol se põe sobre a cidade vazia de Minamisoma, onde um único morador se recusou a ir embora.</strong>
Semanas após o incidente, o sol se põe sobre a cidade vazia de Minamisoma, onde um único morador se recusou a ir embora. (Air Rabbit/Getty Images)

Em 2012, o físico Johnny Ferraz Dias, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), visitou algumas das cidades-fantasma próximas à Fukushima. Lá, coletou amostras para análise e mediu o índice de radiação. “O que mais me impressionou foi a atmosfera de tristeza. As casas estavam abandonadas, mas era possível entrar nelas. Dava para ver que seus moradores tiveram que sair às pressas. Não acredito que essas cidades voltem a ser habitadas em um curto ou médio espaço de tempo”, relata o físico. Sasaki morreu em 2018, vítima de câncer no pulmão.

Zona de perigo

Nem falha técnica, nem desastre natural. A conclusão a que chegou um comitê de peritos formado em setembro de 2011 pela Câmara Baixa do Japão, o equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil, para investigar o acidente nuclear de Fukushima foi “catástrofe de origem humana”.

Formada por dez cientistas de diferentes áreas e sem vínculos com o governo, a comissão, liderada pelo médico Kiyoshi Kurokawa, da Universidade de Tóquio, analisou documentos, ouviu 1.167 testemunhas – entre elas o ex-primeiro-ministro Naoto Kan, que renunciou ao cargo em agosto de 2011 – e constatou que as autoridades responsáveis e os gestores da usina não fizeram o suficiente para prevenir a tragédia.

O relatório de 641 páginas, entregue ao líder do Parlamento japonês, Takahiro Yokomichi, em 2012, diz ainda que a catástrofe “poderia ter sido evitada”. A empresa que operava Fukushima sabia, desde 2006, do perigo de um apagão em caso de tsunâmi e da chance de danos aos reatores.

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Tem mais: um relatório da própria Tepco, de 2008, já alertava que, caso ocorresse um terremoto de magnitude 8 perto da costa, a central poderia ser atingida por uma onda de mais de 15 m.

<strong>A destruição da usina nuclear de Fukushima, fotografada por um satélite, três dias depois do tsunâmi.</strong>
A destruição da usina nuclear de Fukushima, fotografada por um satélite, três dias depois do tsunâmi. (DigitalGlobe/Getty Images)

O projeto original da usina, que começou a operar em 1971, previa ondas de até 5,7 m. “Algumas medidas de prevenção poderiam ter sido tomadas, como a construção de uma barreira de proteção contra tsunâmi maior do que a existente na usina e a localização dos geradores a diesel de emergência em lugares mais elevados ou, ainda, em edifícios protegidos contra alagamentos”, aponta Claudio Almeida, da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN). Em 2017, três ex-diretores da empresa – o então presidente, Tsunehisa Katsumata, de 77 anos, e os ex-vice-presidentes Ichiro Takekuro, de 71, e Sakae Muto, de 67 – foram a julgamento acusados da morte de 44 pacientes de um hospital em Futaba, a 3 km da usina, que tiveram que evacuar a unidade às pressas por causa do risco de contaminação. Os três, que se declararam inocentes, cumprem pena de cinco anos de prisão.

Inimigo invisível

O fantasma de Fukushima voltou a assombrar o povo japonês em fevereiro de 2017, quando a Tepco registrou um nível recorde de radiação no reator de número dois: 530 Sv por hora. A título de comparação, a medição anterior, de 2012, tinha registrado 73 Sv. “Essa dose é extremamente alta e um indivíduo exposto a uma radioatividade desse nível certamente morreria na hora”, alerta Johnny Ferraz Dias, da UFRGS.

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Como os índices de radiação são mais altos do que qualquer humano conseguiria suportar, a empresa enviou um robô, guiado por controle remoto, para examinar o interior da usina. Projetado para suportar uma exposição de até 1 mil Sv, o robô teve que ser retirado às pressas antes de completar a missão: uma radiação estimada de 650 Sv por hora causou avarias.

Oito anos depois do acidente de Fukushima, a maior operação de descontaminação nuclear da história não tem prazo para terminar. Ao contrário da União Soviética, que cobriu a usina de Chernobyl com uma redoma de concreto, o Japão decidiu desmantelar Fukushima. A desativação deve durar 40 anos, a um custo de US$ 192,5 bilhões. Em reação ao incidente, o governo decidiu desativar todas as usinas nucleares em operação. Nos últimos anos, algumas poucas foram reabertas: atualmente estão ativos apenas nove dos 42 reatores funcionais do país.

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O brilho da morte

O acidente mais grave do Brasil matou quatro.

Dezenove gramas. Essa é a quantidade de Césio-137 encontrada por dois catadores de lixo de Goiânia (GO) em um aparelho de radioterapia dentro de uma clínica abandonada, no dia 13 de setembro de 1987. O maior acidente radioativo já registrado no Brasil – e o maior do mundo fora de uma usina nuclear – teve início quando Wagner Mota Pereira, de 19 anos, e Roberto Santos Alves, de 21, levaram o aparelho para casa.

Cinco dias depois, venderam o equipamento para o dono de um ferro-velho, Devair Alves Ferreira, de 37 anos, que pediu a dois de seus funcionários, Israel Batista dos Santos, de 20 anos, e Admílson Alves de Souza, de 18, que o desmontassem. Dentro do cilindro comprado como sucata, uma substância que reluzia no escuro. Encantado com aquele pó reluzente, Devair distribuiu fragmentos de presente para amigos e familiares. A primeira vítima fatal foi Leide das Neves Ferreira, de 6 anos. Sobrinha de Devair, ela chegou a ingerir partículas de césio. A mulher do dono do ferro-velho, Maria Gabriela, de 37 anos, também não resistiu.

<strong>Seis mil toneladas de lixo radioativo, entre roupas, objetos e móveis, foram levadas até Abadia de Goiás.</strong>
Seis mil toneladas de lixo radioativo, entre roupas, objetos e móveis, foram levadas até Abadia de Goiás. (Divulgação/Reprodução)

Os dois funcionários de Devair também sucumbiram à radiação, mas Wagner e Roberto sobreviveram. Wagner virou pastor evangélico e mora em Anápolis, a 48 km de Goiânia. Já Roberto trabalha em uma loja de autopeças e vive no Jardim Europa, em São Paulo. Com quadro de depressão e dependência química, Devair morreu em 1994, de cirrose hepática.

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O ferro-velho foi demolido. Dezenas de casas da vizinhança também. Seis mil toneladas de lixo radioativo, entre roupas, objetos e móveis, foram levadas até Abadia de Goiás, a 23 km da capital, onde ficaram enterradas em dois contêineres de concreto, com 60 m de comprimento, 18 de largura e 8 de altura.
“As crianças e os adolescentes tiveram que abandonar os estudos, foram separados dos pais e perderam os amigos que tinham”, relata a psicóloga Suzana Helou, autora de Os Bastidores do Césio-137 (2017).

Em 1992, os responsáveis pela clínica foram condenados a três anos e dois meses de detenção por homicídio culposo. Apenas um ano depois, a pena foi reduzida a serviços comunitários. Até hoje, o governo de Goiás paga pensão vitalícia às vítimas do Césio-137. O motorista aposentado Odesson Alves Ferreira, de 64 anos, é um deles. Irmão de Devair, ele perdeu a palma da mão esquerda e parte do indicador direito. “Perdi tudo. O preconceito me impedia de viver em sociedade”, recorda o ex-presidente da Associação de Vítimas do Césio-137.

“O acidente com o Césio-137 ainda não caiu no esquecimento, mas caminha para isso”, alerta Célia Helena Vasconcelos, da Universidade Federal de Goiás (UFG), autora do livro Césio-137, Trinta Anos Depois (2017).

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Mayak – Rotina de acidentes

De 1949 a 2017, o Complexo Mayak acumulou catástrofes, do despejo de material radioativo num rio a explosões de reatores. Ainda assim, o local continua na ativa.

Texto: Tiago Cordeiro | Edição de arte: Estúdio Nono | Design: Andy Faria


O governo russo nega. Mas um estudo de agosto de 2019 aponta o dedo na direção do Complexo de Mayak. Liderados por John Seinfeld, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, 67 pesquisadores concluíram que um vazamento massivo de rutênio, ocorrido em 2017 e que atingiu toda a faixa que vai da Finlândia à Grécia, passando por Suíça e Itália, só pode ter partido da instalação russa. Não é a primeira vez que um elemento radioativo vaza do local. Na verdade, desde 1949, Mayak é cenário de vazamentos e explosões – a mais grave em 1957.

A usina foi construída a mando de Josef Stalin, que em 1945 determinou que 40 mil prisioneiros da Segunda Guerra fossem enviados para a obra em Chelyabinsk, 1.500 km ao sudeste de Moscou. Quatro anos depois, o sistema de armazenamento de resíduos estava lotado. Os gestores da usina passaram a lançar dejetos radioativos no rio Techa, onde nadavam e pescavam os mais de 100 mil moradores da região. Só a partir de 1956, cercas foram instaladas nas margens. E 10 mil das pessoas que viviam ao longo do Techa foram forçadas a se mudar, sem saber por quê.

<strong>O complexo foi construído por prisioneiros de guerra a partir de 1945.</strong>
O complexo foi construído por prisioneiros de guerra a partir de 1945. (Divulgação/Reprodução)

Aliás, foi sempre negando informações que o governo russo transformou a região em uma das mais radioativas do planeta. A explosão de 1957, por exemplo, só se tornou pública para o mundo em 1976 e para os russos ao final dos anos 1980.

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Depósito aquecido

Construído para fabricar plutônio-239, usado para construir bombas atômicas, o complexo mantinha seis reatores. Em 29 de setembro de 1957, um dos tanques subterrâneos onde eram guardadas 70 toneladas de resíduos explodiu.

O sistema de resfriamento com base em água corrente parou de funcionar meses antes, ninguém percebeu e o material superaqueceu, lançando a tampa de concreto para longe. O material lançado pela explosão atingiu uma área estimada em 52 mil quilômetros quadrados, onde viviam 270 mil pessoas. Era o maior acidente radioativo da história até então, e permaneceu no topo do pódio até os anos 1980. Só seria superado por Chernobyl e Fukushima. Parte das vítimas foi retirada de casa, do dia para a noite, sem aviso prévio – um procedimento que seria repetido quase 30 anos depois, em Chernobyl.

Uma das vilas mais próximas da usina, Satlykovo, virou uma cidade radioativa abandonada. Estava dentro da área de exclusão que passou a ser monitorada constantemente, e de forma sigilosa, por pesquisadores que descobriram que muitos dos moradores são vítimas de Síndrome Crônica da Radiação, um problema caracterizado pela exposição a baixos níveis de radiação, mas ao longo de muito tempo. São pessoas com anemia, problemas digestivos e imunológicos, dores nos ossos e falhas musculares. O acompanhamento continua, em especial junto à comunidade de Muslyumovo, que nunca foi evacuada (possivelmente porque os moradores são da etnia asiática Bashkir, discriminada pela maioria dos russos). Seus moradores estão na quarta geração de pessoas expostas à radiação diariamente.

Rio radioativo

Em 1967, boa parte do lago Karachay secou no verão e a poeira radioativa das margens formou uma nuvem tóxica quase tão perigosa quanto a formada pela explosão de 1957. O incidente era o terceiro de grande porte, em apenas duas décadas de existência do complexo. Outros se seguiriam.

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Além do vazamento mais recente, há indícios de que, na virada do século 20 para o 21, funcionários da usina tenham sido orientados a despejar estrôncio-90 no rio Techa, ao longo do qual ainda vivem aproximadamente 4 mil pessoas. O CEO da usina à época, Vitaly Sadovnikov, foi condenado em 2006, mas posteriormente recebeu um indulto.

<strong>Contaminado desde 1949, o rio Techa é cercado, mas moradores entram nele.</strong>
Contaminado desde 1949, o rio Techa é cercado, mas moradores entram nele. (Divulgação/Reprodução)

Atualmente, o governo russo mantém uma zona de exclusão de 250 quilômetros quadrados no entorno de Mayak. A usina não produz mais plutônio, e seus reatores estão desativados. Oficialmente, é utilizado para produzir elementos radioativos usados em aparelhos médicos e no processamento de lixo nuclear.

Ao todo, desde a fundação do complexo, foram identificados 35 acidentes – quatro deles em um único ano, 1994. O incidente de 2017 deixa claro que o cuidado com os procedimentos de segurança continua tão escasso quanto há 70 anos.

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Fogo na fábrica

Incidente na Inglaterra espalhou fumaça radioativa.

O Reino Unido queria entrar para o clube nuclear, e tinha pressa. Com esse objetivo, no fim da década de 1940 construiu no condado de Cumbria, na fronteira com a Escócia, a fábrica de bombas Windscale. Adaptada para operar como uma usina de geração de eletricidade, capaz de reprocessar o plutônio utilizado no desenvolvimento de bombas, ela funcionava com capacidade máxima até que, em 10 de outubro de 1957, o núcleo do reator pegou fogo.

A fumaça radioativa provocou pelo menos 240 casos de câncer de tireoide. O governo britânico fez de tudo para evitar que as notícias vazassem. Por isso, não retirou os moradores da região. Apenas proibiu, por um mês, o consumo de leite das vacas locais. Os restos do reator queimado foram fechados dentro de silos. Estão lá ainda hoje, sem que ninguém tenha coragem de abrir as portas, com medo da radiação. O mar da região contém alto nível de radiação, possivelmente porque, nos primeiros anos de funcionamento de Windscale, parte dos resíduos foi lançada no mar.

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(Central Press/Getty Images)

Three Mile Island – Fim de uma era

O acidente da usina americana de Three Mile Island não foi grave. Mas deixou os americanos com a sensação de que a energia nuclear não era confiável.

Texto: Tiago Cordeiro | Edição de arte: Estúdio Nono | Design: Andy Faria


Olhando com frieza, o acidente da usina de Three Mile Island não parece grave. O vazamento foi contido, não houve nenhuma explosão, nem dano considerável ao meio ambiente, e o total de pessoas atingidas de alguma forma, na estimativa mais pessimista, não passa dos 333. Ainda assim, o caso mudou a trajetória das usinas americanas. Nenhuma permissão para a construção de novas instalações foi concedida desde aquele ano até 2012.

Muitos dos projetos que já haviam sido liberados foram engavetados e usinas funcionais acabaram fechadas antes de completar sua vida útil. Se em 1979 havia 177 usinas operacionais ou em construção, em 1998 o número havia caído para 112. Afinal, o que aconteceu de tão grave na madrugada de 28 de março de 1979?

O sistema de resfriamento de um dos reatores do local entrou em pane. Era um problema previsível, para o qual havia respostas automáticas: a turbina parou de funcionar e o vapor acumulado, não radioativo, foi liberado para a atmosfera. Os moradores da região ouviram naquela madrugada o equivalente ao som de uma chaleira gigantesca.

Com a pressão da água reduzida, era preciso enviar um outro tipo de fluido para controlar a temperatura. Mas a bomba que deveria enviá-lo estava em manutenção. Mesmo desligado, o reator começou a esquentar perigosamente, porque as reações atômicas continuariam ocorrendo por horas. Era o momento de os operadores agirem. Mas eles só pioraram o problema.

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Incidente exemplar

O painel da sala de controle da usina tinha mais de 1.200 luzes, e alguns dos comandos mais importantes ficavam mal posicionados. Diante de botões piscando e alertas sonoros, os quatro funcionários do turno da madrugada se viram perdidos, enquanto o reator continuava esquentando.

Para piorar o problema, um dos técnicos desligou o sistema de emergência antes do tempo. Resultado: as varetas de urânio ficaram expostas, derreteram a contaminaram a camada de água que havia sobrado no fundo do reator. Depois de muitas horas de tensão entre os técnicos, o problema só seria devidamente identificado e contido por volta das 15h.

<strong>Sem informações claras, os moradores temeram pelo pior.</strong>
Sem informações claras, os moradores temeram pelo pior. (Bettmann/Getty Images)

A usina havia sido inaugurada em 1974, com um reator. Um segundo, o que apresentou o problema, estava ativo fazia pouco tempo quando do acidente – entrou em operação completa em dezembro de 1978. Nunca mais funcionou. Já o reator mais antigo continuou operando, até ser desligado em setembro de 2019. Poderia continuar operando até 2034, mas os custos de manutenção falaram mais alto.

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Three Mile Island se tornou um caso exemplar de que a energia nuclear não era confiável. Os erros de projeto no painel e nos sistemas de segurança, a incapacidade do corpo técnico de lidar com o problema e a falta de informações claras para a população apavorada levantaram uma sombra sobre qualquer outra usina nuclear do país.

“Esse acidente mudou minha vida profissional”, diz Najmedin Meshkati, especialista em usinas nucleares e pesquisador da Universidade do Sul da Califórnia. “Eu era estudante de doutorado em engenharia industrial e resolvi dedicar minha carreira a entender por que incidentes como esse acontecem.”

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