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4 romances de cavalaria que explicam o que era este gênero literário

Todos os mitos sobre os heróis medievais nasceram com estas histórias.

Por Aretha Yarak
17 abr 2020, 09h36

Imagine a vida de um cavaleiro. Não um personagem histórico, mas o clichê da fantasia, dos filmes, jogos e desenhos animados. Você provavelmente pensou em coisas como vagar pela terra sozinho, ajudando os fracos e oprimidos, seguindo o mais rígido código de honra, secretamente apaixonado por uma princesa que, quem sabe, seja preciso salvar de um dragão, que também guarda um tesouro.

Na vida real, o dragão nem era a parte mais implausível: cavaleiros eram militares profissionais que lutavam em formações de centenas, e seu maior alvo eram fracos e oprimidos plebeus, armados geralmente com arcos. Na prática, seu código de honra era uma ligeira sugestão: estupros e pilhagens eram feitos mesmo pelos cavaleiros das ordens monásticas, que eram, para todos os fins, monges.

A imagem popular do cavaleiro não vem da realidade, mas dos romances de cavalaria e das canções de gesta, gêneros em prosa e verso que se tornaram populares após a Primeira Cruzada. Eram livros cheios de ação e romance, feitos para divertir e inspirar, e não davam a mínima para o realismo. Como aconteceu com muitas outras lendas, ninguém avisou os autores que a Idade Média havia acabado, e o gênero seguiu firme e forte pelo século 16, quando “cavaleiro” já era quase só um título, sem qualquer papel militar. Foi só com a sátira impiedosa de Cervantes, autor de Dom Quixote, em 1600, que a ficha caiu e eles saíram de moda.

A seguir, alguns dos personagens mais importantes nascidos da imaginação medieval. Tire as crianças da sala: diferente do estereótipo moderno, as relações entre cavaleiro e donzela frequentemente eram consumadas. Foi só em tempos recentes que adaptaram as lendas para gostos mais puritanos.

Orlando

França e outros países, 1115-1516

Desde a Espanha até a Noruega, dezenas de livros foram escritos sobre o legendário paladino de Carlos Magno, morto em combate com os mouros na Batalha de Roncesvales, em 778. Orlando seria o dono de Durendal, a espada mais afiada do mundo, feita com um dente de São Pedro, o sangue de São Basílio, o cabelo de São Denis e um pedaço da roupa da Virgem Maria. Com ela, enfrentou o gigante islâmico Ferrabrás (ou Ferraguto) e forçou-o a se converter ao cristianismo.

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Orlando: destruído pela própria trombeta. (Índio San/Superinteressante)

Também participou de torneios pela mão da princesa Angélica. Em sua batalha final, ele se recusa a chamar por reforços, até que, tarde demais, toca seu olifante — uma trombeta feita de marfim de elefante — com tanta força que estoura as veias da cabeça, morrendo sem combate.

Amadis de Gaula

Portugal, séc. 14

A autoria é portuguesa, com certeza, mas o personagem é estrangeiro. Filho de um rei da Gália e uma princesa da Bretanha, Amadis foi abandonado pelos pais e criado pela feiticeira Urganda. De volta ao reino, já adulto, enfrenta vários desafios, incluindo matar o gigante Endriago, coberto de escamas e cujo fedor é fatal.

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(Wikimedia Commons/Biblioteca Nacional de España/Domínio Público)

Com isso, consegue ser feito cavaleiro por seu próprio pai. Apaixonado pela princesa Oriana, da Inglaterra, fica louco após receber uma carta mal-educada da amada. Mais tarde, o casal consuma a relação, sexo antes do casamento – pelo qual ganha o ódio eterno do pai da ex-donzela. Amadis foge com Oriana e eles, tempos depois, se casam. Mas acaba morto por seu próprio filho, que vinga a “desonra” de ter nascido de mãe solteira.

Sir Eglamour

Inglaterra, 1350

Um cavaleiro pobre se apaixona pela filha de seu senhor, um barão feudal. O nobre diz que concorda com o casamento, desde que ele resolva três tarefas: primeiro, tirar um cervo de uma floresta tão distante que fica depois do paraíso celta, protegido por um gigante. Depois, matar um javali assassino que aterrorizava Sidon, no Líbano. Por fim, acabar com um dragão em Roma. Tudo isso ele resolve galantemente, mas, entre o javali e o dragão, já meio sem paciência, acaba deixando a princesa grávida.

Mãe e filho são banidos do reino, e acabam separados quando um grifo rouba a criança. Depois de muitas reviravoltas, que levam décadas e incluem a mãe casar com o filho (felizmente, sem consumar a relação), todo mundo acaba junto, e o filho casa com uma princesa prometida ao pai.

Frederik da Normandia

Suécia, 1308

O duque Frederik era um dos cavaleiros do rei Arthur. Um dia, ele sai para caçar e acaba perdido. Até que encontra o reino dos anões, dentro de uma montanha. O rei deles, Malmrit, enfrenta uma revolta, que o cavaleiro ajuda a controlar. Como prêmio, ele recebe um anel mágico, capaz de torná-lo invisível.

As semelhanças com O Senhor dos Anéis acabam aqui: usando o anel, o cavaleiro consegue o acesso a uma torre no castelo do rei da Irlanda, onde ele mantinha presa sua filha, Floria. Os dois têm um romance — consumadíssimo — e, após mover mundos e fundos, ele consegue levar a princesa para a Normandia, com um navio cheio de tesouros. E são felizes para sempre.

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