A diferença entre os sexos desaparece
Mulheres ganham terreno no mundo do esporte, mas têm contra si uma grande barreira: a Biologia favorece os homens
Eduardo Azevedo
Atenista inglesa Charlotte Cooper sabia que estava fazendo história quando subiu ao pódio, há exatos 100 anos, para receber a medalha de ouro nos Jogos de Paris-1900. Pela primeira vez, as Olimpíadas aceitavam mulheres, quebrando um tabu que durou 3 500 anos – desde as disputas exclusivamente masculinas da antiga Grécia.
De Charlotte a Martina Hingins, atual favorita para o ouro no tênis, a história olímpica registra um avanço arrebatador do número de mulheres (veja tabela abaixo). A participação feminina não pára de crescer, reflexo do que acontece na sociedade. Elas também estão bem mais à vontade para exibir o corpo. Enquanto Charlotte se preocupava em não descobrir os braços enquanto rebatia as bolas, em Sydney a musculosa americana Gail Devers saltará barreiras com um shortinho provocante de lycra colorida. Tanto para ela quanto para suas competidoras, atributos como graça, leveza e sensualidade são secundários. O que todo mundo quer é saber qual delas é a melhor. Quando o assunto é competitividade no esporte, a diferença entre os sexos desaparece.
Alguns cientistas americanos, assombrados com a rapidez com que as mulheres superavam seus recor-des, chegaram a supor que, um dia, elas se tornariam melhores que os homens. Engano. Os estudiosos do corpo humano acreditam hoje que a barreira biológica, ao contrário da social, é instransponível. A rapidez com que as atletas têm melhorado suas marcas seria simplesmente a recuperação do perdido com as décadas de discriminação sexual. “Como as mulheres entraram depois em várias modalidades, é natural que a aceleração delas na obtenção de novos recordes seja maior que a masculina”, afirma o fisiologista Tu-ríbio Leite de Barros, da Universidade Federal Paulista (Unifesp). “Só agora elas estão atingindo a maturidade esportiva”, completa. Isso quer dizer que, daqui para a frente, vai ser cada vez mais difícil para as mulheres conquistar novos recordes – fenômeno que já acontece com os homens em quase todas as modalidades olímpicas. Desse modo, as diferenças de desempenho tendem a se manter num patamar que não deixa dúvidas sobre a maior capacidade esportiva do organismo masculino.
Gostemos ou não, a desigualdade física é um fato. As mulheres têm menos glóbulos vermelhos, o que diminui a capacidade de transporte de oxigênio. Isso significa menos combustível para a corrida. Outro ponto importante é a biomecânica do corpo. A evolução dotou o sexo feminino de algumas características muito úteis na tarefa de gestar o bebê, como os quadris mais largos que os dos homens e o maior nível de gordura no corpo. Mas ninguém pode querer tudo. Os mesmos atributos que conferem graça e beleza às mulheres se tornam uma desvantagem na hora de brigar por frações de segundo numa corrida ou disputar um rebote no basquete.
De todas as armas do arsenal esportivo masculino, a mais poderosa, de longe, é a testosterona. Esse hormônio, que aparece em níveis muito altos no organismo do homem, funciona como um anabolizante natural, aumentando o desempenho do corpo. As mulheres também fabricam testosterona, mas em pequenas quantidades. “Não há como elas vencerem a diferença hormonal, a não se que injetem testosterona em si mesmas”, diz Turíbio. “Isso já aconteceu na história do esporte, deixando muitas atletas masculinizadas.” Que pena.