A flecha de fogo olímpico que voou sobre um estádio lotado… e errou o alvo
No ponto alto da cerimônia de abertura das Olimpíadas de Barcelona, em 1992, o arqueiro paralímpico espanhol Antonio Rebollo preparou sua flecha incandescente, apontou e...
Imagine-se nas arquibancadas do Maracanã para a noite de abertura da Rio 2016. Você está numa posição privilegiada, bem abaixo da pira olímpica, só esperando o clímax da festa: o momento de sentir o bafo da chama olímpica finalmente acesa em seu esplendor.
Depois de tanto fogo pra lá e pra cá no tour da tocha pelo Brasil-sil-sil, com direito a morte de animal silvestre, nudes em protesto, tropeções casuais e propositais, tentativas de apagamento, quebra de protocolo oficial e outras lambanças, a última tocha chega ao estádio. Um sujeito avisado duas horas antes, substituindo o Pelé e o Guga, recebe o fogo olímpico. Em uma flecha. Para dispará-la de uma distância de 30 metros em direção à pira. Sim aquela mais próxima de você. E erra o tiro…
Em Barcelona, 24 anos atrás, foi assim.
https://giphy.com/gifs/boss-olympic-torch-LXXdsc4oeAPPq
O arqueiro paralímpico espanhol Antonio Rebollo foi convocado com mais outros 200 candidatos para a missão de acender a pira olímpica com um disparo flamejante. Em segredo absoluto, a pirotecnia foi ensaiada por 10 meses nas noites catalãs, simulando várias condições de clima e de vento. Apenas quatro arqueiros sobraram e até duas horas antes da cerimônia de abertura, qualquer um deles poderia ser o escolhido.
O último portador da tocha, o jogador de basquete Juan Antonio Epifanio, tocou o fogo olímpico na ponta da flecha. Rebollo puxou a corda do arco com a mão direita e, a julgar por imagens oficiais, sentiu o fogo lamber-lhe a canhota. Ergueu bem alto a arma e disparou. A parábola foi perfeita e o fogo da pira brilhou apoteoticamente, inaugurando um dos Jogos Olímpicos mais celebrados até hoje.
O que aconteceu mesmo, mas que pouca gente sabe, é que Rebollo errou o tiro. Foi de propósito, verdade – uma prudente orientação dos organizadores das Olimpíadas para evitar qualquer acidente com uma flecha incandescente voando acima de milhares de espectadores. O tiro passou batido. Só que a seguranças de quem estava nos arredores do estádio não estava nada garantida, como mostram imagens de uma reportagem de TV veiculada na Catalunha em 1995:
Sobre como se deu o acendimento da pira, há controvérsias. A explicação mais aceita é a caseirona: a chama pegou automaticamente, tipo fogão de casa, acionada em sincronia com a passagem da flecha de fogo. Numa versão mais romântica, o gás exalado previamente pela pira teria entrado em combustão em contato com o fogo voador.
O que não faltam são imagens mostrando o que realmente aconteceu na memorável noite barcelonesa.
Até hoje, porém, o Comitê Olímpico Internacional (COI) esconde os detalhes mais quentes da história, como mostra o vídeo oficial do COI: