A icônica máscara de Tutancâmon pode ter sido feita para uma mulher
Professora sugere que as orelhas furadas no artefato podem indicar que ele não foi confeccionado para o jovem faraó.
Embora tenha reinado por apenas nove anos (de 1332 a.C. a 1323 a.C.), o faraó Tutancâmon se tornou um dos mais famosos líderes do Egito Antigo porque sua tumba, descoberta em 1922, é uma das mais preservadas encontradas até hoje. A máscara mortuária colocada em seu sarcófago, adornada com pedras preciosas, é um dos itens mais reconhecíveis daquele período histórico. Agora, alguns arqueólogos sugerem que ela pode esconder um segredo inesperado.
Um documentário do canal History Hit apresentado pela professora Joann Fletcher, da Universidade de York, sugere que a máscara do jovem faraó pode ter sido produzida originalmente para outra pessoa — uma mulher, mais especificamente. Isso seria indicado pelo fato de as orelhas da máscara serem furadas, característica associada a máscaras de mulheres e crianças. Como Tutancâmon morreu aos 19 ou 20 anos, ele já estaria velho demais para ser retratado assim.
“A pesquisa sugere que Tutancâmon não teria usado brincos além da infância, então aos 20 anos, quando morreu, ele não teria sido retratado com orelhas furadas”, diz a professora.
Outra evidência é que o ouro usado na múmia do faraó é diferente daquele usado na máscara, sugerindo que sua feição foi gravada em uma máscara pré-existente, feita para outra pessoa.
Não há dúvidas, porém, de que a feição na máscara é do próprio Tutancâmon, uma vez que essa era uma etapa essencial para o pós-vida egípcio, caso a alma do falecido precisasse reencontrar seu corpo para ser julgada por Anúbis, o deus do mundo dos mortos. A máscara original, portanto, teria tido seu rosto removido, com apenas as orelhas continuando no novo item.
O motivo do uso da máscara de outra pessoa, especulam os pesquisadores, seria o fato de que Tutancâmon teve um funeral apressado. Como o faraó morreu jovem, provavelmente sua morte não era esperada. A causa não é certa: especula-se que ele tenha morrido de malária ou então por complicações de uma infecção causada ao quebrar a perna em um acidente de carruagem (ele foi enterrado com a perna quebrada, inclusive). A falta de preparação para sua morte pode ter levado os encarregados a usarem uma máscara que já estava pronta, em vez de solicitar uma nova.
Mas se a máscara não foi feita para Tutancâmon, então para quem? Os pesquisadores acreditam que a candidata mais provável é a rainha Nefertiti, madrasta dele, que morreu antes do faraó em uma data desconhecida.
Há muitos mistérios acerca de Nefertiti, já que a tumba dela nunca foi encontrada — não se sabe com certeza, por exemplo, se ela própria governou como faraó por um breve período antes de Tutancâmon assumir. A teoria de que a máscara originalmente pertencia a ela foi sugerida pela primeira vez em 2015.
Outra candidata a dona da máscara é Neferneferuré, uma das filhas de Aquenáton (pai do faraó e marido de Nefertiti). Ela nunca recebeu um enterro real, portanto há chances de que seus objetos tenham sido reaproveitados para Tutancâmon no início de seu reinado. Talvez a própria tumba de Tutancâmon tenha sido feita para ela, já que é notavelmente pequena para um faraó. É provável que, originalmente, tivesse sido designada a um nobre, rainha ou princesa.
Mas essa teoria de que a máscara pode ter sido feita para uma mulher não é universalmente aceita. Em um artigo recente para o The Conversation, a doutoranda em arqueologia da Universidade de Bristol, Claire Isabella Gilmour, afirma que não há evidências para tal afirmação.
“Uma análise feita em 2015 pelo conservador de metais Christian Eckmann demonstrou que, embora a máscara fosse realmente feita em duas partes, esse era o modo normal como elas eram fabricadas. Eckmann não encontrou evidências de o rosto ter sido substituído”, disse ela. Gilmour também notou que outros reis, além de Tutancâmon, também tinham máscaras mortuárias com furos nas orelhas.
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