Um tiro na barriga revelou como funciona a digestão humana
Um paciente recebeu um tiro de mosquete e o disparo abriu um buraco na barriga que nunca mais cicatrizou
No dia 6 de junho de 1822, o cirurgião do Exército americano William Beaumont (1785-1853) foi chamado ao Forte Mackinac, em Michigan, nos Estados Unidos, para atender o caçador Alexis Martin. O paciente havia recebido um tiro de mosquete e o disparo tinha aberto um buraco na barriga que nunca mais cicatrizou.
Foi a sorte do médico: pela primeira vez alguém pôde ver o estômago humano trabalhando. Uma fina película se formou sobre o órgão, impedindo a água e o alimento de saírem. Deslocando-a, Beaumont podia introduzir pedaços de carne e de vegetais pelo orifício e observar a decomposição.
O ferimento foi acompanhado durante trinta anos, apesar de médico e doente não se estimarem muito. Mesmo difícil, essa relação mudou o conhecimento da fisiologia humana. Beaumont descobriu a importância do suco gástrico no processo digestivo e provou que ele só é produzido quando se começa a mastigar. Decifrou o caráter químico da digestão.