A Praga que ficou na Idade Média
Kutná Hora, Boêmia Central, República Tcheca. Rica em prata no passado, foi devastada por tragédias. Hoje é um resquício do apogeu tcheco
49,95° N 15,26° L
Kutná Hora cresceu graças a suas grandes minas de prata em uma época anterior às colônias da América. Com isso, estima-se que um terço da prata da Europa saía da cidade. O metal enriqueceu o antigo reino da Boêmia até o século 15, período em que a maioria dos prédios históricos da capital, Praga, foi construída. Assim, as minas ajudaram a forjar uma das mais lindas cidades do mundo – mas ela não reinava sozinha. Por três séculos, Kutná Hora foi uma rival à altura em importância cultural e econômica. Isso até os tempos de bonança acabarem, no século 16. A Boêmia foi anexada à poderosa Áustria, que reprimiu revoltas. A maior mina de prata foi destruída em uma inundação. Por fim, a peste, a Guerra dos Trinta Anos e um incêndio em 1770 acabaram com a cidade.
Pobre e largada, ela nunca voltou a ser o que era. Hoje na lista dos patrimônios da Unesco, Kutná Hora tem uma atmosfera sinistra: no outono, é possível andar pelas ruas sem cruzar com ninguém. E o que mais atrai visitantes à cidade, dominada pelo cheiro de tabaco de uma fábrica da Philip Morris, não é a catedral de Santa Bárbara e suas três torres em formato de lona de circo, mas o Ossuário de Sedlec. Nos tempos barra-pesada, morreu tanta gente que o cemitério não deu conta e o ossuário acumulou milhares de ossadas, largadas. Até que em 1870 um artesão decidiu fazer esculturas com os ossos. A atração reforça o clima lúgubre daqui. Dá frio na espinha. Sem multidões, sem vida cultural intensa, 500 anos de decadência pairam no ar numa beleza melancólica. É a cidade que poderia ser Praga. Mas não foi.
VÁ
Trens e ônibus cobrem diariamente a distância de 70 km de Praga. É comum fazer bate-e-volta, mas, se você tiver tempo, passe a noite na cidade.
QUANDO
Na melhor época para ir a Praga: longe da muvuca do verão e do frio do inverno.