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Conheça a primeira garota de Ipanema, Laura Alvim

Esqueça a Helô Pinheiro. Saiba mais sobre a primeira garota de Ipanema.

Por Alexandre Araújo
Atualizado em 12 jan 2018, 19h18 - Publicado em 31 Maio 2002, 22h00

Laura Alvim foi, literalmente, a primeira garota de Ipanema. Afinal, ela só tinha oito anos quando se mudou do Centro do Rio de Janeiro para morar num casarão em frente ao mar. Isso em 1910, quando Ipanema não passava de um areal imenso, sem iluminação, cercado aqui e ali por alguns cajueiros e pitangueiras.

Filha do médico Álvaro Alvim, pioneiro no uso dos raios-X no Brasil, e neta de Angelo Agostini, um dos maiores caricaturistas do Segundo Reinado, a menina irreverente cresceu cercada pela fina flor da intelectualidade da então capital da República. Passava horas devorando livros e poderia ter sido uma grande pianista, caso tivesse paciência para se submeter ao rígido horário das aulas. Decidiu ser atriz. Pelo menos, até ouvir de seus pais que aquilo era um pouco demais… Diante da proibição, resolveu radicalizar seu apoio a todas as formas de manifestações culturais, abrindo sua casa para artistas e intelectuais. Quem passasse por lá, nos anos 20, poderia dar de cara com Bibi Ferreira, Ernesto Nazareth, Roberto Burle Marx, Álvaro Moreira, Rosalina Coelho Lisboa, Isadora Duncan, Fernanda Montenegro e Tônia Carrero.

Diz a lenda que a bela anfitriã de boca pequena, lábios finos e mãos delicadas recebeu umas 49 propostas de casamento. Ela, no entanto, jamais quis se casar. Preferiu, nos anos 50, dedicar-se ao projeto de transformar sua casa num grande centro cultural, numa espécie de homenagem ao pai, que morreu em 1928. Desde então, ela viveu sozinha com a mãe e, mais tarde, com uma governanta cearense. Em meio ao início das obras, em 1969, sua casa se encheu de novo. Dessa vez, o casarão passou a ser habitado pelos parentes da governanta que vinham do Nordeste. Como a casa era grande, cerca de 60 pessoas chegaram a morar nos cômodos mal-acabados até encontrar moradia e emprego. Conhecida como “A República do Ceará”, a casa abrigava de recém-nascidos a idosos.

Apesar de ter vendido os terrenos que o pai possuía no Leblon, perdeu boa parte desse capital investindo na Bolsa de Valores e ficou sem dinheiro para tocar seu projeto. Por causa de uma doença na pele, tornou-se reclusa, pois já não se sentia tão bonita e apresentável para receber as pessoas. Sem dinheiro até para alimentar-se bem, alugava os quartos do casarão e dormia no porão. No meio de entulhos, cercada por objetos desorganizados, contas, livros e uma infinidade de jornais, ela passava dia e noite desenhando e dando forma a suas idéias de transformar sua casa num importante centro cultural.

Mesmo sem recursos, ela não desistiu do ideal de usar o casarão como um meio de democratizar a arte. Recusou propostas milionárias de construtoras e incorporadoras de olho na espaçosa propriedade de 1 000 metros quadrados da Avenida Vieira Souto – já o metro mais caro do Rio de Janeiro.

Embora doente, continuou a opinar sobre todos os assuntos referentes ao projeto. No seu leito de morte, doou a casa ao governo do Rio de Janeiro, legando à cidade o casarão onde viveu por quase 80 anos. Morreu no dia 22 de março de 1984. E o centro cultural só foi inaugurado no dia 12 de março de 1986. Situada de frente para o mar, a Casa de Cultura Laura Alvim abriga hoje em dia todas as manifestações artísticas e vem preservando há mais de 30 anos o ideal da menina que chegou lá aos oito: transformar o seu lar num palco aberto a todos que, assim como ela, amam a arte. E Ipanema.

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