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A vida dos santos que, de santo, não tinham nada

Um ladrão, um estelionatário, um jogador compulsivo, uma assassina em massa... Conheça a vida pecaminosa de alguns santos da Igreja.

Por Alexandre Carvalho
Atualizado em 19 nov 2019, 15h11 - Publicado em 19 nov 2019, 15h02

Santa Olga de Kiev

A INCENDIÁRIA

890 – 969, Pskov, Rússia

Dia dela: 11/7

Pela crueldade com que tratou seus inimigos, essa nobre russa acaba lembrando a personagem Cersei Lannister – a princesa homicida e manipuladora da série Game of Thrones. Mas talvez ela estivesse mais para Arya Stark, a garota que só quer se vingar daqueles que massacraram sua família.

Lá no século 10, numa região que deu origem à Rússia atual, Olga casou-se ainda adolescente com o príncipe Igor, filho do fundador de uma dinastia de czares. O casal teve um filho e a vida a dois seguia tranquila até que, ao cobrar impostos da tribo dos drevlyans (um nome muito Game of Thrones, aliás…), Igor foi assassinado pelos inadimplentes. E Olga decidiu não deixar barato.

Como seu filho, o herdeiro do trono, tivesse só 3 anos na época, a princesa ouviu dos drevlyans que deveria aceitar um casamento de conveniência com o príncipe deles, que passaria a ser o chefão do lugar todo. Para isso, mandaram 20 embaixadores para convencer a princesa. Mas os chanceleres nunca voltariam com uma resposta – tão logo chegaram, Olga ordenou que fossem enterrados vivos.

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E ela achou que era pouco. Seu passo seguinte foi mandar dizer ao tal príncipe que, sim, aceitava a proposta, mas sob uma condição: que as maiores autoridades entre os drevlyans fossem buscá-la, para que seu próprio povo visse que eram bem-intencionados. Eles toparam, e Olga os recebeu muito bem num primeiro momento. Até preparou uma casa de banhos para que eles se refrescassem após a longa viagem.

E então, assim que as autoridades entraram no local dos banhos, a porta foi trancada e Olga colocou fogo no edifício. Morreram todos queimados.

Finalmente, depois de tanta matança, a raiva da princesa passou. Assim que seu filho atingiu a idade de assumir o trono, Olga converteu-se ao cristianismo. Fez questão de ser batizada, construiu igrejas e passou a ajudar os necessitados. Anos depois, quando seu neto Vladimir assumiu o poder, ele instituiu um culto à avó, que passou a ser venerada, com direito a relíquias e festa litúrgica. A vingativa de Kiev tornou-se a primeira santa da Rússia.

 

São Calisto 1º

O ESTELIONATÁRIO

165 – 222, Roma, Itália 

Dia dele: 14/10

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Antes de virar papa e escrever sua história rumo à santidade, Calisto teve um passado cheio de problemas com dinheiro – com dinheiro dos outros, diga-se. Responsável por administrar um caixa que seria para ajudar órfãos e viúvas, ele sumiu com o dinheiro – o que configura um crime de estelionato. E deu no pé.

Uma vez preso, foi solto a pedido dos próprios credores, com a esperança de que, fora da prisão, Calisto conseguisse levantar a grana para pagar o que devia. Mas que nada. Foi preso de novo brigando numa sinagoga, tentando arrancar mais dinheiro dos judeus. Acabou condenado a trabalhos forçados, mas deu a volta por cima.

Chegou à posição de papa depois que conseguiu recuperar sua reputação justo à comunidade cristã administrando com sabedoria as catacumbas de Roma, na Via Ápia, onde ficavam as relíquias dos antigos santos. Não há registro de que alguma tenha desaparecido na sua gestão.

 

São Camilo de Lélis

O JOGADOR

1550 – 1614, Abruzos, Itália 

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Dia dele: 14/7

Diz a lenda que ele nasceu milagrosamente quando a mãe já tinha 60 anos. Por isso, talvez parecesse que Camilo seria um predestinado à santidade. Mas toda a sua juventude foi na contramão desse caminho. O rapaz era viciado no jogo. E daqueles viciados que perdem a própria roupa, mas voltam a apostar na primeira oportunidade – chegou a pagar com a camisa numa maré de azar.

Mas, da mesma forma que muitos alcoólatras buscam a religião para parar de beber, São Camilo também se afastou do jogo quando “encontrou Jesus”. Arrependeu-se e fundou uma ordem religiosa para tratar de doentes sem cobrar nada: a Congregação dos Ministros dos Enfermos, cujos membros ficaram conhecidos como camilianos. Por isso há tantos hospitais e clínicas com o nome de São Camilo.

 

Santa Maria Egípcia

A NINFOMANÍACA

344 – 422, Egito 

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Dia dele: 2/4

Apesar de Santo Agostinho e Santo Inácio de Loyola terem tido aventuras sexuais, suas experiências parecem inocentes perto das desta santa – ainda aos 12 anos ela teria ido para Alexandria, a metrópole egípcia/helênica da época, com o intuito de viver o pecado da luxúria em toda a sua plenitude.

Embora alguns textos a apontem como prostituta, o teólogo Sofrônio (560 – 638), em sua obra Vida de Santa Maria do Egito, diz que não. Nas palavras do autor, ela simplesmente teria “um desejo insaciável, imparável”.

A tradição, de qualquer forma, diz que ela se prostituiu para levantar dinheiro de olho numa viagem muito especial: queria ir a Jerusalém acompanhar a Festa da Exaltação da Cruz. Mais pela festa do que pela exaltação à cruz. Só que alguma coisa acabou dando errado – ou muito certo, do ponto de vista da santidade.

Quando ela tentou entrar na Igreja do Santo Sepulcro, uma força invisível a impediu. Ela simplesmente não conseguia entrar, e entendeu que o fenômeno sobrenatural tinha a ver com a sua vida “impura”. Arrependeu-se imediatamente, cruzou o Rio Jordão – o mesmo onde Jesus fora batizado por São João Batista – e de lá seguiu para viver como eremita no deserto, onde teria permanecido até a morte, mais de 50 anos depois.

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São Dimas

O VIDA LOKA

? – aproximadamente 30 d.C.*, Jerusalém, Israel 

Dia dele: 25/3

Nunca houve alguém que se tornasse santo tão facilmente quanto Dimas. Se é que esse era o nome dele. O suposto Dimas era um dos ladrões crucificados ao lado de Jesus. Batendo um papo rápido no qual os bandidos perguntavam por que, sendo o filho de Deus, Cristo não pedia para o Pai tirá-lo daquela enrascada, Dimas termina resignado: não virá nenhum anjo do céu para libertá-los. E sua última frase no Livro Sagrado é “Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu reino”. Ao que Jesus responde, acalmando o colega de martírio: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso”. Pronto.

Bastou essa conversa com Cristo para o larápio virar santo. A Bíblia não menciona o nome de nenhum dos condenados à morte ao lado de Jesus – o nome Dimas surge pela primeira vez num texto apócrifo (um dos relatos que poderiam ter entrado para a Bíblia, mas foram vetados por parecerem fantasiosos demais ou por contrariarem a história que a Igreja queria contar).

Conhecido para a eternidade como “o bom ladrão”, São Dimas virou personagem dos Racionais MCs, no rap “Vida Loka (Parte 2)”: “Enquanto Zé Povinho apedrejava a cruz/ E o canalha fardado cuspiu em Jesus/ Oh, aos 45 do segundo arrependido/ Salvo e perdoado/ É Dimas, o bandido/ É loko o bagulho/ Arrepia na hora/ Oh, Dimas, primeiro vida loka da história”.

*Jesus teria nascido, no mínimo, no ano 4 a.C., e não há registro no Novo Testamento de que ele viveu exatamente 33 anos, como ficou enraizado na cultura popular. Logo, não há como cravar que a crucificação aconteceu no ano 33 d.C.

 

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