Eduardo Szklarz
Erro – Cogitar a entrega do Prêmio Nobel da Paz ao líder nazista e dar-lhe parte da Tchecoslováquia para evitar que ele desencadeasse 2ª Guerra Mundial.
Quem – O primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain, seu colega francês Edouard Daladier e Erik Brandt, membro do parlamento sueco e do comitê de premiação.
Quando – Entre 1938 e 1939.
Consequências – A política de apaziguamento foi uma vergonha e não evitou guerra alguma.
Poucos prêmios são respeitados como o Nobel da Paz. Ele já foi entregue a personalidades do naipe de Madre Teresa de Calcutá, Nelson Mandela e Barack Obama. Então, por que não usá-lo para homenagem um sujeito como… Adolf Hitler? Pode parecer loucura, mas essa foi a sugestão feita no início de 1939 por Erik Brandt, membro do parlamento sueco e do comitê do Nobel. O comitê chegou a aventar a hipótese, mas desistiu – e o prêmio foi para o Instituto Nansen, um importante centro de pesquisas da Noruega.
Monstrinho
Afinal, o que passava pela cabeça de Brandt quando ele teve a genial ideia de entregar o prêmio a um ditador como Hitler? Àquela altura, o líder nazista ainda não era o monstrão que conhecemos hoje, pois a 2ª Guerra Mundial nem havia começado e os horrores do Holocausto ainda estavam por vir. Mas o Führer podia ser considerado, no mínimo, um “monstrinho”. Afinal, os judeus alemães já viviam segregados e os campos de concentração também já estavam de pé. Além do mais, Hitler não escondia de ninguém, aliados ou inimigos, suas ideias belicosas e racistas.
A explicação pode ser reduzida a uma única palavra: medo. Apenas 20 anos haviam se passado desde a 1ª Guerra Mundial (1914-1918). O temor de uma nova carnificina global era tão grande que as lideranças ocidentais estavam dispostas a tudo para evitar outro conflito – inclusive paparicar Hitler com tratados vantajosos para a Alemanha como o Acordo de Munique, assinado pelo Führer e pelo primeiro-ministro britânico, Neville Chamberlain, no dia 29 de setembro de 1929.
Tiro pela culatra
“O acordo estipulava que a Tchecoslováquia deveria ceder os Sudetos [região que Hitler ameaçava anexar à força]”, explica a historiadora alemã Marlis Steinert na biografia Hitler (Ed. Babel). “No dia seguinte, Chamberlain submeteu ao ditador uma declaração de não agressão, que simbolizava o desejo de todos de jamais entrar em guerra.”
Ao voltar para casa, o premiê britânico não conteve o otimismo. “É a paz para nosso tempo”, declarou diante de uma multidão no aeródromo de Heston, em Londres. Mas o tiro saiu pela culatra. Logo depois de abocanhar os Sudetos, Hitler invadiu meia Europa.
Vai entender
Outra pisada feia na bola que os organizadores do prêmio deram.
Hitler não foi o único “monstro” a ter o nome cogitado para o Prêmio Nobel da Paz. O ditador soviético Josef Stálin, tão “da paz” quanto o líder nazista, foi indicado duas vezes ao prêmio – em 1945 e 1948 – por seus esforços para encerrar o derramamento de sangue na 2ª Guerra Mundial.