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Arte rupestre na Indonésia é a mais antiga do mundo, dizem arqueólogos

Pintura encontrada em caverna foi feita há 44 mil anos atrás, e parece mostrar humanos com traços de animais conduzindo uma caçada.

Por A.J. Oliveira
12 dez 2019, 18h52

Era dezembro de 2017 e o arqueólogo Adam Brumm estava em sua mesa na Universidade Griffith, na Austrália, quando recebeu em seu celular um punhado de fotos embaçadas que o fizeram pular da cadeira. Tiradas por um colega da Indonésia em uma caverna de difícil acesso ao sul da ilha de Sulawesi, uma das principais do país, elas mostravam o que parecia ser uma cena de caça – que Brumm acredita ser a pintura rupestre artística mais antiga do mundo.

No artigo publicado nesta quarta (11) na revista Nature, pesquisadores australianos e indonésios descrevem a descoberta, que está sendo considerada de grande interesse para os especialistas. Análises de datação indicam que a pintura teria sido produzida há 44 mil anos, o que faria dela o mais antigo exemplar conhecido de arte figurativa — aquela que retrata fielmente as imagens do mundo natural.

Na parede da caverna, havia representações de porcos, búfalos e humanos com focinhos e caudas de animais armados com cordas e lanças. Como todas as figuras parecem estar inseridas no mesmo contexto de uma caçada, a obra rupestre de 4,5 metros seria também a mais antiga narrativa contada de maneira visual e expressa através da arte. Confira no tuíte abaixo:

Sua relevância se dá, especialmente, por desconstruir uma crença muito forte entre arqueólogos no século 20. Até então, era unânime o pensamento de que esse tipo de representação abstrata e sofisticada teria surgido na Europa há dezenas de milhares de anos. Os pesquisadores achavam que a colonização do continente europeu teria representado um salto na cognição e na cultura dos humanos pré-históricos.

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Por muito tempo, pensou-se que a caverna de Lascaux, no sudoeste da França, abrigasse as pinturas rupestres mais velhas da humanidade. Descobertas nos anos 1940, elas foram feitas 17 mil anos atrás. Só que, nas décadas seguintes, ficou claro que o surgimento da arte não era um fenômeno restrito ao paleolítico europeu — teria ocorrido paralelamente também em outras partes da Europa, Ásia e África.

Os melhores amigos do homem

Outros lugares do mundo apresentam obras tão antigas quanto as de Lascaux (ou até ainda mais) – só faltava procurá-las. Nesse sentido, a Indonésia se destaca. Além de Sulawesi, outras ilhas como Borneo também abrigam pinturas com mais de 40 mil anos. Mas a descoberta de 2017 se diferencia das outras porque mostra o que os especialistas chamam de teriantropia: uma forte ligação entre humanos e animais, seja de corpo ou de espírito.

O retrato das pessoas com traços de bicho é um indício de que o povo que habitava aquelas ilhas detinha grande capacidade de abstração. Eles conseguiam imaginar e representar coisas que não existiam no mundo natural. Mais do que algumas figuras primitivas descascadas, o painel pode ser uma prova de que os primeiros humanos a chegar no sudeste asiático já tinham capacidade de representação simbólica e de contar histórias – e isso é de extrema relevância para compreender melhor as origens da humanidade.

Nem todo mundo concorda com os achados do estudo, contudo. Alguns pesquisadores criticam seus métodos e conclusões. Como os arqueólogos não dataram todas as figuras, há quem pense que elas podem ter sido pintadas em períodos diferentes — não representando, assim, uma narrativa única tão antiga. Outros questionam a interpretação dos pesquisadores, dizendo que pode não ser uma caçada, mas sim um ritual, ou mesmo um retrato do convívio entre pessoas e animais. Será preciso aprofundar os estudos na Indonésia para tirar todas essas dúvidas.

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