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O sexo e o casamento na Grécia Antiga

Partes tradicionais dos matrimônios – entrada com o pai, vestido branco – já rolavam na época. A vida sexual dos homens gregos antigos, porém, era bem mais saidinha.

Por Sílvia Lisboa
Atualizado em 30 ago 2019, 13h06 - Publicado em 20 abr 2017, 17h01

Gynaikeion era o nome da parte de uma residência grega que era reservada às mulheres, onde elas circulavam a maior parte do tempo. Na adolescência, as meninas gregas eram separadas dos irmãos e criadas isoladas. Só recebiam visitas de outras mulheres ou parentes mais chegados. Se saíssem, estavam sempre acompanhadas do marido ou dos pais e vestidas da cabeça aos pés, e agiam com a máxima discrição. Durante toda a vida, as mulheres ficavam sob a tutoria de alguém: do pai, do marido ou do filho, caso se tornassem viúvas.

Se uma mulher traísse o marido, ele estava autorizado a matá-la em público. Os homens podiam ter amantes – de ambos os sexos – sem constrangimentos. Relações homossexuais eram comuns entre homens na antiga Grécia. Os gregos eram conhecidos por nutrir amizades coloridas, mas o casamento entre dois homens adultos era considerado estranho.

A homossexualidade masculina era mais comum em duplas compostas por um homem mais velho (e geralmente mais poderoso) e outro bem jovem. Era uma prática aceita e até incentivada, especialmente nos ginásios, onde adultos e garotos se exercitavam nus, com o corpo besuntado de óleo e polvilhado com areia fina para se proteger do frio. Nas pistas de corrida, era normal meninos serem cortejados por homens mais velhos. Às vezes, não rolava pegação, mas declarações de amor e devoção. Existia até um nome próprio para esse par: o amante mais velho era chamado de erastes, e o adolescente, eromenos. Já o sexo com escravos era liberado e não havia limitação de idade ou sexo, porque eles não eram considerados cidadãos.

A prostituição era comum na Ática, a região de Atenas, e foi o reformador Sólon que teria criado os primeiros bordéis públicos – sexo, afinal, não deveria faltar a ninguém. Os maiores povoados tinham um bordel masculino e feminino e programas para diferentes bolsos. O sexo com escravos custava uma esmola.

Havia também as prostitutas independentes, que cobravam mais caro. Geralmente, eram mulheres livres que vendiam seus serviços em meio expediente e também trabalhavam como flautistas em jantares nada recatados. O serviço premium ficava a cargo das hetairai, prostitutas com elevado nível de educação que recebiam 10 mil dracmas (a moeda de Atenas) por uma noite caliente. Para se ter uma ideia, um trabalhador braçal ganhava um dracma por um dia de trabalho. A frase de um filósofo ateniense anônimo resumiu assim a relação com sexo – dos homens – na Grécia do século 5 a.C.: “Nós temos cortesãs para nos dar prazer, concubinas para prover nossas necessidades diárias e esposas para nos dar filhos legítimos e serem guardiãs fiéis dos nossos lares.” Os gregos eram tão a favor de sexo que, nos tempos mais antigos, o celibato era proibido.

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O Casamento

Apesar disso, grande parte da tradição do matrimônio no Ocidente vem da Grécia Antiga. Assim como hoje, a união na Atenas do século 5 a.C. era regulamentada por um contrato, que ficava depositado nas mãos de uma terceira pessoa. Em caso de infertilidade ou adultério da mulher, o divórcio era autorizado. A cerimônia ocorria na casa dos pais da noiva, e era o pai que entregava a filha ao marido.

O rito era seguido de um banquete nupcial onde a noiva permanecia de rosto coberto, vestida de branco e com flores na cabeça. Depois disso, uma procissão acompanhava o casal até seu novo lar. Diante da porta, reproduzia-se a cena clássica de novelas e filmes românticos: o homem segurava a mulher no colo para que ela não tocasse os pés na soleira. O último ato ocorria quando os noivos rezavam diante do altar do fogo sagrado – havia esse local de adoração e preces em todas as casas gregas – e repartiam bolo e frutas.

Eles iam para a cama entoando um hino nupcial. No dia seguinte, mais uma etapa da celebração: a noiva entregava seu véu à deusa Hera, a protetora do matrimônio, e recebia presentes de amigos e parentes.

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Casar e ter filhos era dever cívico e religioso em toda a Grécia. O espartano, por exemplo, era obrigado a casar antes dos 30, e só era respeitado depois de ter filhos. Quando nasciam, cabia ao pai decidir se aceitava as crias ou não. Geralmente recém-nascidos frágeis eram mortos. Os sobreviventes ganhavam uma espécie de batismo e cinco dias depois era escolhido o nome, com festa. Não havia sobrenomes: para distinguir os homônimos, acrescentava-se o nome do pai depois.

Os gregos nutriam apreço aos mortos. Quando alguém morria, seus olhos eram fechados e uma moeda colocada entre seus dentes. Segundo a crença, a moeda servia para pagar a passagem a Caronte, o barqueiro dos infernos. O rosto do defunto era coberto com um véu e seu corpo ficava exposto num cadafalso com flores e oferendas ao redor. Durante o velório, os homens faziam gestos de luto, erguendo os braços para a frente com as palmas das mãos abertas e os dedos reunidos. As mulheres arrancavam os cabelos. Sepultamento era comum, e a cremação, usada em alguns casos, como o de soldados mortos no campo de batalha.

Sem luxo

Apesar dos prédios públicos suntuosos, as casas particulares de Atenas eram simples. No ano de 415 a.C., estima-se que havia cerca de 10 mil residências de três a quatro cômodos e um único piso. A construção era modesta: barro, madeira ou pedras precariamente rejuntadas. Nas casas mais pobres, as janelas eram pequenas para não entrar frio ou calor e não havia latrina, cozinha ou banheiro separados. A fumaça do fogão escapava por um buraco no teto. Nos lares dos mais abastados, a diferença estava no número de cômodos. Havia sala de jantar, de estudos, gynakeion (o quarto reservado para as mulheres), além de banheiro e cozinha separados. Mas não havia luxo, como os azulejos e objetos de prata e ouro das mansões da Pérsia e do Egito daquela época.

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