Automutilação ao vivo
Agredir o próprio corpo é arte? As apresentações da dupla européia Kamichaos querem provar que sim.
Rafael Kenski e José Augusto Lemos
LANCHE CORTANTE
Rituais dolorosos fazem parte de cerimônias de iniciação e ritos de passagem nas mais variadas civilizações. O grupo Kamichaos transforma essa tradição em um circo de horrores contemporâneo, como nesta parte do show em que a dupla John e Helmut Kamikaze quebra uma lâmpada para engolir os cacos de vidro
EXPLOSÃO ABDOMINAL
O escocês John Kamikaze, líder do Kamichaos, é a principal atração do show de aberrações dessa dupla de artistas europeus. Aqui, ele acende um punhado de bombas dentro de uma panela, apertando-a contra o corpo. Além de satisfazer os instintos sádicos da platéia, o performer experimenta a intensa mistura de dor com a euforia que a liberação de adrenalina e a endorfina trazem em situações extremas como essa
FERRO NO GOGÓ
Coçar a garganta (por dentro!) com o pé de uma cadeira parece brincadeira de salão para a estrela do freak show do Kamichaos. Enquanto isso, seu corpo, todo coberto de tatuagens e piercings, compõe o figurino tradicional dos praticantes da body art (arte corporal), como chamam esse tipo de performance os críticos de arte de vanguarda e os metidos a modernos em geral
NO LIMITE… MESMO!
A justificativa mais comum que eles dão para cometer atos violentos contra si mesmos é a sensação de superar desafios e conhecer os limites da resistência humana. A satisfação é ainda maior se envolver uma habilidade especial, como nesta cena em que John engole um cabide e consegue dobrá-lo dentro de si, curvando o corpo para a frente, para depois retirá-lo pela boca
UMA LUZ NO FIM DO ESÔFAGO
Ao engolir essa lâmpada fluorescente acesa, John Kamikaze arrisca sua saúde três vezes. Se houver um acidente, ele pode simultaneamente se cortar com o vidro, envenenar-se com o neon (que é um gás tóxico) e, ainda por cima, tomar um choque dentro do corpo
OLHO NO LANCE
O Kamichaos – que acaba de se apresentar em São Paulo – começou como uma simples atração de circo e, aos poucos, foi ganhando feições mais assustadoras. Não é fácil, afinal, impressionar as platéias cada vez mais céticas e cínicas do mundo contemporâneo. Para isso, vale tudo – até abrir uma garrafa de cerveja com o osso abaixo da sobrancelha, como faz o alemão Helmut Kamikaze neste momento do show
OURIÇO HUMANO
Um dos momentos mais aflitivos do espetáculo é quando John compõe seu visual. Com a ajuda de uma seringa, ele espeta o corpo com 365 agulhas – uma para cada dia do ano. A regra vale até mesmo para os anos bissextos, quando acrescenta uma perfuração a mais em sua pele
NO FIO DA NAVALHA
Caminhar descalço sobre cacos de vidro ou brasas em chamas é um antigo ritual dos faquires orientais, para demonstrar o domínio da mente sobre o corpo. Aqui, Helmut Kamikaze leva essa tradição um passo adiante, ao subir uma escada cujos degraus são facões bem afiados