Beleza: o mais poderoso dos ímãs
Todos procuram a beleza, mas ninguém sabe direito o que ela é.

Gosto não se discute, diz o bordão. Ninguém duvida, no entanto, de que girassóis são muito mais atraentes do que repolhos. A ideia da beleza acompanha o pensamento humano desde os primeiros registros de sua existência. Quem observa as pinturas pré-históricas como as da caverna de Lascaux, na França, não consegue deixar de imaginar que os nossos avós da Idade da Pedra já tinham um apurado senso estético muito antes de inventarem a roda.
Os gregos antigos tratavam a beleza como algo sobrenatural, um sinal da presença divina. Na Idade Média, os teólogos católicos cultivavam uma atitude ambivalente em relação a ela. Eles temiam a beleza como tentação demoníaca e vaidade mundana. Ao mesmo tempo, a reverenciavam como sinal da graça de Deus, já que o homem teria sido feito à sua semelhança. O escritor alemão Thomas Mann (1875-1955) a definiu, em seu romance Morte em Veneza, como “a única virtude que podemos perceber por meio dos nossos sentidos”. As demais virtudes, como a bondade, a sabedoria e a verdade, são invisíveis.
De todas as formosuras, a mais poderosa é aquela que diz respeito aos próprios seres humanos. No mundo inteiro, gasta-se mais com beleza que com educação. No Brasil, há mais vendedoras da Avon do que membros das Forças Armadas. Futilidade? O escritor russo Leon Tolstói (1828-1910), que de fútil não tinha nada, lamentava o fato de ter “o nariz muito grande, os lábios grossos demais e um par de olhos pequenos e cinzentos”. Segundo ele, “nada causa um impacto maior no desenvolvimento de um homem do que a sua aparência, não tanto a aparência real quanto a sua convicção de ser ou não atraente”.
Aqui, você verá o que a ciência tem feito para entender esse fenômeno misterioso que nos leva a atravessar oceanos para apreciar as maravilhas da natureza e da criação artística – e a gastar boa parte do nosso dinheiro com roupas, cosméticos e ginástica, sem nunca ficarmos satisfeitos com a nossa aparência.
O dedo do gênio
Albrecht Dürer (1471-1528), o maior artista alemão do período renascentista, “foi o primeiro pintor a se tornar obcecado pela própria imagem”, na definição do historiador inglês John Berger.
Ninguém, antes dele, fez tantos auto-retratos. Maior do que o narcisismo de Dürer era o seu esforço em estabelecer padrões estéticos capazes de representar a beleza humana de uma forma geometricamente exata.
Inspirado pelos antigos gregos, que estabeleceram os modelos – ou cânones – das proporções artísticas, o alemão escolheu como medida principal em todas as suas obras o comprimento do seu dedo médio. Um dedo correspondia à largura da mão, e esta era proporcional ao antebraço.
A partir daí, construiu cânones para o corpo inteiro. Durante mais de 350 anos, até o impressionismo romper com a estética tradicional, os pintores e os escultores pautaram suas obras por um modelo de beleza que tinha como unidade essencial os dedos de Dürer – que, por acaso, eram muito longos. “Imagine o que teria acontecido com a arte ocidental se ele tivesse os dedos curtos!”, escreveu a psicóloga americana Nancy Etcoff, autora do estudo contemporâneo mais abrangente sobre a beleza humana, A Lei do Mais Belo.