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Característica dos seres vivos :herança em pedacinhos

A sacada de que cada característica dos seres vivos pode ser transmitida separadamente fez com que a genética deixasse de ser mistério.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h21 - Publicado em 31 out 2007, 22h00

Texto Giovana Girardi

Era uma vez um monge austríaco do século 19 que não tinha muito jeito para o sacerdócio e decidiu ser professor. No pouco tempo livre de que dispunha, ele gostava de observar o jardim do mosteiro, até que um dia as ervilhas que ele cultivava chamaram sua atenção. Ele passou a investigar sistematicamente quais características daqueles vegetais eram passadas para as gerações seguintes e fez descobertas que lhe concederiam, décadas após sua morte, o título de pai da genética. Seu nome era Gregor Mendel, mas ele só foi se tornar conhecido por seu trabalho muito tempo depois.

Mendel foi o primeiro cientista a perceber que existem alguns fatores específicos – e não uma grande massa indistinta e misturada de “sangue” materno ou paterno – que são transmitidos pelos pais à prole. Após passar nove anos cruzando de modo controlado centenas de pés de ervilha – observando se elas eram verdes ou amarelas e lisas ou rugosas – ele formulou a idéia de que a herança genética é passada para frente por pequenas unidades discretas – ou seja, separadas em “pedacinhos” – que somente no século 20 receberiam o nome de gene.

A sacada – ou talvez a sorte – de Mendel foi ter feito suas análises do ponto de vista quantitativo. Só pela observação é fácil dizer que, do cruzamento de ervilhas verdes e amarelas, algumas vão nascer amarelas e outras vão nascer verdes. Mas o monge contava, com rigor e paciência, quantas eram de cada cor e de cada textura, supondo que essa proporção deveria ser importante para entender o fato.

A partir dos resultados obtidos, ele deduziu que cada uma dessas características deveria ser determinada por um par de fatores hereditários – um que vem do pai e outro da mãe. Ele percebeu ainda que um dos fatores do par pode dominar o outro e “se impor”. Ou seja, que um fator é dominante (e ficou conhecido tradicionalmente nas aulas de biologia pela letra maiúscula, como A, ou “azão”) e o outro, recessivo (a, ou “azinho”).

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Por exemplo, ao cruzar sementes lisas e amarelas com sementes verdes e rugosas, Mendel notou que o traço amarelo se sobrepunha ao verde, e que o liso vencia o rugoso. A maior parte das ervilhas resultantes era amarela e lisa (cerca de 60%) e a menor parte, verde e rugosa (5%). Em uma quantidade intermediária, surgiam as amarelas e rugosas e as verdes e lisas (cerca de 17% cada). Para ser amarelo (ou liso), basta ter um A – o indivíduo pode ser AA ou Aa. Já para ser verde (ou rugoso) ele precisa ter dois “azinhos”.

Em 1865 Mendel chegou a apresentar suas descobertas na Sociedade de História Natural de Brünn (então parte do Império Austro-Húngaro). No ano seguinte, publicou o estudo. Naqueles anos ele também se correspondeu com outros biólogos e sociedades científicas, mas o trabalho, muito à frente de seu tempo, aparentemente não empolgou.

Foi só em 1900 que três botânicos (Hugo Marie de Vries, Carl Correns e Erich von Tschermak-Seysenegg), trabalhando independentemente, publicaram trabalhos sobre hereditariedade citando finalmente os achados do obscuro monge. Os “fatores” hereditários de Mendel só ganhariam o nome de genes em 1909.

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Cromossomos felizes

Mendel sabia que os tais fatores eram transmitidos de geração para geração, mas onde exatamente ficavam ele não sabia dizer. No começo do século 20, com formas melhores de visualizar as células, os biólogos passaram a imaginar que os genes deveriam estar presentes nos recém-descobertos cromossomos, filamentos localizados quase sempre em par no núcleo das células e que apareciam sozinhos somente nas células sexuais. O achado batia com os “fatores emparelhados” de Mendel.

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