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Cavaleiro do Apocalipse

Conhecimento e curiosidade à velocidade da luz

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h28 - Publicado em 30 abr 2001, 22h00

Ricardo Galhardo

Com uma simples carta, escrita no dia 13 de março a quatro senadores republicanos, o presidente americano George W. Bush conseguiu deixar o mundo todo em pânico. Em apenas 37 linhas, o vencedor da eleição mais apertada da história dos Estados Unidos anunciava que não ratificaria o Protocolo de Kyoto, acordo firmado por 40 países em 1997 com o objetivo de reduzir em 5,2% a emissão dos gases – principalmente o gás carbônico – que provocam o chamado efeito estufa.

A gritaria foi imediata e não ficou circunscrita à comunidade científica internacional. Até a influente revista Time, que não é conhecida exatamente por contestar as decisões da Casa Branca, dedicou a capa da sua edição de 9 de abril à questão, em tom de alerta geral contra a ameaça que a atitude de Bush representa para o futuro da Terra. Além de extensa reportagem detalhando as catástrofes já em andamento e as que nos esperam se o aquecimento global não for contido (a Super investiga o assunto no especial Como Salvar o Planeta, que chega às bancas no dia 31 de maio), a revista Time ocupou sua última página reproduzindo uma carta pública ao presidente , assinada por alguns dos cientistas mais respeitados da atualidade, políticos de peso internacional e até o ator Harrison Ford.

As publicações científicas mais importantes do planeta não ficaram atrás. Da americana Science às inglesas Nature e New Scientist, o repúdio foi declarado de maneira contundente. Não faltou nem uma pitada do tradicional humor ácido britânico, cortesia da New Scientist, ao resumir a posição de Bush com a frase: “A operação foi um sucesso, só que o paciente morreu”.

A onda de protestos faz todo o sentido porque, na prática, o recuo de Bush inutiliza o acordo de Kyoto. Só os Estados Unidos são responsáveis por 35% da emissão de gases de efeito estufa. Pior ainda será se outros países, também de alta produção desses gases, como Rússia e China , seguirem o mesmo caminho. Mas teme-se inclusive que, sem a participação das empresas americanas, os mecanismos de compensação financeira criados para atrair esses países caiam por terra. O principal desses mecanismos prevê que as indústrias menos perigosas, na sua maioria instaladas em países em desenvolvimento, vendam bônus às que produzem mais gases. “A posição americana cria um impasse, mas essa idéia ainda poderá ser reaproveitada no futuro”, afirma o brasileiro José Miguez, coordenador de Mudanças Globais do Ministério da Ciência e Tecnologia e um dos autores da proposta dos bônus. “Sem os EUA, teremos que definir metas mais modestas”, diz ele.

O argumento de Bush é de que não há consenso entre os cientistas acerca do efeito estufa. Mas o motivo real é puramente econômico. As técnicas para redução de emissão de gases custam caro: algo na casa das dezenas de bilhões de dólares anuais. Os cientistas contra-argumentam que a implementação dessas técnicas geraria novas atividades econômicas e que os prejuízos provocados pelo aquecimento global serão muito mais altos que os custos de controle. A acusação mais séria ao presidente americano é de que o verdadeiro motivo da sua decisão está em sua forte ligação com as empresas que dominam o mercado mundial de petróleo. Seu pai, o ex-presidente George Bush, é acionista de algumas dessas empresas, que ajudaram a bancar a campanha do republicano à Casa Branca. Além disso, George W. Bush foi governador do Texas, Estado que mais produz petróleo nos EUA. A queima do petróleo é responsável por nada menos que 58% das emissões de gás carbônico no planeta.

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Para saber mais

Na internet: https://www.wri.org

ja.lemos@abril.com.br

Campeões da poluição

São estes os maiores emissores de gás carbônico do planeta

Estados Unidos

186,1

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União Européia

127,8

Rússia

68,4

China

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57,6

Japão

31,2

Total de emissão de CO2 desde 1950, em bilhões de toneladas

Fonte: World Resources Institute

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Carta aberta ao presidente

O manifesto traduzido abaixo foi publicado originalmente pela revista americana Time, em sua edição de 9 de abril

Caro Sr. Presidente

Nenhum desafio que enfrentamos é mais imperativo do que a ameaça de mudança global no clima. As medidas previstas atualmente pelo Protocolo de Kyoto são assunto de debate legítimo. Mas a situação é urgente e o momento exige consenso e ação. Existem muitas estratégias para conter as emissões de gás, responsáveis pelo efeito estufa, sem desacelerar o crescimento econômico. De fato, a disseminação de uma tecnologia mais limpa e avançada é mais uma oportunidade econômica do que um perigo. Nós solicitamos que o senhor desenvolva, o quanto antes, um plano para reduzir a produção americana de gases responsáveis pelo efeito estufa. O futuro de nossos filhos e netos depende da decisão que o senhor e os outros líderes mundiais tomarem.

Respeitosamente

• Jimmy Carter (ex-presidente americano)

• Mikhail Gorbachev (ex-secretário geral do Partido Comunista soviético)

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• John Glenn (astronauta e senador)

• Walter Cronkite (jornalista de TV, considerado pela opinião pública “o homem mais confiável da América”)

• George Soros (financista)

• J. Craig Venter (geneticista)

• Jane Goodall (etóloga)

• Edward O. Wilson (biólogo)

• Harrison Ford (ator)

• Stephen Hawking (físico)

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