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A ciência contra o racismo

Para a biologia, o conceito de "raças" não faz sentido. E que a cor da sua pele é tão determinante quanto a cor dos seus rins.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 9 nov 2017, 17h06 - Publicado em 31 mar 2003, 22h00

Poucas coisas mudaram em nós nos últimos 200 mil anos. Naquela época, os primeiros seres humanos modernos surgiam na África e começavam a se espalhar por outros continentes. Eles eram praticamente idênticos aos mais de 7 bilhões de pessoas que habitam hoje o planeta. De lá para cá, os únicos retoques que a nossa espécie sofreu foram pequenas adaptações aos diferentes ambientes – mudanças exteriores para lidar melhor com lugares mais frios, secos ou com ventos mais fortes. O lado triste dessa incrível capacidade de adaptação é que as diferenças físicas foram usadas para avaliar pessoas à primeira vista e atribuir-lhes qualidades e defeitos. Milhões foram escravizados, mortos ou discriminados por causa da aparência física.

Por que só agora os cientistas começam a entender as diferenças entre os seres humanos? Tanta demora para tratar do assunto tem um motivo: as primeiras tentativas científicas de analisar as raças humanas levaram quase sempre à conclusão de que algumas eram mais inteligentes e criativas – ou seja, superiores – às outras. O resultado foram as tentativas de criar uma raça “pura” e as ideologias que levaram a genocídios. “As tragédias geradas por essas teorias fizeram a ciência aceitar que as raças não tinham nada de biológico e que eram apenas um produto da sociedade. O que vemos agora é a tendência de volta à biologia”, diz o antropólogo João Baptista Borges Pereira, da USP.

Os cientistas estão confiantes que dessa vez o resultado será diferente. “Estudar as diferenças humanas é perigoso porque sempre existirão pessoas que distorcerão os estudos, mas acredito que os cientistas e o público amadureceram o suficiente para seguirmos com as pesquisas”, diz a antropóloga Nina Joblonski, da Academia de Ciências da Califórnia, Estados Unidos.

Ao mesmo tempo, as ciências humanas avaliam como o racismo é difundido e prejudicial. Nesse ponto, o Brasil está entre os piores países do mundo. O problema é complexo, mas podemos amenizá-lo. Só que, antes, é preciso saber como tudo começou.

Como nos tornamos diferentes?

Ao contrário dos chimpanzés e demais primatas, o homem não possui cabelo por todo o corpo. A adaptação provavelmente surgiu por volta de 1,6 milhão de anos atrás para esfriar o corpo de alguns dos nossos primeiros ancestrais, que começavam a se tornar mais ativos e fazer longas caminhadas. Uma mudança levou a outra: células que produziam melanina, antes restritas a algumas partes descobertas, se espalharam por toda a epiderme. Além de tornar a pele escura, a melanina absorve os raios ultravioleta do Sol e faz com que percam energia. Os cientistas acreditavam que esse traço havia evoluído para evitar cânceres de pele, mas a teoria esbarrava no fato de que esse mal costuma surgir em idade avançada, depois que as pessoas já tiveram filhos, e portanto dificilmente alteraria a evolução. Até que, em 1991, Nina Joblonski encontrou estudos que mostravam que pessoas de pele clara expostas à forte luz solar tinham níveis muito baixos de folato.

A deficiência dessa substância em mulheres grávidas pode levar a graves problemas de coluna em seus filhos. Além disso, o folato é essencial em atividades que envolvam a proliferação rápida de células, como a produção de espermatozóides. “Nos ambientes próximos à linha do Equador, a pele negra era uma boa forma de manter o nível de folato no corpo”, diz a antropóloga.

Enquanto os humanos modernos estavam restritos à África, a melanina funcionava bem para todos. Eles eram um grupo bastante homogêneo, porque, por motivos desconhecidos, os primeiros humanos estiveram perto da extinção há cerca de 200 mil anos, com talvez não mais de 20 mil pessoas. Posteriormente, a descoberta de novas ferramentas e o crescimento da população tornou a África pequena demais para eles e, cerca de 100 mil anos atrás, os homens modernos chegaram à Ásia. De lá se espalharam para a Oceania, depois para a Europa e, há pelo menos 15 mil anos, à América.

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Nas regiões menos ensolaradas, a pele negra começou a bloquear demais os raios ultravioleta. Esse tipo de radiação é nocivo em quase todos os aspectos, mas tem um papel essencial no organismo: iniciar a formação na pele de vitamina D, necessária para o desenvolvimento do esqueleto e a manutenção do sistema imunológico. A tendência então foi que populações que migraram para regiões menos ensolaradas desenvolvessem pele mais clara para aumentar a absorção de raios ultravioleta. Em regiões intermediárias, o truque evolutivo foi o bronzeamento – uma camada temporária de melanina para proteger o folato em épocas de sol e produzir vitamina D quando ele não fosse tão forte. Ou seja, de acordo com os novos estudos, a cor da pele é apenas uma forma de regular nutrientes.

“Adaptações ao clima afetam primordialmente características superficiais. A interface entre o interior e o exterior têm papel fundamental na troca de calor de dentro para fora, e vice-versa”, afirma o geneticista italiano Luigi Luca Cavalli-Sforza, um dos pioneiros no estudo de genética de populações, em seu livro Genes, Povos e Línguas. Ao se espalhar pelo mundo, os seres humanos tiveram que lidar com todo tipo de ambiente e o principal elemento a se adaptar aos extremos de temperatura, umidade, iluminação e ventos do planeta foi a aparência. Um exemplo é o tamanho do corpo: em regiões quentes é vantajoso ser baixo como os pigmeus ou alongado como os quenianos, com a superfície do corpo grande quando comparada ao volume, o que facilita a evaporação do suor. O cabelo encarapinhado ajuda a reter o suor no couro cabeludo e a resfriá-lo. O oposto ocorre em regiões frias como a Sibéria.

O corpo e a cabeça dos mongóis, que se desenvolveram por lá, tendem a ser arredondados para guardar calor, o nariz, pequeno para não congelar, com narinas estreitas para aquecer o ar que chega aos pulmões, e os olhos, alongados e protegidos do vento por dobras de pele.

A origem de muitas características, no entanto, permanece desconhecida. Muitas delas podem ter surgido por serem consideradas belas ou simplesmente por acaso. Populações de nativos da América, por exemplo, devem ter passado por momentos em que se reduziram a algumas dezenas de indivíduos, o que eliminaria os traços menos comuns, como alguns tipos sanguíneos. Há também a influência da cultura: algumas mudanças podem não ter ocorrido porque os homens já tinham meios de se proteger do ambiente. “Ainda não sabemos se a maioria dos traços foi fruto da adaptação ou da sorte, mas é provável que os estudos do genoma humano expliquem muitos deles nos próximos dez anos”, diz a antropóloga Nina Joblonski.

As modificações, no entanto, não foram muito além da aparência, graças à homogeneidade da população humana em seus primórdios e ao pouco tempo que ela teve para evoluir desde então (cerca de 7500 gerações). Os poucos traços que mudaram também não estão ligados entre si, o que permitiu que uma mesma pessoa tenha características de diferentes etnias e criou um contínuo de cores entre as populações. A visão, entretanto, é o sentido mais apurado do ser humano, e o fato de essas diferenças estarem na aparência levou muitos a considerá-las profundas.

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Existem raças humanas?

Em 1758, o botânico sueco Carl Linnæus – o criador do atual sistema de classificação dos seres vivos – deu à humanidade o nome científico de Homo sapiens e a dividiu em quatro subespécies: os vermelhos americanos, “geniosos, despreocupados e livres”; os amarelos asiáticos, “severos e ambiciosos”; os negros africanos, “ardilosos e irrefletidos”, e os brancos europeus, evidentemente, “ativos, inteligentes e engenhosos”. Estava aberta a discussão sobre a existência de raças humanas e o valor de cada uma. Essas características, é óbvio, nunca foram comprovadas, e a principal consequência desse tipo de ideia foram as câmaras de gás nazistas. Após a 2º Guerra, o baque do Holocausto empurrou a ciência para outro caminho: partir do princípio de que todas as diferenças entre humanos são culturais, e de que as raças humanas não existem do ponto de vista biológico. Uma linha de pensamento reforçada nos anos 70, quando pesquisas passaram a analisar as diferenças entre as proteínas de diversas populações.

Os seres humanos estão muito longe de apresentar uma diversidade comparável à de espécies que de fato possuem raças, como elefantes ou ursos. Na verdade, a diferença genética entre dois chimpanzés de uma mesma colina na África pode ser maior que o dobro da existente entre os 6 bilhões de humanos do planeta.

Em 2002, uma equipe de sete pesquisadores dos Estados Unidos, França e Rússia comparou 377 partes do DNA de 1 056 pessoas de 52 populações de todos os continentes. O placar final: entre 93% e 95% da diferença genética entre os humanos é encontrada nos indivíduos de um mesmo grupo e a diversidade entre as populações é responsável por 3% a 5%. Ou seja, dependendo do caso, o genoma de um africano pode ter mais semelhanças com o de um norueguês do que com alguém de sua cidade. O estudo também mostrou que não existem genes exclusivos de uma população, nem grupos em que todos os membros tenham a mesma variação genética. “A diversidade entre as populações está nas diferentes frequências de traços que são encontrados em todo lugar”, diz o biólogo Noah Rosemberg, da Universidade do Sul da Califórnia, Estados Unidos, um dos autores do trabalho.

O estudo, entretanto, levantou um aspecto polêmico: há, de fato, uma relação entre o grupo de origem de uma pessoa e seu genoma. Em outras palavras, a ancestralidade declarada por alguém reflete uma diferença genética, mesmo que, como dissemos há pouco, essa diversidade seja de apenas 3% a 5% da que existe entre os humanos. “Existem claramente diferenças entre populações que são visíveis no genoma. Algumas pessoas podem chamar isso de raça, outras não, mas o fato é que a diversidade existe, apesar de representar uma fração bem pequena da nossa constituição genética”, diz Rosemberg.

A questão já era muito discutida pelos médicos. Para alguns, mesmo que as raças não existam, a etnia de uma pessoa pode fornecer pistas que facilitem o diagnóstico de doenças. Outros acham que usar raças na medicina não só é inútil como perigoso. Existem de fato doenças mais comuns em algumas etnias. Um exemplo é a hemocromatose, um problema na metabolização de ferro que ocorre em 7,5% dos suecos, mas é quase inexistente em chineses ou indianos. Os negros norte-americanos também sofrem mais de doenças cardiovasculares, mas o motivo ainda é desconhecido: pode ser um traço hereditário ou o resultado de mais tensões e menos acesso a serviços de saúde. Qualquer que seja a explicação, não podemos generalizar os resultados. “Cada país tem uma composição genética diferente, que varia de acordo com a história e a interação entre os grupos que para lá migraram”, afirma o geneticista Sérgio Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

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Mesmo que a raça seja um recurso útil para prever o risco de doenças, muitos médicos acreditam que seria melhor abandoná-la em prol de uma análise mais rigorosa da ascendência. “Não se sabe ao certo se usar raças na medicina é melhor do que não usar nenhuma informação sobre ancestralidade. Nós preferimos usar classificações mais específicas, que chamamos de populações”, diz Rosemberg. A única semelhança, por exemplo, entre os negros do Sri Lanka, da Nigéria e do norte da Austrália é a cor da pele. A categoria ainda teria a vantagem de lidar melhor com sociedades mais miscigenadas. “Se você permitir que as pessoas declarem múltiplas ancestralidades, terá boas chances de determinar as diferenças genéticas”, afirma Rosemberg.

As novas técnicas de análise genética, no entanto, abrem a possibilidade de se abandonarem de vez as classificações raciais em prol de critérios mais precisos. “Nós precisamos simplesmente olhar todos os humanos como um enorme conjunto de genes e ver se conseguimos achar alguns grupos, que provavelmente não corresponderão à divisão clássica de raças”, diz Nina Joblonski. O geneticista David Goldstein, do University College, em Londres, Inglaterra, estudou a resposta a remédios em seis grupos étnicos clássicos. O resultado foi melhor quando, em vez de considerar as populações, ele reagrupou os indivíduos de acordo com semelhanças genéticas. Como os seres humanos são muito parecidos, um remédio que funcione para uma população sempre encontrará pessoas em outros grupos que também podem se beneficiar dele. No final, para cada característica poderíamos ter um novo agrupamento.

Assim como a Terra pode ser descrita por muitos tipos de mapa – do topológico ao econômico – é possível dividir as variações genéticas de infinitas maneiras e ressaltar qualquer similaridade ou diferença desejada. Se sobrepusermos todos os mapas, cada pessoa será única.

Qualquer que seja a conclusão a que os médicos e biólogos cheguem, as raças vão continuar existindo para quem estuda as ciências humanas. “Os brasileiros acreditam em raças e agem de acordo com elas. Então elas existem”, afirma o sociólogo Antonio Sérgio Alfredo Guimarães, da USP. “Elas são uma categoria de exclusão e dominação que traz problemas na realidade. Mesmo que não existam biologicamente, elas criam vítimas”, diz o antropólogo Kabengele Munanga, também da USP. Ou seja, ao menos na cabeça das pessoas, as raças são bem reais.

Qual a origem do racismo?

Muitos cientistas acreditam que o etnocentrismo seja universal. Os mitos de origem de alguns nativos brasileiros trazem bons exemplos. Os índios urubus, que habitam o vale do Pindaré, no Maranhão, acreditavam que todos os homens vieram da madeira. Acontece que só eles vieram das boas, enquanto seus vizinhos se originaram das podres. “Não existe quase nenhum relato de sociedades tribais que não tenha etnocentrismo”, diz João Baptista Borges Pereira, da USP. O motivo é simples: esse tipo de ideia reforça os laços entre os grupos, estabelece fronteiras entre eles e os outros e, de quebra, levanta o moral das pessoas. Na década de 50, por exemplo, um índio kadiweu – tribo famosa por não mostrar admiração por qualquer coisa que não fosse de seu grupo – foi levado ao topo da sede do Banespa, um dos edifícios mais altos de São Paulo e com uma arquitetura ousada para a época. A reação foi: “É apenas uma casa em cima da outra. Quem faz uma, faz 100”.

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A característica é tão disseminada que levou psicólogos a pensar que as pessoas são programadas para discriminar grupos. Um experimento feito por três psicólogos evolutivos da Universidade da Califórnia, Estados Unidos, mostrou a alguns participantes fotos de brancos e negros junto com partes de diálogo e frases desconexas. Quando pediu que identificassem o autor das frases, metade dos participantes utilizou a raça para fazer seu julgamento. A boa notícia é que o preconceito pode ser facilmente dissolvido ou substituído por outro. Quando os negros e brancos que apareciam nas fotos recebiam camisetas de cores diferentes, as “cobaias” praticamente deixavam de classificá-los pela raça. A ideia é que o racismo seria uma tendência do ser humano de formar grupos de alianças com qualquer pista que ele tiver, como cor da pele, roupa ou sotaque.

O preconceito é tão antigo quanto a humanidade, mas o racismo parece não ter mais de 500 anos. “Antes disso, a discriminação era feita em relação à cultura e ao diferente”, diz o antropólogo Kabengele Munanga. Os gregos chamavam de “bárbaro” qualquer pessoa que não falasse sua língua, mas quem a aprendesse não teria maiores problemas. Tudo começou a mudar no final do século 15, quando a Inquisição espanhola obrigou os judeus a se converterem ao catolicismo. Muitos desses cristãos-novos continuaram a praticar os seus ritos, o que levou os católicos a acreditar que havia algo no sangue judeu que impedia a conversão. A solução foi evitar a miscigenação, para que esse sangue não se espalhasse pela população. Na mesma época, os europeus chegaram à África e à América e encontraram seres humanos de aparência diferente da que eles conheciam. “Até então, a humanidade era a Europa. O conceito de branco não existia antes de eles conhecerem o negro”, diz Munanga.

O encontro trouxe novos dilemas. Os teólogos da época discutiam se os índios tinham alma com o objetivo de saber, por exemplo, se ter relações sexuais com eles era pecado. Eles também chegaram à conclusão de que escravizar africanos era natural, com base na passagem bíblica em que Canaã, filho de Noé, embriaga-se e é condenado à servidão (Gênesis, 9:25).

A partir do século 18, e principalmente no século 19, as explicações bíblicas dão lugar a argumentos científicos. Os pesquisadores associavam os traços físicos de cada raça a atributos morais para tentar eliminar características indesejáveis. Um deles foi o conde francês Joseph Arthur de Gobineau, que em 1855 concluiu que a miscigenação causa a decadência dos povos e que os alemães eram uma raça superior às outras. Um de seus discípulos foi o médico brasileiro Raimundo Nina Rodrigues, para quem os rituais de candomblé eram uma doença dos negros.

Apesar de essas teorias terem caído em total descrédito no século 20, o tipo de discriminação que elas pregam permanece vivo em muitas pessoas. “É uma ideologia que se reproduz facilmente e que está sempre ligada à dominação de um grupo sobre o outro”, diz Kabengele. Ou seja, além de qualquer aspecto psicológico, o racismo tem motivos bastante práticos. “Ele é um sistema de levar vantagens sobre outras pessoas e manter privilégios”, afirma a psicóloga Maria Aparecida Silva Bento, coordenadora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert).

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O Brasil é racista?

Muito, mas demoramos para perceber. Durante bastante tempo, acreditou-se que o Brasil era uma democracia racial. Cronistas do século 19 chegaram a dizer que a escravidão por aqui era mais branda do que o trabalho assalariado na Inglaterra. Da mesma forma, o índio brasileiro não teria sido conquistado nem derrotado, mas sim “incorporado” à nação. A idéia ganhou força nos anos 30, inspirada pela obra do sociólogo Gilberto Freyre, para quem não havia no Brasil distinções rígidas entre brancos e negros e a discriminação era social, feita aos pobres.

O mito começou a cair a partir do final da década de 60, quando se notou que o Brasil não só tinha preconceito em relação aos pobres – o que em si já é terrível – como a discriminação era especialmente dirigida a negros, pardos e índios. “Mesmo quando se comparam pessoas da mesma região, sexo, idade e educação, os negros têm desvantagens no mercado de trabalho”, diz a socióloga Luciana Jaccoud, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA). Ela é uma das autoras de um estudo que mostra a extensão dessas diferenças. Mesmo quando existem dados favoráveis, como o aumento do nível de ensino na população brasileira, a distância entre negros e brancos permanece constante. Essas pesquisas ajudaram a derrubar um outro mito: o de que a pobreza dos negros é apenas um resquício da época de escravidão. É verdade que o passado de servidão colocou a maioria dos negros em uma classe social baixa, mas desde então já houve tempo para que a diferença diminuísse. Não diminuiu porque, até hoje, os negros não têm as mesmas oportunidades que os brancos.

 

 

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