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Como antigamente

O filme, de Alain Fresnot, que estréia neste mês nos cinemas, retrata uma história passada nos primeiros anos da colonização no Brasil. O idioma utilizado na produção é baseado no português do séc. 16

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h25 - Publicado em 30 abr 2003, 22h00

Denis Russo Burgierman

Hemos chus drento en no sertão. Sabe em que língua essa frase está escrita? Em português mesmo. Português do século 16. A frase quer dizer “vamos mais fundo pro sertão”. É nessa língua que é falado o filme Desmundo, de Alain Fresnot, que estréia este mês nos cinemas, uma história passada nos primeiros anos da colonização do Brasil. Fresnot optou por usar a linguagem da época para dar realismo à produção. Opção difícil, essa. Afinal, para tanto, foi necessário adaptar os diálogos para uma língua que não existe mais.

O trabalho caiu nas mãos do lingüista Helder Ferreira, da USP. Coube a ele adaptar os diálogos e ensinar os atores a falar como um português de 1570. Helder trabalhou duro. Primeiro teve que descobrir como essa gente falava. Tarefa inglória, dado que não havia gravadores na época. O lingüista recorreu a escritos antigos e procurou neles por erros de grafia. Viu por exemplo que muitas vezes se escrevia “duda”, em vez de “dúvida”, sinal de que as pessoas provavelmente pronunciavam a palavra desse jeito. Em um documento, um sujeito é chamado de “fideputa”, o que diz muito sobre a forma como os antigos portugueses se xingavam e sobre as sílabas que comiam nas palavras. Helder foi além. Fez pesquisas em lugares como as regiões de Diamantina e de Urucuia, em Minas Gerais. Como esses cantos do Brasil são isolados, eles conservam jeitos de falar arcaicos, herdados dos portugueses.

Deu trabalho. Mas foi só o começo. O pesquisador teve ainda que criar um jeito de falar para cada personagem do filme, de acordo com sua idade, sua origem e seu nível social. Um verdadeiro quebra-cabeças. A tarefa seguinte foi ensinar aos atores tudo isso, num grau de profundidade tão grande que permitisse que eles fossem capazes não só de ler os diálogos do roteiro, mas também de criar suas próprias frases, para poderem improvisar.

Desmundo conta a pouco conhecida história das órfãs portuguesas que foram mandadas ao Brasil a mando da rainha para irem para drento en no sertão na companhia dos broncos desbravadores do país. A coroa de Portugal queria evitar que esses homens casassem com índias, o que “degeneraria” a raça. Vale, portanto, não só pela curiosidade lingüística, mas também pelo conteúdo histórico.

FIDEPUTA

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Alguns exemplos do jeito como se fala no filme

Alpido–vos – Por favor

Axopra – Me soltar

Ancianas – Velhas

Sêenço – Silêncio

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Samicas – Talvez

Recevudas – Recebidas

Lengoa – Línguas

Assuã – Couro

Fideputa – …

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