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Contas que revelam gênios

Eles parecem garotos comuns, mas são capazes de inventar ou intuir fórmulas matemáticas.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h12 - Publicado em 31 out 1998, 22h00

Luiz Barco

Para manter a classe ocupada, um professor mandou os alunos, meninos e meninas por volta dos 10 anos de idade, somar todos os números inteiros de 1 a 100. Quase que imediatamente, um garoto levantou-se e disse: “Aí está”. O austero professor nem deu atenção ao resultado apresentado. Esperou os demais terminarem as contas: 1 + 2 = 3; 3 + 3 = 6; 6 + 4 = 10; e assim por diante. Ao fim do doloroso processo, o mestre finalmente foi avaliar os trabalhos e qual não foi o seu susto quando percebeu que o primeiro aluno a entregar-lhe o resultado era o autor da única soma correta: 5 050.

Esse menino, que calculara de cabeça a progressão aritmética 1, 2, 3, 4, 5…100, chamava-se Carl Friedrich Gauss (1777-1855) e viria a se tornar o maior matemático de sua época. Presumivelmente, ele percebeu, num relance, que 1 + 100 = 2 + 99 = 3 + 98 = 4 + 97 = … = 49 + 52 = 50 + 51 = 101. Isto é, que o resultado da soma pedida pelo professor seria como adicionar o 101 a si mesmo por 50 vezes. Veja o quadro no alto desta página.

Como é fácil multiplicar mentalmente 50 por 101, aí está o resultado 5 050 a que Gauss chegou. Ele nada mais fez que usar a fórmula m(m+1)/2. Ou 100(100+1)/2, que é igual a 5 050.

Sempre que posso, conto aos alunos um pouco da biografia desse grande homem. Gauss nasceu em Brunswick, na Alemanha. Consta que passou a juventude dividido entre a Filosofia e a Matemática. Mas uma descoberta brilhante, um pouco antes de completar 19 anos, o fez optar pela segunda. Já naquela época, fazia mais de 2 000 anos que o homem sabia construir, com o uso da régua e do compasso, o triângulo equilátero e o pentágono regular, bem como outros polígonos regulares cujo número de lados fosse múltiplo de dois, três e cinco, porém nenhum que tivesse número primo de lados. Pois Gauss conseguiu construir, obedecendo às regras euclidianas (uso somente de régua e compasso), o polígono regular de dezessete lados.

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É bom que os jovens tomem conhecimento da grandeza da obra de alguns cientistas, mas também acho importante fazê-los ver que foram homens como nós e estiveram sujeitos a algumas misérias que fazem parte da condição humana. A proeza do menino Gauss foi contada pela professora Nanci Marcílio, minha aluna em um curso de didática, a seus alunos do 1o colegial, em Sorocaba, interior de São Paulo, como introdução ao estudo das progressões. Apresentado o causo e os conceitos, Nanci propôs aos alunos o seguinte problema: “Dada a progressão aritmética (P.A.) -10, -7, -4,-1, 2, 5, …, calcule o número de termos de que necessitamos para que a soma seja positiva (maior que zero)”.

Tal como o menino Gauss de dois séculos atrás, o jovem Fábio Tocozato, prontamente teria dito: “Ora, professora, basta dobrar o valor absoluto do primeiro termo (-10 no exemplo), somar à razão (diferença entre os números da P.A. 3 no exemplo) e dividir tudo pela mesma razão. O primeiro número inteiro maior que o resultado dessa divisão é o resultado procurado”. Acho cedo para compará-lo ao grande Gauss, mas fiquei feliz em perceber que, apesar do descuido educacional deste país, ainda florescem no incrível jardim da educação professoras como Nanci e alunos como Fábio Tocozato, o Toco, para os amigos.

Professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo

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