Cosmologia: Pontapé inicial
Para os cientistas o tempo teve um começo, entre 10 e 20 bilhões de anos atrás.
Como assim, o início do tempo? Essa é dura de engolir, não é? Estamos acostumados a pensar nele como uma grandeza infinita, tanto para trás, em direção ao passado, quanto para a frente, rumo ao futuro. A própria definição de tempo é uma charada que desafia os sábios pelos séculos afora. Nem mesmo a erudita Enciclopédia Britânica consegue descascar o abacaxi. “O tempo, tal como nós o experimentamos, é um fluxo de mão única, lento o suficiente para que nós o percebamos.” Não resolve muita coisa, não é?
Já a ciência vê o assunto por um ângulo diferente. O tempo dos cientistas é um número, uma coordenada que, em parceria com o espaço, serve para indicar um movimento qualquer. É uma grandeza fundamental da Física, sobre a qual não cabe definição. Ele só pode ser compreendido em relação ao espaço e ao movimento. Para saber a sua origem, de acordo com essa visão, basta procurar o início do nosso Universo, quando surgiram o espaço o movimento. O que teria vindo antes é tão insondável que a própria palavra “antes” deixa de ter sentido.
Quem deu a contribuição decisiva para se descobrir a origem do Universo (e, portanto, do tempo) foi o astrônomo americano Edwin Hubble (1889-1953). Em 1929, Hubble descobriu que as galáxias estavam se afastando umas das outras – um indicador de que, um dia, todas elas estiveram juntas num lugar só. Em 1948, o astrofísico George Gamow (1904-1968) lançou a idéia de que o Universo se originou de uma grande explosão ocorrida entre 10 e 20 bilhões de anos atrás, o Big Bang. Foi o primeiro “tique” no relógio do Universo.
Engatando a marcha a ré
O físico austríaco Ludwig Boltzmann (1844-1906) dedicou sua obra à questão da irreversibilidade do tempo. Ajudou a fundar a Termodinâmica, ciência que trata das trocas de calor entre os corpos e da tendência do Universo à desordem. É dele a idéia de que o Universo tem várias setas do tempo, apontando para direções diferentes. Por essa teoria, poderia existir até uma galáxia onde os copos quebrados se emendassem sozinhos. Ridicularizado por seus colegas, Boltzmann se enforcou aos 62 anos.
Quem sabe é super
O primeiro calendário de que se tem notícia foi gravado num osso há 13 000 anos, em Le Placard, França
Mais velha que Matusalém
Na Europa do século XVII, a discussão sobre a idade da Terra era mais uma questão de fé do que de ciência. Com a Astronomia ainda engatinhando e a Igreja dominando a vida intelectual, ninguém colocava em dúvida o dogma de que o mundo tinha menos de 6 000 anos de idade. Um dos maiores defensores dessa tese foi o bispo irlandês James Ussher (1581-1656), que foi buscar na Bíblia uma data precisa para o começo de tudo. O tempo, segundo ele, teria se iniciado no ano 4004 a.C. – mais exatamente, no dia 23 de outubro, um domingo, às 9 horas da manhã, quando Deus criou o mundo. Sua argumentação era tão minuciosa que convenceu o físico inglês Isaac Newton (1642-1727), um dos maiores gênios de todos os tempos. A cronologia de Ussher vigorou até a metade do XVIII. Foi quando os primeiros geólogos e biólogos começaram a calcular a idade dos fósseis enterrados em diferentes profundidades. Suas observações os levaram a desconfiar que a Terra era bem mais velha do que dizia o Vaticano. Em 1869, o biólogo inglês Thomas Huxley (1825-1895), medindo o tempo que uma camada de rocha sedimentar demorava para se formar, chegou a 100 milhões de anos. Era o fim da cronologia bíblica. A datação definitiva – 4,6 bilhões – só viria no século XX.
Estica-encolhe
O Universo pode se contrair de novo.
1. Tempo zero – Big Bang
O Universo é incrivelmente denso e quente. A temperatura é um bilhão de bilhão de bilhão de vezes (o número 1 seguido de 27 zeros) maior que a atual temperatura do Sol.
2. 3 minutos depois
Começam a se formar os primeiros núcleos atômicos.
3. 10/20 bilhões de anos depois
Surge o Universo, tal como nós o conhecemos. Ele continua em expansão – as galáxias se afastam umas das outras a uma velocidade enorme.
4. O fim
Ninguém sabe o que vai acontecer. O Universo pode continuar se expandindo infinitamente – a hipótese mais aceita pelos cientistas – ou se contrair no chamado Big Crunch, o Grande Colapso. “Mas ninguém precisa se preocupar”, diz o astrofísico Mario Novello, da UFRJ. “A humanidade não vai mais existir quando isso acontecer.”