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Divisão ancestral

A origem do sistema de castas da Índia, que continua em vigor apesar da proibição do governo, remete aos antigos textos sagrados do hinduísmo

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h34 - Publicado em 30 jun 2008, 22h00

Texto André Santoro e André Victor Sartorelli

Várias sociedades contemporâneas têm seus mecanismos de divisão da população, segundo diferentes critérios, de maneira mais ou menos informal, com ou sem aval do Estado. Um dos mais antigos e misteriosos de todos eles é o complexo sistema de castas da Índia, que existe há pelo menos dois milênios. Sua origem se perde na história, mas as primeiras referências a ele estão nos Vedas, textos sagrados mais antigos do hinduísmo. Nos livros, existem 4 castas originais, que passaram por várias transformações e se desdobraram em múltiplas categorias ao longo do tempo. “Hoje existem milhares de castas no país”, afirma Carlos Eduardo Barbosa, especialista em hinduísmo do Instituto Narayana, em São Paulo.

A referência mais antiga ao sistema de castas está num hino do RigVeda sobre o sacrifício do deus Purusha, de cujo corpo teriam se originado as castas nas quais ainda se divide a sociedade indiana. De sua boca, nasceram os brahmins. De seus braços, vieram os kshatriyas. De suas pernas, surgiram os vaishyas. E de seus pés, os shudras. O Bhagavad Gita, fragmento mais famoso do épico Mahabharata, que provavelmente começou a ser escrito por volta do ano 500 a.C., também se refere explicitamente às castas e traz lições sobre como se comportar de acordo com sua categoria social.

O Bhagavad Gita, aliás, é considerado por muitos estudiosos do hinduísmo como uma reação dos sacerdotes (brahmins) às pregações budistas sobre o livre-arbítrio, que até hoje criticam explicitamente a divisão dos hindus em castas. Os brahmins trataram de instituir o sistema definitivamente no livro Manu Smriti, também conhecido como As Leis de Manu. Escrito a partir de 200 a.C., ele define objetivamente as castas e as atribuições dos integrantes de cada uma.

Nos últimos 2 mil anos, o sistema tornou-se cada vez mais rígido e complexo. Nos últimos séculos, por exemplo, a atribuição de casta passou a ser hereditária – alguém que nasce em uma casta inferior tem que conviver com a sina durante toda a vida, em muitos casos. E, para se adaptar às mudanças sociais, o número de castas e subcastas se multiplicou aos milhares. Uma das novas subcastas é a dos dalits, considerada um segmento à parte ou uma subcasta inferior entre os shudras. Trabalhadores da indústria de couro, sem-terra, varredores de rua, artistas de rua e mendigos costumam pertencer a essa categoria. Em algumas regiões da Índia, eles são proibidos de ter qualquer contato com membros de outras castas.

Apesar da aparente crueldade, o sistema é considerado por muitos hindus como o único meio de inserção e participação social. “Para nós, ocidentais, parece algo injusto, preconceituoso, mas não é essa a visão da maioria dos indianos”, afirma Barbosa. “Muitos se esforçam para se manter em suas castas e realizar de forma digna a sua atividade, por mais simples que ela seja.”

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Cada um na sua

O hinduísmo tem 4 castas principais e uma categoria independente para os “sem-casta”. Atualmente o sistema é bem mais complexo e tem milhares de categorias diferentes.

Sacerdotes

A casta brahmin é a mais alta entre os hindus e reúne líderes religiosos, professores e intelectuais. Foram os integrantes dessa casta que organizaram a maioria dos textos sagrados do hinduísmo. Sua origem são os vaishyas, artesãos que viviam nas comunidades hindus ancestrais e teriam aprendido a realizar rituais e cânticos em homenagem aos deuses.

Kshatriya

Os guerreiros e políticos formam a 2ª casta entre os hindus. Eles têm acesso aos ensinamentos religiosos, mas não podem passá-los adiante – tarefa que cabe aos brahmins. Os kshatriyas também teriam origem nas comunidades de artesãos, a fim de estabelecer um grupo para proteger os habitantes de invasões, bastante freqüentes na antiga Índia.

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Vaishya

A plebe, que não tinha acesso às decisões políticas, não participava das guerras e não tinha permissão para se intrometer em assuntos religiosos – embora pudesse participar de rituais e aprender as escrituras, em alguns casos – formava a 3ª casta entre os hindus. Atualmente, ela abriga comerciantes, artesãos e camponeses.

Shudra

A casta mais baixa descrita nos textos sagrados é a dos antigos escravos, hoje ocupada pelos indianos que realizam trabalhos manuais pouco valorizados. Como são os mais discriminados, também são os que mais lutam para assegurar a igualdade de direitos na Índia. Até a independência do país, em 1947, os shudras não tinham acesso a vários serviços e empregos públicos.

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