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E se houvesse um acidente nuclear nas usinas de Angra dos Reis?

Esqueça Chernobyl. As usinas de Angra dos Reis estão precavidas para evitar algo parecido com a maior catástrofe nuclear da história, que aconteceu na ex-União Soviética e matou 56 pessoas diretamente, outras 4 mil de câncer e expôs 6,6 milhões de pessoas.

Por Tiago Cordeiro
Atualizado em 31 out 2016, 18h22 - Publicado em 31 jan 2008, 22h00

 

Esqueça Chernobyl. As usinas de Angra dos Reis estão precavidas para evitar algo parecido com a maior catástrofe nuclear da história, que aconteceu na ex-União Soviética e matou 56 pessoas diretamente, outras 4 mil de câncer e expôs 6,6 milhões de pessoas. Em Chernobyl, por exemplo, os funcionários demoraram dias para perceber que gás radioativo havia sido liberado; as usinas atuais, incluindo as brasileiras, têm sensores que evitam que esse tipo de coisa aconteça. Se acontecesse um acidente nas nossas usinas nucleares, ele seria mais parecido com o que aconteceu na planta americana de Three Mile Island, na Pensilvânia. Lá, em 1979, o núcleo de um dos reatores se fundiu e provocou um aquecimento rápido, que levou à liberação de gases radioativos. Os gases ficaram retidos em um envoltório de contenção, e ninguém foi atingido – quer dizer, apenas uma pessoa morreu, uma mulher grávida que bateu o carro enquanto tentava fugir dos arredores do local do acidente. Cerca de 25 mil pessoas moravam a até 8 quilômetros da usina, e a notícia de que havia acontecido um acidente provocou um verdadeiro caos. O acidente de Three Mile Island, o maior da história americana até hoje, apavorou as pessoas e ainda é citado em filmes e músicas (a canção London Calling, do The Clash, cita o caso com o verso “a nuclear error”).

Existe um plano de controle de danos para o caso de algo parecido acontecer em Angra – ou, pior ainda, para a even-tualidade de haver vazamento de radiação para fora da usina. A Comissão Nacional de Energia Nuclear, órgão do governo federal que regulamenta as atividades nucleares no Brasil, definiu 4 Zonas de Planejamento de Emergência. São 4 círculos concêntricos, o 1º a até 3 quilômetros da usina e o último em uma faixa de 10 a 15 quilômetros. De acordo com a direção em que o gás radioativo fosse se espalhando, a população da 1a faixa seria evacuada para a seguinte, e assim por diante. A 1a área tem 300 moradores, e a 2a tem 15 mil. A orientação para as pessoas seria feita por meio de 8 sirenes, instaladas nas duas primeiras áreas.

Quem não tem carro próprio seria conduzido por ônibus da Eletronuclear, a empresa que administra as usinas, e também em veículos das empresas de transporte público da região. Todos seriam levados para abrigos em escolas municipais e estaduais das cidades vizinhas. Os pescadores da região seriam evacuados por barco e levados pela Marinha até o Colégio Naval de Angra dos Reis.

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A longo prazo, uma faixa de até 50 quilômetros poderia ser atingida por gás radioativo, o que alcançaria muitos municípios da região e provocaria danos sérios ao ambiente. No curto prazo, o maior problema seria o pânico. “A população daquela área nem é tão grande, mas é muito difícil de ser evacuada”, diz o físico Anselmo Paschoa, pesquisador do Laboratório de Radioecologia e Mudanças Globais da Universidade Federal do Rio de Janeiro que, em 2000, trabalhou em uma investigação do governo federal sobre as condições de segurança das usinas de Angra. “A probabilidade de um acidente de grandes proporções acontecer é muito pequena, mas sempre existe. Por muito tempo as usinas nucleares venderam a imagem de que estão imunes a acidentes, o que não é verdade.” ?

 

Sem peixe, sem turista, sem grana

O impacto de um vazamento de material radioativo de Angra…

 

…No corpo humano

Os principais gases que poderiam vazar para a atmosfera seriam o césio 137, aquele do acidente de Goiânia em 1987, e o iodo 131. O césio provoca náusea, vômito e diarréia; ingerido em grandes proporções, mata em poucas horas. Em quantidades controladas, o iodo 131 é usado no tratamento de câncer da tireóide. Em grandes quantidades, ele pode provocar esses tumores.

 

…No turismo

Você visitaria um lugar que sofreu um acidente radioativo, mesmo que as autoridades digam que está tudo sob controle? Provavelmente não. É o que deve pensar a esmagadora maioria dos 600 mil turistas que visitam as 365 ilhas e 2 mil praias de Angra todos os anos, e levam à região uma receita de R$ 300 mil. Esse dinheiro desapareceria.

 

…No ambiente

Por estranho que pareça, as usinas nucleares de Angra foram construídas em um ótimo local para efeito de segurança. Protegidas pela serra, elas recebem ventos que sopram para o mar, o que levaria o gás radioativo para mais longe da população. Em compensação, a radiação atingiria as aves da região e desequilibraria o ecossistema local.

 

…Na pesca

Angra tem um Produto Interno Bruto de R$ 1,4 bilhão, o que dá uma média de R$ 10 776,23 por habitante. Boa parte dessa receita vem da pesca – a cidade é uma das maiores produtoras de mexilhões, ostras e vieiras do país, e uma das mais importantes vendedoras de sardinha e camarão do estado do Rio. Está aí outra fonte de renda que desapareceria da noite para o dia.

 

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