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Encontrado “creme” para o rosto usado por nobres chineses há 2.700 anos

Feita de gordura animal e um composto de calcário chamado "leite de lua", a mistura é o indício mais antigo do uso de cosméticos entre homens na China

Por Bruno Carbinatto
9 fev 2021, 19h40

A rotina de skincare de alguns nobres chineses que viviam há 2.700 anos incluía o uso de um sofisticado creme para o rosto – adotado, inclusive, por homens. Pesquisadores encontraram uma jarra de bronze contendo a mistura feita com gordura de animal e uma rara substância conhecida como “leite de lua” ou “leite de caverna”, um creme branco encontrado em algumas rochas de determinadas cavernas.

O recipiente foi descoberto em escavações em um sítio arqueológico chamado Liujiawa, no norte da China. O local foi a capital de um pequeno estado independente chamado Rui durante o chamado Período das Primaveras e Outonos (entre 770a.C. e 476 a.C), que terminou com unificação do país sob a dinastia Qin. O produto havia sido enterrado juntamente com um homem adulto que os historiadores acreditam ser da classe aristocrática (a elite da época), há cerca de 2.700 anos. Além da jarra, estavam com o defunto armas de bronze e outros itens relacionados a nobreza.

Dentro do recipiente de bronze, que ainda estava lacrado, os cientistas da Universidade da Academia Chinesa de Ciências em Pequim encontraram uma substância cremosa, com tom branco-amarelado. A suspeita de que seria algum tipo de cosmético veio naturalmente – sabe-se que o uso de cremes e outros produtos já existia há milênios na China, embora não se tenha certeza quando a prática tenha surgido. Análises químicas posteriores confirmaram: se tratava de um creme composto por dois ingredientes principais, anunciaram os pesquisadores na revista científica Archaeometry.

O primeiro era gordura de origem animal, possivelmente de um ruminante (como um boi, por exemplo). O segundo era um composto conhecido como “leite de lua”, um líquido branco que contém carbonato de cálcio e pode ser formado em determinadas cavernas de calcário. 

A mistura deixaria branco o rosto de quem usasse, como uma maquiagem, e provavelmente tinha propriedades de hidratar a pele e absorver oleosidade e suor. Além disso, é possível que o creme carregasse um poder simbólico. Tanto porque era raro e exclusivo da nobreza – diferenciando-os do povo comum -, como porque as cavernas eram consideradas um tanto místicas pelas crenças da época – e alguns minerais, associados a poderes mágicos.

Outros estudos já encontraram indícios parecidos dessa prática na mesma época, o que indica que havia uma indústria nascente de cosméticos naquela civilização. Esse é, no entanto, registro mais antigo de um nobre homem chinês usando um tipo de cosmético. Já se sabia, porém, que as mulheres da nobreza chinesa usavam artimanhas para colorir seus rostos há mais de três mil anos atrás. Não é exclusividade do país: outras culturas também utilizavam cosméticos e “maquiagens” para diversas finalidades, como para rituais religiosos ou para marcar distinções sociais. Exemplo disso são os egípcios, que podem ter começado a prática há mais de quatro mil anos (as marcações são incertas), além de várias culturas indígenas espalhadas pelo mundo.

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