Assine SUPER por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Guten Morgen Berlim

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h16 - Publicado em 30 set 1997, 22h00

Fernando Valeika de Barros, de Berlim

Guten Morgen quer dizer bom dia. E Berlim acordou a toda. Dividida entre capitalismo e comunismo, passou trinta anos sonolenta. Reunificada, entrou, com a ajuda da Arquitetura, na corrida para ser a capital mais moderna e bela do século XXI.

Se Hitler tivesse vencido a Segunda Guerra Mundial, os arquitetos do Terceiro Reich já tinham prontos os planos para transformar Berlim. No anos 50, a cidade ganharia um novo nome, Germania, e se tornaria nada menos que a capital do mundo. Mas Hitler perdeu a guerra – e Berlim, às vésperas do século XXI, foi quem saiu ganhando. Em vez de virar o centro de um planeta dominado pelo nazismo, está se tornando o oposto: a capital da beleza, da modernidade e da paz.

A ressurreição de Berlim acontece depois de ela ter passado quase três décadas carregando uma cicatriz, o Muro de Berlim, que a dividia em duas metades, a capitalista e a comunista. Terminada a Guerra Fria e derrubado o muro, em 1989, ela começou a viver nova primavera e hoje é a meca de experimentação da Arquitetura e do Urbanismo. A antiga metade comunista é agora o maior canteiro de obras da Terra: são mais de 100 grandes empreendimentos, 10 000 operários, 150 guindastes e um investimento de 120 bilhões de reais.

Os arquitetos mais famosos do mundo estão colaborando: Ieoh Ming Pei, o pai da pirâmide de vidro do Museu do Louvre, Renzo Piano, o projetista do aeroporto de Osaka, no Japão, Arata Isozaki, o criador do Teatro Nacional do Japão, e as estrelas da arquitetura americana Phillip Johson e Helmut Jahn. “Está se fazendo algo comparável ao que o papa Sixtus V fez em Roma no século XVI ou à reforma que o prefeito Eugène Hausmann fez em Paris há 150 anos”, diz o crítico de Arquitetura Michael Monninger, da revista Der Spiegel.

Continua após a publicidade

A nova cidade racional

Quando os tapumes caírem, no ano 2000, Berlim terá uma infra-estrutura invejável. O trânsito será fluente, mesmo com mais carros. Haverá automóveis movidos a bateria e com sistema interno de navegação conectado às centrais de orientação do tráfego. Semáforos inteligentes mostrarão quanto tempo falta até outros bairros e qual o melhor caminho até lá. Uma rede de túneis diminuirá a emissão de fumaça na superfície.

Graças às novas casas e edifícios equipados com coletores fotovoltaicos, para captar energia solar, prevê-se a economia de 25% da eletricidade gasta hoje, mesmo com um crescimento de 400 000 habitantes nos próximos dez anos. Serão investidos 6 bilhões de reais em reciclagem e tratamento de água, para cortar pela metade os 2,4 milhões de toneladas de lixo previstos para o ano 2005. A velha rede elétrica e telefônica, de fios de cobre, vai ser aposentada por fibras ópticas que vão custar 14 bilhões de reais.

“Estamos recuperando uma cidade ferida”, disse à SUPER o senador Hans Stimann, responsável pelo plano diretor de Berlim. “Berlim foi destruída pelas bombas na Segunda Guerra Mundial, dividida ao meio e esvaziada, durante os anos de muro, a ponto de a parte oriental não ter sequer hotéis ou restaurantes. Mas, agora, será funcional e agradável de se viver.”

Continua após a publicidade

A cereja no bolo é o novo Maglev, um trem magnético que, em 2005, ligará a estação de Lehrter a Hamburgo, a 500 quilômetros de distância. Tempo de viagem: 58 minutos. O Maglev flutua sobre os trilhos, sem fricção, voando, literalmente, a 550 quilômetros por hora. O príncipio da Física de que pólos magnéticos diferentes se atraem e pólos iguais se repelem faz as 46 toneladas de cada vagão levitarem a 15 centímetros da via de concreto. Cada vagão tem, sob o chassi, quinze ímãs que o impedem de tocar o trilho e, nas paredes laterais, treze que mantêm o rumo ao longo da via. Será um trem com velocidade de avião. E, ainda por cima, silencioso.

Como construir sem perturbar

Broca furadora (1) e quebrador de rocha (2) são acionados por ar comprimido e energia hidráulica. Vagões (3) de transporte carregam e coletam detritos. Geradores (4) elétricos e sistema (5) hidráulico produzem energia. Encanamento (6) de ar leva oxigênio para as equipes de trabalho. Trilhos (7) dos vagões vão ser aproveitados por futuras linhas de metrô.

O futuro do passado

Os alemães aliam inovação tecnológica à tradição e à ecologia.

Embora futurística nos projetos novos (veja na página 82), a reforma também recupera formas anteriores à Segunda Guerra Mundial. As praças tradicionais retornam à geometria de origem: a medieval Parise Platz volta a ser quadrada, a renascentista Leipziger Platz, octogonal, e a barroca Mehringl Platz, redonda. “Trata-se de resgatar o desenho centenário e não fazer um novo”, diz o senador Stimann. Para reintegrar as metades leste e oeste, que durante os trinta anos de muro desenvolveram-se de costas uma para a outra, 189 ruas e avenidas, fechadas desde 1945, já foram reabertas e reformadas. Para preservar o meio ambiente, foi feito um trabalho hercúleo de limpeza das zonas industriais, lixões e quartéis militares abandonados. Segundo Stimann, havia 5 000 terrenos nessas condições, alguns contaminados com metais pesados. Só na faxina foram gastos 3 bilhões de dólares. Como se não bastasse, foram projetados dezesseis novos parques para ninguém se queixar de aridez.

Formigueiro humano

Dez milhões de toneladas de terra revolvida e mais 10 milhões de toneladas de concreto causariam o caos nas ruas ocupadas diariamente por 500 000 veículos. Para transportar tudo seriam necessários 600 000 caminhões, ou uma centena por hora durante o pico da obra. A solução foi abrir túneis subterrâneos e canais para levar o material de construção aos canteiros e trazer os detritos nas viagens de volta. A maior parte do frenesi foi, assim, transferida para o “tatuzão” que quebra a rocha e avança sob a superfície. Até o leito do Rio Spree foi desviado. Depois de tudo pronto, a nova rede de túneis servirá para uma ferrovia, linhas de metrô e vias de trânsito expressas. E o centro de produção de concreto e pré-moldados virará um parque.

Continua após a publicidade

Como construir sem pertubar

Broca furadora (1) e quebrador de rocha (2) são acionados por ar comprimido e energia hidráulica. Vagões (3) de transporte carregam e coletam detritos. Geradores (4) elétricos e sistema (5) hidráulico produzem energia. Encanamento (6) de ar leva oxigênio para as equipes de trabalho. Trilhos (7) dos vagões vão ser aproveitados por futuras linhas de metrô.

O mapa do século XXI

Veja as maquetes virtuais das principais atrações da nova capital alemã.

O velho Reichstag

Quando Berlim voltar a ser capital da Alemanha, no ano 2000, o famoso edifício incendiado pelos nazistas em 1933 terá uma cúpula de vidro projetada pelo arquiteto inglês Norman Foster. A idéia é realçar a transparência do Parlamento, que funcionará lá. A vizinhança concentrará edifícios para deputados e funcionários.

Continua após a publicidade

A praça da Sony

Os japoneses projetaram sete prédios para o Sony Center (veja dois deles, no detalhe) em 26 500 metros quadrados da Potsdamer Platz (na maquete da esquerda). Haverá escritórios, residências, área de diversões, um cinema tridimensional, um Museu do Cinema Alemão, uma Filarmônica, a Galeria Nacional e um Fórum de Cultura, para conferências e debates. Custo: 1,1 bilhão de dólares.

Portão de Brandenburgo

O antigo portão de entrada, concluído em 1791, símbolo da cidade com suas colunas gregas e a carruagem puxada por quatro cavalos, será reformado. A Pariser Platz, em volta (no detalhe), voltará à forma quadrada. Será o endereço das embaixadas da França, Inglaterra e Estados Unidos.

Continua após a publicidade

Centro Daimler-Benz

620 apartamentos e 520 000 metros quadrados de área comercial e escritórios. O maior e mais festejado dos empreendimentos. Cerca de 4 000 operários e 60 guindastes também constroem um lago, de onde emergirão túneis e pontes. Projeto dos arquitetos Renzo Piano, Richard Rogers e Arata Isozaki.

Check Point Charlie

Até 1989 esta era apenas uma passagem, estreitamente vigiada, no muro entre o capitalismo e o comunismo. Será, agora, um centro futurista de escritórios com quatro blocos de edifícios. Entre eles, o de fachada curva (no detalhe), projetado pelo arquiteto americano Philip Johnson, ficará pronto já este ano.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.