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Jack London

Romancista da natureza e dos homens rudes, ele criou para si mesmo a figura de homem aguerrido, sempre disposto a enfrentar polêmicas

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h17 - Publicado em 31 out 2000, 22h00

Jack London

Flora Wellman enfrentou grandes dificuldades para parir o parrudo John. Primeiro, foi abandonada pelo pai da criança, William Chaney, astrólogo, jornalista, andarilho e hippie fora do tempo – corria o ano de 1876. Depois, com a deserção de seu amante, teve de resistir às várias sugestões que recebeu para que abortasse o rebento.

Doente e debilitada, Flora casou, sete meses depois do parto, com um veterano de guerra chamado John London. Daí o sobrenome com que o jovem John Griffith entrou para a história da literatura. Criado por uma ex-escrava negra chamada Virginia Prentiss, John poderia, no fim das contas, ter se chamado Chaney, Wellman ou Prentiss. Quis, no entanto, o destino – ou ele mesmo – que John ficasse mundialmente conhecido como Jack London. (Tanto que meu nome é uma homenagem de minha mãe a ele. E a mim também, é claro.)

John, ou melhor, Jack, viveu uma infância dura e infeliz em Oakland, uma região pobre de San Francisco. Na adolescência, trabalhou como e onde podia. Percorreu os Estados Unidos como marujo, a exemplo de milhares de outros desempregados no começo do século. Essa peregrinação acabou conduzindo-o à militância política. Aos 19 anos, Jack era conhecido como o Garoto Socialista de Oakland. Candidatou-se várias vezes a prefeito da cidade, sem êxito.

Em seguida, Jack trocou a política pela literatura. Em 1897, passou o inverno na região do Yukon, no Canadá, e a junção da infância sofrida, da militância política e da dureza das condições de vida no Alaska acabou criando um estilo de literatura e de vida: Jack se transformava num romancista da natureza e dos homens rudes, ao mesmo tempo em que criava para si mesmo a figura de um homem aguerrido, sempre disposto a enfrentar polêmicas.

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Seu livro Chamado Selvagem, publicado em 1903, quando tinha apenas 29 anos, o levou à condição de autor mais lido nos EUA nas primeiras décadas do século. Caninos Brancos é um clássico de aventuras e O Tacão de Ferro é considerado uma premonição – o primeiro texto que prevê a ascensão do nazismo na Europa.

Jack escreve mais de 50 livros em cerca de 15 anos. No meio das viagens que fez por todo o mundo e da literatura, tentava ainda algumas incursões desastradas no mundo dos negócios. A construção de veleiros foi uma delas. Outra, sua principal dedicação no final da vida, foi o Beauty Ranch: o rancho onde veio a morrer.

Entrementes, decidiu fixar-se em Londres. Investiu suas economias numa casa que chamou de Wolf House. Em agosto de 1913, dias antes de ser habitada, a casa foi consumida por um incêndio. Nada restou e reconstruir a Wolf House foi uma fixação que o acompanhou pela vida, junto com a depressão decorrente do fracasso.

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Contraditório, autodidata, Jack defendia ao mesmo tempo as idéias ascendentes do socialismo do começo do século – Lênin o citava como exemplo de escritor – e as do mais extremado individualismo. Seus personagens traziam sempre um estigma de dor e sofrimento. Carrega a legenda de beberrão e mulherengo, que os biógrafos modernos tentam apagar, construindo em seu lugar a imagem de lutador incansável, generoso e bom pai. Depois de cruzar o Pacífico Sul por 27 meses num veleiro, já corroído pelas doenças (entre as quais a uremia) e pelo cansaço, Jack se acomoda em Sonoma Valley, região da Califórnia onde constrói seu rancho. Estava cansado de cidades e pessoas, disse.

Em 22 de novembro de 1916, veio a morte, causada por ingestão exagerada de barbitúricos. Foi sua última polêmica, dividindo seus biógrafos entre os que acreditam na morte acidental e os que defendem a tese de morte induzida. Mesmo na morte, Jack não deixou certezas nem quietudes. Nada melhor que seu texto preferido para definir a si mesmo: “Prefiro ser cinzas do que pó. Prefiro ser um soberbo meteoro, todo átomo em magnífica explosão, do que um planeta eternamente adormecido. A verdadeira função do homem é viver, e não apenas existir. Não gastarei meu tempo tentando prolongar esse tempo, usarei esse tempo, todo o tempo, para viver”.

Colunista da Revista da Web! e criador dos sites Booknet e Valeu

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