Michael Faraday
De origem pobre e vítima de preconceito, o aprendiz de encadernador se autoeducou para mostrar ao mundo como usar a eletricidade
Numa sociedade marcada pelas divisões de classes, como era a Inglaterra do início do século 19, o pobre Michael quase desistiu da carreira científica. Seu primeiro emprego na área foi com o renomado químico Humphry Davy. Mas, durante uma viagem com o patrão e a família, as humilhações foram tantas que ele pensou em pedir as contas. A mulher de Davy, Jane, obrigava-o, por exemplo, a viajar do lado de fora da carruagem e fazer as refeições longe da “nobreza”. Felizmente, ele resistiu à babaquice, e o mundo terminou ganhando o maior cientista experimental que já se viu. E a tecnologia moderna veio com ele.
Michael Faraday nasceu em 1791, nos arredores de Londres, de uma família pobre. Sua educação formal foi nula, mas aos 14 anos ele se tornou aprendiz de um livreiro e encadernador – uma ótima oportunidade para ler tudo ao qual não teve acesso pelo sistema educacional.
A chance de trabalhar para Davy apareceu depois que Faraday frequentou algumas palestras do ilustre químico e, mais tarde, enviou um livro de 300 páginas com anotações sobre as apresentações. Envaidecido, Davy levou-o para ser seu auxiliar na Royal Institution. Era o passaporte para que Faraday começasse a revolucionar a ciência e a tecnologia.
Da química para a física
Trabalhando inicialmente como químico, o aspirante a cientista começou sua carreira caracterizando substâncias. Nesse período, ele também criou uma versão primitiva do bico de Bunsen (instrumento usado para aquecer compostos em laboratório) e desenvolveu o processo de eletrólise (em que eletricidade é usada para separar substâncias).
Com o tempo, os estudos de Faraday acabaram migrando da química para o campo da eletricidade e do magnetismo, em que ele daria contribuições ainda mais notáveis.
Sua técnica para desvendar os fenômenos era altamente incomum, visto que Faraday jamais dominou mais que a álgebra básica. “Ele desenvolveu sua própria metodologia para explorar experimentalmente e interpretar fenômenos naturais de forma não matemática”, diz Frank James, historiador da ciência da Royal Institution especializado na vida do cientista.
Com esse tipo de mentalidade, Faraday conseguiu superar suas dificuldades naturais e desenvolver conceitos sofisticados, como a noção de que existe um campo eletromagnético que pode ser representado por linhas de força.
O mais revolucionário achado do físico inglês foi a descoberta do processo de indução eletromagnética, feita em 1831. Esse fenômeno está por trás de praticamente todas as tecnologias modernas, pois viabiliza o uso da eletricidade para alimentar dispositivos.
Hoje também há quem atribua a Faraday os primeiros estudos ligados à nanotecnologia. No longínquo ano de 1847, ele foi o primeiro a reportar o que hoje são chamadas de nanopartículas metálicas. Um nanômetro equivale a um milionésimo de milímetro – é a medida usada quando se fala em punhados de átomos. Nessa escala, os fenômenos observados são ditados pela mecânica quântica.
Apesar de todo o prestígio que obteve por suas realizações, Faraday jamais se deixou levar. Ele declinou inúmeros convites para jantares formais com a nata da sociedade e recusou a presidência da Royal Society (duas vezes). Também optou por não ser agraciado com o título de cavaleiro (sir).
Prestou diversos serviços para Sua Majestade, contudo, investigando acidentes em minas, supervisionando a construção de faróis para navegação e desenvolvendo técnicas para proteger navios de corrosão. Recusou-se a cooperar apenas quando o governo britânico pediu que auxiliasse no desenvolvimento de armas químicas para uso na Guerra da Crimeia.
Faraday morreu em casa, em 25 de agosto de 1867, aos 75 anos, e foi enterrado no Highgate Cemetery. Apesar de ter lhe sido oferecido, em vida, um enterro na Abadia de Westminster, ele recusou.
1. Em seu experimento, ele conectou uma pilha a uma bobina de fio condutor menor (A) e manteve fixa uma bobina maior (B), conectada a um galvanômetro (G), dispositivo para medir a corrente elétrica.2. Enquanto a bobina menor estava parada, não havia registro no galvanômetro. Mas, ao passá-la por dentro da maior, o movimento levava a uma corrente detectável.
A revolução: o princípio da indução eletromagnética é o que permite o funcionamento de geradores e motores elétricos – e, com isso, todos os inventos da modernidade. Enquanto no gerador usa-se movimento para produzir corrente elétrica, no motor é o inverso: a eletricidade é que gera movimento.