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O guardião dos poderosos mortos

Conheça o pensamento de Harold Bloom, o mais influente, polêmico e irônico crítico literário da atualidade.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h28 - Publicado em 30 nov 2003, 22h00

Jerônimo Teixeira

Ele pode ser chamadode conservador, mas não aceita que mestres como Shakespeare ou Mark Twain sejam trocados por novos escritores politicamente corretos. Conheça o pensamento de Harold Bloom, o mais influente, polêmico e irônico crítico literário da atualidade

Chegamos tarde. Essa frase simples poderia resumir o complexo pensamento de Harold Bloom, talvez o crítico literário mais influente da atualidade. Sua obra fundamental, que firmou sua reputação nos meios acadêmicos, foi A Angústia da Influência, de 1973, na qual a luta dos poetas para se impor a seus antecessores aparecia como uma espécie de motor oculto da literatura. A fama junto ao leitor comum ampliou-se com O Cânone Ocidental (1994), uma vigorosa defesa dos grandes criadores da literatura ocidental – Cervantes, Montaigne, Shakespeare, todos aqueles autores que vulgarmente designamos como “clássicos”. Na expressão de Bloom, eles são os “Poderosos Mortos”. E, no entanto, estão mais vivos do que qualquer um de nós. Eles nos definem e situam. Nós, raciocina Bloom, chegamos tarde, muito tarde.

Professor das universidades de Yale e Nova York, nos Estados Unidos, Harold Bloom é, aos 73 anos, o crítico mais respeitado e detratado do mundo. Seus opositores acusam-no de conservador e elitista, ataques que Bloom responde com impagável ironia. “Eu sou o verdadeiro crítico marxista”, anuncia ele no último capítulo de O Cânone Ocidental. E em seguida explica que não é seguidor de Karl Marx, mas do comediante Groucho Marx, cujo lema era: “Seja lá o que for, sou contra”. Bloom dirige na contramão há muito tempo.

Nos anos 50, quando ele começava sua carreira universitária, a corrente dominante nos estudos literários acadêmicos nos Estados Unidos era a chamada Nova Crítica, inspirada nas idéias do poeta T.S. Eliot. Bloom não aceitava os pressupostos formalistas da corrente, que tendia a ler as obras literárias como sistemas fechados e auto-suficientes – a teoria bloomiana da influência é bem diferente, como veremos adiante. Descendente de judeus russos que se estabeleceram em Nova York, Bloom, que aprendeu o iídiche antes do inglês, tampouco se sentia confortável com o cristianismo agressivo e anti-semita de Eliot. Assim, seus primeiros estudos foram provocativamente dedicados ao romantismo inglês, objeto do desdém de Eliot. A obra dos românticos Wordsworth e Shelley e suas relações com antecessores e descendentes poéticos ocupam lugar central também em sua “tetralogia da influência”, composta por A Angústia da Influência (1973), Um Mapa da Desleitura (1975), Cabala e Crítica (1975) e Poesia e Repressão (1976).

Polêmicas iniciais

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Na tetralogia, Bloom volta e meia ainda cita favoravelmente os expoentes do pensamento francês, como o filósofo Jacques Derrida e o psicanalista Jacques Lacan. O livro Um Mapa da Desleitura é dedicado ao crítico belga Paul de Man, colega de Bloom em Yale e grande divulgador do desconstrucionismo de Derrida entre os ianques. O desconstrucionismo entende a literatura (e, no limite, o mundo) como um texto cujo sentido último nunca poderá ser determinado. A crítica desconstrucionista busca expor as contradições dos textos analisados – e considera que essas contradições são intrínsecas e inescapáveis. Nenhum discurso é capaz de afirmar uma verdade inabalável, pois todo texto contradiz a si mesmo em algum nível. Na definição do crítico norte-americano J. Hillis Miller: “Desconstruir não é desmantelar a estrutura do texto, mas demonstrar que o texto já desmantelou a si mesmo”.

O desconstrucionismo foi uma saída para as limitações da Nova Crítica, e não é de estranhar que Bloom fosse arrolado junto a Hillis Miller e De Man como um desconstrucionista. Com o tempo, porém, a desconstrução passou a servir como uma difusa base teórica para novas escolas críticas que pretendem desbancar, sob a acusação de racismo ou sexismo, os principais nomes da literatura ocidental – Shakespeare inclusive e principalmente. Se todos os textos são construções retóricas contraditórias, e se nenhum texto pode reivindicar um valor mais elevado do que outro, por que estudamos somente os autores clássicos – a maioria deles, homens brancos e ocidentais? Os chamados “multiculturalistas” passaram a valorizar as literaturas de minorias oprimidas.

Mais uma vez na contramão, Bloom não aceitou que o valor estético fosse relativizado em nome de boas intenções políticas. Como resposta, foi se tornando cada vez mais ácido na sua crítica aos pensadores franceses (sua aluna Camille Paglia, célebre por seu ataque feminista ao feminismo em Personas Sexuais, herdou esse desprezo pelos franceses e o levou quase até o chauvinismo). Acabaria rompendo até com o velho amigo Paul de Man, supostamente por razões teóricas (mas não deve ter ajudado a revelação de que, durante a ocupação nazista na Bélgica, De Man era simpatizante dos invasores).

Bloom é um polemista poderoso. É muito difícil afrontar sua ironia mordaz e sua erudição colossal. Sua principal frente de combate tem sido contra a deturpação do desconstrucionismo genericamente conhecida como “politicamente correto”. Bloom não aceita que o ensino de Mark Twain seja banido das escolas por ter usado a palavra racista nigger (equivalente aproximado de “crioulo” em português) em Huckleberry Finn, ou que Moby Dick, de Herman Melville, seja atacado pelos ecologistas preocupados em salvar as baleias. O crítico reconhece o talento de escritores negros como Ralph Ellison e até mesmo Toni Morrison, darling da crítica multiculturalista. Mas não aceita que os Poderosos Mortos sejam preteridos por conta de outros autores cujo único mérito é a origem étnica.

“A idéia de que beneficiamos os humilhados e ofendidos lendo alguém das origens deles, em vez de ler Shakespeare, é uma das mais curiosas ilusões já promovidas por ou em nossas escolas”, escreveu em O Cânone Ocidental.

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A retórica de Bloom, nesse ponto, assume tons heróicos: ele raramente nomeia um crítico específico, preferindo atacar um nefasto espírito coletivo que teria tomado conta dos departamentos de Letras nas universidades americanas. Multiculturalistas, feministas, neo-historicistas (que, inspirados por Michel Foucault – outro pensador francês abominado por Bloom –, buscam estudar as obras como produtos do contexto político-social) e afins são agrupados por Bloom sob um único rótulo: a Escola do Ressentimento. E ele mesmo aparece como o crítico solitário que, na defesa de Shakespeare e Milton, se bate contra as barulhentas hordas da correção política.

Falando nessa figura de crítico solitário, dois bons romances recentes utilizam a idéia: Desonra, do sul-africano recém-nobelizado J.M. Coetzee, e A Marca Humana, do americano Philip Roth, aliás, um grande amigo de Bloom. São livros muito diferentes, mas em ambos o protagonista é um professor que parece ser o último a sustentar a herança literária do Ocidente. De certo modo, foi Bloom quem criou esse personagem, ao inventar a si mesmo como persona crítica. O que talvez seja um exemplo dos descaminhos da influência.

Criando a desleitura

A teoria da influência literária de Bloom é complexa, combinando conceitos da psicanálise freudiana, da Cabala judaica (disciplina mística judaica) e – malgrado seu – do desconstrucionismo. Talvez o melhor ponto de partida para entender o que Bloom chama de influência seja negativo – influência não é a simples “passagem de imagens e idéias de poetas para seus sucessores”, diz Bloom em Um Mapa da Desleitura. Para ele, só podemos estudar um poema se examinarmos sua relação com os poemas que o precedem e sucedem. Principalmente a partir do romantismo, os poetas descobriram-se como pobres criaturas tardias: há sempre outro poeta (ou vários) bafejando a nuca do bardo iniciante. O poeta novo – ou “efebo”, na peculiar terminologia de Bloom – só conseguirá enfrentar seu antecessor se promover uma releitura radical e deformante dos antepassados. Uma verdadeira desleitura.

O efebo só pode ver seus antecessores com angústia – é o pai que ele deve de alguma maneira matar, nos termos do romance familiar de Freud. Ao contrário do que a história da literatura tradicionalmente ensina (pense naquela plácida sucessão de autores, escolas e períodos literários que todo vestibulando precisa saber de cor), não existe continuidade simples de um escritor para outro. “Os poetas não completam uns aos outros; nem um pouco mais do que o Novo Testamento completa o Antigo”, diz Bloom em Poesia e Repressão. Um efebo só se transforma em “poeta forte” (outro termo caro a Bloom) ao revisar os poetas fortes anteriores por meio de uma desleitura criativa. Vale esclarecer que Bloom usa a palavra “poeta” para designar qualquer escritor criativo, seja ele romancista, ensaísta, filósofo – ou até poeta. Os prosadores Marcel Proust e Franz Kafka, por exemplo, são os maiores poetas do século 20 para Bloom.

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“A Influência Poética – quando envolve dois poetas autênticos, fortes – procede sempre por uma desleitura do poeta anterior, um ato de correção criativa que é, na verdade, e necessariamente, uma interpretação distorcida”, argumenta Bloom em A Angústia da Influência. O significado oculto de um poema, portanto, é sempre outro poema, e a tarefa do crítico é desvendar os caminhos subterrâneos que levam de um texto ao outro – o que implica dizer que o crítico também faz sua desleitura poética, e que o poema, por sua vez, também é uma forma de crítica.

Talvez o aspecto mais interessante da angústia da influência seja sua subversão da cronologia. Uma vez estabelecido, o poeta forte pode até mesmo conquistar prioridade sobre seus antecessores – em alguns “momentos surpreendentes”, diz Bloom, é possível crer que os poetas fortes são de fato “imitados por seus ancestrais”. Em sua esclarecedora introdução a A Angústia da Influência, Arthur Nestrovski, professor da PUC de São Paulo e divulgador pioneiro das idéias de Bloom no Brasil, busca os antecedentes dessa curiosa idéia em ensaios críticos de Eliot e do argentino Jorge Luis Borges. Mas Bloom, como crítico forte que é, submete esses antecessores a uma poderosa desleitura. Em Kafka e Seus Precursores, Borges de fato havia dito que um escritor inventivo era capaz de criar seus próprios precursores.

Para Borges, no entanto, a relação entre antepassado e sucessor era benéfica, uma branda cooperação estabelecida de uma geração para outra. A concepção bloomiana da angústia da influência não contempla essa camaradagem literária. Entre poetas fortes, vigora a mais aguerrida competição.

À medida que sucessivas gerações estabelecem seus poetas fortes e descartam os efebos malogrados, vai se formando uma coleção de obras literárias que resistem ao tempo – o chamado cânone. Feministas, neo-historicistas e multiculturalistas acreditam que um autor se consagra como “clássico” por conta de injunções políticas e ideológicas. Nessa perspectiva, o cânone resultaria de séculos de opressão dos machos brancos sobre outros gêneros e etnias, e por isso o dever do crítico seria arrombar a festa, abrir a porta para as minorias. Bloom diz que essa visão só conseguiu produzir a decadência dos estudos literários na universidade. Em sua concepção, o cânone foi construído pelos próprios poetas em sua luta eterna com os antecessores.

O cânone é uma medida de vitalidade. A despeito de a luta entre efebos e poetas fortes ser renovada a cada geração, podemos considerar praticamente inabalável a posição dos principais mestres canônicos – uma seleção que inclui, entre outros, Homero, Dante, Milton e o Javista ou J, o autor hipotético de parte da Bíblia hebraica (que, segundo a especulação de Bloom, pode ter sido uma mulher). O mais vital de todos esses autores é William Shakespeare. Ele é o centro do cânone. O poeta e dramaturgo inglês foi tão original que não teria sofrido da angústia da influência. O que Shakespeare faz ninguém fez antes: Bloom sustenta que ele inventou a consciência humana tal como a compreendemos hoje. Os personagens shakespearianos têm uma instrospecção que não se conhecia na literatura anterior, nem mesmo em Sófocles, Dante ou Chaucer. Eles mudam, se transformam diante dos olhos do leitor (ou espectador). E mudam ao ouvir a si mesmos. Nesse sentido, são heróis da consciência humana.

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Um olhar na religião

Bloom foi buscar na Cabala parte do vocabulário teórico com que explica os intrincados mecanismos da influência. Além de ser um crítico não muito ortodoxo (a despeito das acusações de conservadorismo), Bloom também é uma espécie de teólogo excêntrico. O leitor brasileiro pode encontrar sua investida religiosa em Presságios do Milênio – Anjos, Sonhos e Imortalidade, cuja edição original americana é de 1996. Essa obra apareceu depois do badalado O Cânone Ocidental, e existe entre eles um sutil parentesco. São dois livros que pretendem defender tradições ancestrais de uma iminente degradação. O Cânone… tratava da tradição literária; Presságios… defende a tradição da Gnose, que Bloom define como uma forma de espiritualidade interior, afastada das religiões instituídas.

Na história da religião, os gnósticos são um grupo hermético que, nos primeiros séculos de cristianismo, afirmavam que a criação do mundo e a queda haviam sido um único evento. A Gnose de Bloom é um tanto mais ampla, abrangendo gnósticos cristãos, cabalistas judeus, sufistas muçulmanos e até as doutrinas do americano John Smith, fundador da seita mórmon. Todos eles teriam em comum uma visão interiorizada da espiritualidade. “Buscar Deus fora do eu é cortejar os desastres do dogma, a corrupção institucional, a malfeitoria histórica e a crueldade”, acusa Bloom, que em uma só tacada opõe-se ao “judaísmo normativo”, ao “cristianismo dogmático” e ao “Islã sunita ortodoxo”, religiões institucionais que sempre viram a Gnose, em suas variadas encarnações, como heresia.

Não, não estamos diante de mais um guru da Nova Era, nem de um novo esoterismo de butique. Bloom percebe uma insatisfação latente entre os americanos (e talvez o mesmo valha para os brasileiros) com a religião institucional, um anseio espiritual que poderia encontrar resposta na concepção gnóstica. No entanto, só o que temos hoje é uma versão decaída, comercializada e degenerada da Gnose. Na visão de Bloom, por exemplo, a crença em OVNIs e alienígenas seria uma reedição moderna da terrível experiência mística da aparição angélica. Os anjos, porém, só apareciam para profetas, pessoas espiritualmente iluminadas como Maomé, “que tinha a imaginação criadora de um Dante ou de um Milton”. Bloom observa, com seu humor tipicamente melancólico, que as pessoas que hoje se declaram vítimas de abduções alienígenas “invariavelmente não são muito inteligentes ou talentosas”.

Hamlet sem limites

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O Cânone Ocidental, embora tenha uma irretocável unidade de tom e propósito, é uma coletânea de ensaios independentes sobre 26 grandes mestres da literatura universal. O apêndice do livro, porém, foi tão ou mais comentado que os textos: trata-se de uma extensa lista de obras fundamentais escolhidas por Bloom, concebida como um guia para o leitor americano (a tradução brasileira respeita preguiçosamente esse propósito, recomendando a leitura de The Maias, de Eça de Queirós).

O mais recente lançamento de Bloom no Brasil é uma espécie de nova lista comentada. Gênio reúne ensaios breves em que Bloom examina a obra de 100 dos maiores escritores universais, Machado de Assis incluído. A escolha é assumidamente idiossincrática, e também a organização dos autores em grupos de dez, seguindo os Sefirot (atributos divinos) definidos pela Cabala. É sempre bom ler as apreciações sensíveis de Bloom, mas os ensaios são mais ligeiros do que aqueles reunidos em O Cânone Ocidental. Fica a impressão desagradável de uma investida comercial na fórmula consagrada do livro anterior. Entre todas as ironias brilhantes do autor, encontramos uma que aparentemente não foi planejada: comentando o ímpeto polêmico de Shelley, Bloom observa que “nada destrói tanto a alma quanto um elogio no caderno de resenhas do New York Times”. Na contracapa do livro, temos um elogio do New York Times Sunday Magazine.

Shakespeare, é claro, é o primeiro autor elencado em Gênio. A fixação de Bloom no bardo de Stratford já deu aos leitores o magnífico Shakespeare – A Invenção do Humano (1998), exame minucioso, peça por peça, do teatro shakespeariano. Recentemente, o crítico voltou à sua obsessão, dedicando um novo livro exclusivamente à obra central do escritor central: Hamlet – Poem Unlimited (“Hamlet – Poema Ilimitado”, sem tradução em português). Ler (ou talvez desler) Hamlet guiado por Harold Bloom é um prazer incomparável.

Para saber mais

OBRAS DO AUTOR

A Angústia da Influência, Imago, 1991

Cabala e Crítica, Imago, 1991

O Livro de J (com David Rosenberg), Imago, 1992

Abaixo as Verdades Sagradas, Companhia das Letras, 1993

Poesia e Repressão, Imago, 1994

Um Mapa da Desleitura, Imago, 1995

Como e Por Que Ler, Objetiva, 2001

O Cânone Ocidental, Objetiva, 1995

Presságios do Milênio, Objetiva, 1996

Shakespeare – A Invenção do Humano, Objetiva, 2000

Gênio, Objetiva, 2003

Hamlet – Poem Unlimited, Riverhead Books, 2003

Os poderosos mortos

Estes são alguns dos autores mais importantes do mundo, segundo Bloom

William Shakespeare (1564-1616), dramaturgo inglês

“Não é uma ilusão que os leitores (e o público de teatro) encontrem mais vitalidade tanto nas palavras de Shakespeare quanto nos personagens que as pronunciam do que em qualquer outro autor, talvez do que em todos os outros autores juntos. (…) Ele se tornou o primeiro autor universal, tomando o lugar da Bíblia na consciência secular.”

John Milton (1608-1674), poeta inglês, autor de Paraíso Perdido

“Nenhum poeta, ou escritor de qualquer espécie, do Ocidente nos é tão valioso quanto Milton nesta época sombria, em que nossas academias literárias, que agora de transforma em templos de ressentimento social, fogem da poesia.”

Samuel Johnson (1709-1784), crítico inglês, autor de Vidas dos Poetas Ingleses

“Johnson é perturbador e inconvencional, um moralista completamente idiossincrático. É para a Inglaterra o mesmo que Emerson para os Estados Unidos, Goethe para a Alemanha e Montaigne para a França: o sábio nacional.”

Percy Bysshe Shelley (1792-1822), poeta inglês, autor de Adonais

“O gênio de Shelley era lírico, em uma dimensão insuperável. Ele transforma quase qualquer gênero – sátira, romance, literatura dramática, epístola, elegia, inferno dantesco – em poesia lírica.”

Sigmund Freud (1856-1939), psicanalista austríaca, autor de O Mal-Estar na Civilização

“A especulação freudiana talvez tenha sido a mais influente em nosso século, no mínimo porque agora achamos difícil lembrar que a psicanálise, afinal, é tão-só uma especulação, mais do que uma ciência, uma filosofia ou até mesmo uma religião. Freud está mais próximo de Proust do que de Einstein, e até mesmo mais próximo de Kafka do que do cientismo de Darwin.”

Os medíocres vivos

Três exemplos atuais – e um do passado – do que Bloom considera péssima literatura

J.K. Rowling (1965), escritora inglesa, autora da série Harry Potter

“A escrita era pavorosa; o livro [Harry Potter e a Pedra Filosofal], terrível. Ao lê-lo, fui notando que toda vez que um personagem saía para uma caminhada a autora escrevia que esse personagem ·esticou as pernas·. (…) A mente de Rowling é tão governada por clichês e metáforas mortas que ela não tem estilo na escrita.”

Stephen King (1947), romancista americano, autor de O Iluminado

“No passado, descrevi King como um escritor de terrores baratos, mas talvez até isso seja muito brando. Ele não tem nada em comum com Edgar Allan Poe. O que ele de fato é, frase por frase, parágrafo por parágrafo, livro por livro, é um escritor imensamente inadequado.”

Danielle Steel (1947), romancista americana, autora de Álbum de Família

“A qualidade da prosa é difícil de acreditar. É tão ruim que praticamente se transforma num outro meio, como se a tela da TV tivesse sofrido uma transmutação, descarregando páginas, agora, em vez de imagens e som. ·Danielle Steel·, quem sabe, não é uma pessoa, mas alguma espécie de processador de palavras, ainda não refinado o bastante para nos dar sentenças com sentido gramatical.”

T.S. Eliot (1888-1965), poeta americano naturalizado britânico, autor de A Terra Devastada

“Deixo de lado as peças teatrais em verso escritas por Eliot, quase impossíveis de serem encenadas ou tidas, bem como sua crítica, apesar de esta ser importante, do ponto de vista histórico. Quanto ao que atualmente seria denominado crítica cultural, ignoro, fazendo uma careta. Resta apenas o anti-semitismo, bastante cativante, para quem é anti-semita; mas, para quem não é, não.”

Para gostar de ler

Conheça dez livros essenciais da biblioteca bloomiana

Hamlet, William Shakespeare (1564-1616)

“Hamlet é parte vingança de da Shakespeare contra a tragédia de vingança, e não pertence a nenhum gênero. De todos os poemas, é o mais ilimitado. Como uma meditação sobre a fragilidade humana em confronto com a morte, só encontra competidores nas escrituras.”

Dom Quixote, Miguel de Cervantes (1547-1616)

“Nenhum leitor parece ler o mesmo Dom Quixote que outro, e os críticos mais notáveis não concordam com relação à maioria dos aspectos fundamentais do livro. (…) Provavelmente só Hamlet provoca tantas e tão variadas interpretações quanto Dom Quixote.”

O Castelo, Franz Kafka (1883-1924)

“O exemplo consumado do novo negativo ou da nova Cabala de Kafka é O Castelo, um romance autobiográfico inacabado e inacabável que relata a história de K., o agrimensor. (…) O Castelo é o relato de como Kafka não pode retornar pela escrita ao abismo, de como K. não pode realizar seu trabalho de agrimensor.”

Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis (1839-1908)

“A genialidade de Machado de Assis é manter o leitor preso à narrativa, dirigir-se a ele freqüente e diretamente, ao mesmo tempo em que evita o mero ·realismo· (que jamais é realista). Memórias Póstumas de Brás Cubas, escritas do túmulo, tornam o esquecimento singularmente divertido.”

O Aleph, Jorge Luis Borges (1899-1986)

“·O imortal· [conto da coletânea O Aleph] é a mais fantástica de todas as realizações de Borges, uma condensação em 14 páginas de quase todas as suas obsessões criadoras. Faz parte de um punhado de sublimes exemplos de literatura fantástica em nosso século.”

Ulisses, James Joyce (1882-1941)

“A grande obra de Joyce, que vai além até mesmo da maravilha que é Ulisses, é Finnegans Wake porém, meio século de leitura dessa obra é bastante para me convencer de que a mesma jamais será inteiramente acessível, nem mesmo ao leitor sofisticado, ao passo que Ulisses é um prazer, difícil mas acessível ao leitor comum, inteligente e de boa vontade.”

Fim de Partida, Samuel Beckett (1906-1989)

“Não me lembro de nenhuma obra de literatura do século 20 composta até 1957 que chegue perto da realização original que é Fim de Partida, e tampouco houve nada desde então que desafie essa originalidade.”

O Cavaleiro Inexistente, Italo Calvino (1923-1985)

“História de gênio, cuja centena de páginas me alegra mesmo nos dias mais sombrios. (…) As Cidades Invisíveis é a obra-prima de Calvino, mas O Cavaleiro Inexistente é, ao meu ver, o trabalho mais divertido e admirável do autor.”

O Prelúdio, William Wordsworth (1770-1850)

“Worisworth é mais moderno que Freud, mais pós-moderno que Samuel Beckett ou Thomas Pynchon, porque Wordsworth achou, só, o novo caminho – ai de nós, o nosso caminho – para pôr abaixo verdades sagradas.”

O Leilão do Lote 49, Thomas Pynchon (1937)

“Minha primeira leitura de O Leilão do Lote 49 foi sobretudo exasperante; na segunda leitura, o livro subitamente me capturou, e tem me segurado desde então. Eu, portanto, aconselho os leitores que não conhecem o livro a começar por lê-lo duas vezes de cabo a rabo.”

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