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14 livros por ano: os últimos (e produtivos) anos de Chico Xavier

Tanto trabalho de escrita, associado às ações de caridade, custou a saúde do médium.

Por André Schröder
Atualizado em 1 jun 2020, 10h17 - Publicado em 29 Maio 2019, 18h29

Chico Xavier jamais abandonou o trabalho de psicografar. Se nos primeiros anos de mediunidade publicava dois livros por ano, a média subiu na mesma proporção em que sua fama aumentava. Nos anos 70, quando já tinha publicado mais de cem títulos, passou a lançar anualmente uma média de oito obras. Na década seguinte, subiu para 14. Paralelamente, nunca deixou de ampliar os trabalhos de caridade bancados pela venda dos exemplares.

O primeiro sinal de cansaço veio com uma crise de angina, um estreitamento das artérias que levam sangue ao coração, causando dores no peito. Foi em 1976 e fez o médium reduzir o número de viagens e cancelar presença em homenagens e entrega de prêmios. Também passou a circular menos em público e reduziu o tempo de participação nas sessões no centro espírita, onde continuava a escrever mensagens que supostamente os mortos enviavam para consolar seus familiares. Voltou a ser notícia quando amigos e admiradores organizaram sua candidatura ao Prêmio Nobel da Paz de 1981, concorrendo com o Papa João Paulo II e com o líder grevista polonês Lech Walesa. O vitorioso, porém, não foi uma pessoa, mas um órgão: o Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas (ONU) para refugiados.

Nos anos seguintes, a saúde de Chico Xavier ficaria cada vez mais debilitada. Em 1987, uma pneumonia aliada a uma infecção renal o colocaram de cama por mais de um mês. Nova pneumonia atingiu o médium quatro anos mais tarde. Em 1995, um enfisema pôs Chico na cadeira de rodas. Estava magro. As crises de angina eram constantes. Não tinha mais forças para dar conta dos milhares de visitantes que continuavam indo a Uberaba na esperança de falar com ele. Vez ou outra recebia algum fiel mais desesperado ou então algum famoso em busca de consolo, como a escritora Glória Perez, mãe da atriz Daniella Perez, assassinada em 1992. Passaria seus últimos anos entre idas e vindas aos hospitais.

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Cerca de 120 mil pessoas foram ao funeral de Chico, em 2002. (Alex Silva/Superinteressante)

Chico Xavier morreu no dia 30 de julho de 2002, aos 92 anos, na cidade de Uberaba. Era um domingo especial para os brasileiros, que festejavam a conquista da quinta Copa do Mundo de futebol, vencida no Japão. O médium tinha acabado de rezar, deitado em sua cama, quando o coração parou de bater, um pouco depois das 19h30. Durante dois dias, admiradores formaram fila de 4 quilômetros para se despedir. Caravanas chegavam às pressas à cidade. As autoridades apontaram 120 mil pessoas no funeral. No cortejo até o cemitério, eram mais de 30 mil.

Em 75 anos de mediunidade, Chico conseguiu fazer do Brasil a maior nação espírita do mundo e tornar a religião conhecida e respeitada. Há muito tempo era a figura religiosa mais famosa do País. O médium afirmou que não se manifestaria logo do mundo espiritual, mas, antes de partir, deixou uma senha, ou seja, um código secreto para evitar charlatanismo e confirmar a autenticidade de mensagens suas quando enfim resolver se comunicar direto do plano dos mortos. A chave para o contato com Chico no além foi entregue ao filho adotivo do médium, Eurípedes Higino Reis, ao médico Eurípedes Tahan e à amiga Kátia Maria, que morreu em 2012. Os fiéis espíritas seguem no aguardo. O trabalho de Chico, entretanto, transcendeu a morte do homem. Suas cartas, livros e polêmicas seguem inspirando e intrigando.

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