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Os americanos comemoram 4 de julho no dia errado

A independência dos EUA foi decidida por um congresso 2 dias antes – mas a data que entrou para a história foi o dia em que a declaração foi para a gráfica

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 4 jul 2023, 18h52 - Publicado em 4 jul 2017, 17h50

John Adams foi o segundo presidente dos Estados Unidos (1797–1801) – antes disso, ajudou Thomas Jefferson a redigir a Declaração da Independência, e também atuou como diplomata, negociando com os britânicos os termos da separação entre os dois países. Ele era um cara atarefado, mas isso não o impedia de mandar cartas com frequência a sua esposa e conselheira, Abigail Adams. Em 3 de julho de 1776, na Filadélfia, o político despachou a ela a seguinte correspondência:

O segundo dia de julho de 1776 será o mais memorável da História da América. Eu estou apto a acreditar que ele será celebrado pelas gerações vindouras como o grande festival de aniversário. Ele será comemorado como o dia do livramento por solenes atos de devoção ao Deus todo-poderoso. Ele deverá ser solenizado com pompa e circunstância, com espetáculos, jogos, esportes, armas, sinos, fogueiras e iluminações de uma ponta deste continente à outra deste tempo em diante, para todo o sempre.

Um fac-símile da carta, acompanhado de uma transcrição em inglês, está disponível no arquivo virtual da Sociedade História de Massachusetts, fundada em 1791. Veja aqui.

As gerações vindouras entenderam bem o recado de Adams: hoje em dia, a Independência dos Estados Unidos é mesmo comemorada com fogos de artifício, caças sobrevoando estádios, desfiles ostensivos e até um ataque contra uma invasão alienígena – retratado no mais conhecido dos filmes-catástrofe de Roland Emmerich, adequadamente intitulado Independence Day.

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Pena que o mundo todo, deslumbrado com as descrições de pompa, circunstância e armas, tenha se esquecido de um detalhe básico: a data.

Pois o “segundo dia de julho” ali em cima não é um erro de digitação. Foi nesse dia, há quase 250 anos, que o Segundo Congresso Continental – uma convenção com representantes das treze colônias que deram origem ao país – votou pela aprovação de uma resolução de independência que havia sido proposta em junho pelo político Richard Henry Lee, da Virgínia, declarando os EUA livres do domínio da Grã-Bretanha.

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Foi só depois, já com o país livre, que Thomas Jefferson e quatro homens de confiança – entre eles Adams – tiraram do bolso um documento que estavam preparando há algumas semanas: a Declaração da Independência, em que justificavam a cisão com o país europeu. O texto passou por uma delicada revisão, e a escolha de palavras foi objeto de muito debate. Ele só seria publicado em 4 de julho de 1776 – a data que entrou para a história e é comemorada até hoje.

O engano é compreensível. Afinal, quem não estava lá para assistir ao congresso – a maior parte da população – soube da notícia por meio de cópias da declaração, impressa dois dias depois. A data atrasada entrou para o imaginário popular e nunca mais saiu. O jornal LA Times resumiu bem em um editorial de 2017. “Esse foi o dia em que a declaração foi enviada para a gráfica, que então pôs essa data no topo do documento, cujas cópias foram distribuídas nas colônias e mais além. Essa foi, então, a data que os leitores da época e americanos daquele ponto em diante passaram a reconhecer como o aniversário da independência, mesmo que nada de relevância histórica realmente tenha ocorrido naquele dia.”

Uma série de coincidências contribuiu ainda mais para a entrada do 4 de julho no imaginário popular. A principal delas foi a inacreditável morte de John Adams, o autor da carta lá em cima, em 4 de julho de 1826 – seguida da passagem de Thomas Jefferson para o além exatamente no mesmo dia. Era o 50º aniversário da independência. Afinal, libertar uma colônia custou uma guerra de oito anos – mas morrer no dia certo não tem preço.

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