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Os jogos invadem as ruas

Por 3 dias, a capital financeira do mundo virou um enorme tabuleiro de jogos. Pode parecer uma esquisitice, mas talvez só seja o futuro chegando.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h23 - Publicado em 31 out 2006, 22h00

Denis Russo Burgierman

Mal cheguei a Nova York, fui andar pela Broadway, uma das avenidas mais movimentadas do planeta. Aí, em meio àquela multidão apressada, um casal sorridente e bem vestido se aproximou de mim. O rapaz olhou nos meus olhos e disse, pausadamente:

– Tenha um dia fan-tás-ti-co.

Não consegui responder. Fiquei boquiaberto com a gentileza de cidade pequena na selva urbana. Só depois percebi o que tinha acontecido: 10 quadras da Broadway tinham virado o tabuleiro do jogo Cruel 2 B Kind, uma espécie de “detetive” no qual os “crimes” são cometidos com gentilezas em vez de piscadelas. Eu não estava jogando, mas o casal não sabia disso, e o único jeito de encontrar uma vítima era disparando gentilezas a esmo.

Não foi a única esquisitice daquele fim de semana. Toda Manhattan foi invadida por jogos entre 22 e 24 de setembro, durante o Come Out and Play Festival, o primeiro encontro mundial de big games – jogos de rua de grandes dimensões, quase sempre envolvendo recursos tecnológicos.

Os organizadores, alunos do curso de jogos da Universidade de Nova York (NYU), justificaram o evento com um discurso politizado. “Vamos tomar as ruas, em meio à tensão que está dominando os EUA”, disse um deles, o ativista e designer de games Nick Fortugno. “O que estamos fazendo é análogo ao movimento do grafite, ou do skate – intervindo na cidade com a nossa arte”, disse Jesper Juul, teórico de jogos. Frank Lantz, professor da NYU e guru do movimento, conclamou: “Está faltando corpo físico nos videogames. Precisamos de jogos que não sejam apenas para a ponta dos dedos e os globos oculares”. O discurso variava, mas todo mundo concordava numa coisa: o futuro dos jogos é por aí.

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Os jogos do futuro

Quase todos os big games que tomaram Nova York em setembro misturavam jogos tradicionais com inovações tecnológicas. Conheça alguns.

Space Invaders

Inspiração tradicional: O clássico do fliperama Space Invaders, de 1978.

Inovação tecnológica: Em vez de ser jogado numa máquina de arcade, o jogo gigante foi projetado na lateral de um prédio do Chelsea.

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Como se joga: Com o corpo inteiro. O jogador corre de um lado para outro para mover a nave e levanta os braços para atirar, como a figurinha aí embaixo.

Manhattan Story Mashup

Inspiração tradicional: A velha caça ao tesouro.

Inovação tecnológica: Os “tesouros” são imagens, que devem ser captadas com a câmera do celular e enviadas para os organizadores.

Como se joga: Os participantes recebem mensagens de texto e precisam ir traduzindo esses textos em imagens. Não há vencedores: o objetivo é usar todas as fotos para contar uma história visualmente.

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Crossroads

Inspiração tradicional: Jogos de disputa de território, tão antigos quanto a guerra.

Inovação tecnológica: Celulares com GPS.

Como se joga: Duas pessoas disputam 15 quarteirões. O objetivo é “conquistar” mais esquinas que o adversário – para isso, basta ficar parado no cruzamento por 30 segundos. Para complicar, é preciso fugir do Barão Samedi, um vilão virtual – ele só existe na tela do celular.

Cruel 2 B Kind

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Inspiração tradicional: O jogo “de mesa” Detetive.

Inovação tecnológica: Gerenciamento por laptop.

Como se joga: Mais de 50 casais saíram pela Broadway. Cada um tinha uma gentileza (“seus sapatos são lindos!”, “você é uma celebridade?”, “obrigado do fundo do meu coração”) e um ponto fraco (morria se ouvisse a gentileza certa). Os casais “mortos” se juntavam aos seus assassinos, formando grupos cada vez maiores de gente educada.

Manhattan MegaPutt

Inspiração tradicional: Minigolfe.

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Inovação tecnológica: A muvuca da cidade grande.

Como se joga: O jogo é uma contradição: um minigolfe gigante. Os jogadores se divertiram pelas ruas de Greenwich Village, mas, ao final, fizeram uma descoberta: o melhor lugar para se jogar minigolfe continua sendo um campo de minigolfe.

Sonic Body Pong

Inspiração tradicional: O jurássico game Pong, do Telejogo.

Inovação tecnológica: Personagens de verdade.

Como se joga: Como no velho Pong, o objetivo é rebater uma bolinha com o bastão. Só que o bastão fica na cabeça do jogador e a bolinha é invisível (você a localiza pelo som no fone de ouvido). Assim como Pong, o jogo é chatinho.

Tag Shufflesition

Inspiração tradicional: Siga o mestre.

Inovação tecnológica: O mestre é um iPod Shuffle.

Como se joga: Um monte de gente foi ao Central Park, recebeu um Shuffle emprestado com um monte de ordens gravadas e ficou fazendo poses ridículas enquanto obedecia às mensagens. Olha aí em cima.

Payphone Warriors

Inspiração tradicional: Caça à bandeira.

Inovação tecnológica: Sistemas automáticos de atendimento de telefone.

Como se joga: O objetivo era “conquistar” orelhões, fazendo ligações que eram atendidas por um sistema automático. Um dos melhores jogos do evento, desses em que se termina banhado de suor. Finalmente alguém inventou um uso divertido para sistemas de telemarketing.

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