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Os Malditos – Traição, trapaça e escândalo

Alcibíades - líder político e guerreiro da Grécia antiga - era corajoso e bom estrategista, mas também inescrupuloso e traidor. A chave do seu enigma só foi descoberta no século 20: ele era um psicopata

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Atualizado em 31 out 2016, 18h25 - Publicado em 25 fev 2011, 22h00

Texto Álvaro Oppermann

“Não, Alcibíades!”, gritou a molecada com horror. Era por volta do ano 440 a.C., em Atenas, e o garoto Alcibíades (450-404 a.C.) estava deitado no meio da rua. Uma carroça se aproximava com rapidez. Em poucos segundos o menino poderia ser morto por esmagamento.

Ao ver o veículo, os moleques, que jogavam dados no meio da rua, instintivamente se afastaram para abrir passagem. Menos Alcibíades, que queria saber o resultado do lance de dados e deitou-se sobre eles para protegê-los. Os cavalos se assustaram e corcovearam, derrubando as cestas da carroça e também o carroceiro. Alcibíades (e os dados) escaparam sãos e salvos.

Esse episódio da infância do estadista, general e orador ateniense foi narrado por Plutarco. De acordo com o historiador, ele era incapaz de aceitar derrotas, desde a mais tenra idade. Já Tucídides, autor do clássico História da Guerra do Peloponeso, que conheceu o estadista pessoalmente, descreveu-o de modo contraditório: brilhante e corajoso, mas desonesto e calculista.

A ambiguidade de Alcibíades passou à história como um enigma. No século 20, esse enigma pode ter sido esclarecido pelo psiquiatra Hervey Cleckley em The Mask of Sanity (“A Máscara da Sanidade”, 1941, sem versão em português). Para ele, o estadista era um psicopata. “Ele era extremamente inteligente e manipulador”, escreveu. Nunca demonstrava remorsos.

A vida adulta de Alcibíades transcorreu durante a Guerra do Peloponeso (431 a 404 a.C.), travada entre Atenas e Esparta. Ele perdeu o pai cedo e foi criado como filho pelo grande estadista Péricles – primo de sua mãe.

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Alcibíades era a grande esperança para o futuro político de Atenas. Não demorou para tornar-se general. Mas os anciãos atenienses desconfiavam que o jovem não tivesse bom caráter. Alcibíades era capaz de gestos heroicos – como salvar o filósofo Sócrates, seu contemporâneo, numa batalha -, para em seguida pisar na bola.

Em 416 a.C., os dois lados da guerra negociavam uma trégua. Os atenienses foram representados pelo experiente general Nícias. Enciumado, Alcibíades convenceu os inimigos espartanos a mentir sobre o poderio do seu exército. O calculista Alcibíades conseguiu o que queria: azedar a negociação e desmoralizar Nícias por ter ingenuamente acreditado nos espartanos.

Alcibíades era também um homem bonito e sedutor. Teve inúmeros amantes, de ambos sexos. Em Banquete, Platão narra que o general, completamente embriagado, declarou o seu amor a Sócrates: queria ir para a cama com o mestre (ok, isso está nas entrelinhas, mas o recado é claro). Sócrates o repele, humilhando Alcibíades.

Os amigos de Nícias não perdoaram Alcibíades. Em 415 a.C., acusaram-no de profanar o templo da deusa Palas Atena. Não se sabe se a acusação procedia (provavelmente não), mas Alcibíades, nada bobo, sentiu que era hora de zarpar. Tinha feito inimigos demais em Atenas. No meio da noite, partiu numa embarcação, deixando para trás um casamento e dois filhos pequenos. Foi bater à porta dos antigos inimigos, os espartanos.

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Vira-casaca

Ali, virou importante conselheiro do rei Ágis, a quem deu dicas de como aplicar derrotas aos atenienses na Guerra do Peloponeso. Em Esparta, Alcibíades só teve de maneirar no seu amor por rapazes, punível com a morte na sociedade local. Contudo, seduziu a mulher do rei (leia abaixo), e teve de fugir de novo. Dessa vez para a Pérsia.

Depois, com a boa lábia de sempre, voltou aclamado para Atenas, mas ter­mi­nou seus dias no exílio, onde foi morto em 404 a.C. Segundo a historiadora Ga­briela Arcan, do Wright College, nos EUA, Al­cibíades foi um dos maiores des­per­dícios da história: sujeito de enor­me po­ten­cial, mas cujo mau caráter im­pediu uma brilhante carreira política em Ate­nas, à qual ele parecia predes­tina­do.

Alcibíades foi o típico sujeito que tropeça na própria sombra. Segundo Cleck­ley, essa sombra era a da psico­patia.

 

 


Alcibíades, o desperdício histórico

A carreira do brilhante ateniense foi uma sucessão de glórias, mancadas e fugas

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422 a.C. – Atenas – Mau Menino
Alcibíades entrou na política em 422 a.C., aos 28 anos. Astuto, juntou-se ao general Nícias para derrubar seu inimigo político Hyperbolos. Depois, puxou o tapete de Nícias quando se sentiu preterido. Tantas maquinações tiveram preço, e Alcibíades fugiu de Atenas.

412 a.C. – Esparta e Pérsia – Filme queimado
Em Esparta, Alcibíades teve a má ideia de seduzir a rainha. Quando ela engravidou, o rei Ágis ricou irado: fazia quase um ano que não iam para a cama, pois Ágis passava o tempo todo treinando seus guerreiros e montando cavalos. Alcibíades zarpou para a Pérsia e deixou a rainha e o bebê para trás.

411 a.C. – Atenas – Flerte e glória
Depois de um rápido exílio persa, Alcibíades voltou às boas com seus concidadãos. Escreveu um discurso declarando-se arrependido dos erros do passado. Derrotou os espartanos em duas batalhas, recolocando o domínio do mar Egeu nas mãos de Atenas.

406 a.C. – Atenas e Frígia – Ostracismo e morte
O exército ateniense sofreu uma série de derrotas sob seu comando. Os atenienses, lembrando de seu passado de vira-casaca, culparam Alcibíades, que se refugiou na Frígia, na Ásia Menor. Foi morto dois anos depois. Segundo uma versão, por capangas enviados pelo rei Ágis, de Esparta.

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