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Osso do pênis de um cachorro pode ter sido usado em ritual romano há 2 mil anos

O artefato pintado de vermelho foi encontrado dentro de um poço com restos mortais de outros 282 animais e pode ter um significado associado a fertilidade.

Por Bela Lobato
9 jan 2025, 18h00

Em 2015, uma equipe de arqueólogos conduzia uma investigação na cidade britânica de Ewell, nos arredores de Londres, quando encontraram algo surpreendente. Num determinado local da região, um substrato de calcário havia sido escavado no formato de um poço de quatro metros de profundidade. 

O poço data de dois mil anos atrás, uma época em que a região da Inglaterra ainda era ocupada por romanos. Dentro dele, estava uma das maiores coleções de restos mortais humanos e animais da época já encontradas de uma vez só.

Havia ossos de mais de 280 espécimes de mamíferos domésticos, como porcos, vacas, cavalos e ovelhas, inclusive muitos filhotes, de todas as espécies. Mas a imensa maioria – cerca de 70% – eram de cães. Os ossos não apresentam sinais de violência, queima ou doença. 

Os pesquisadores acreditam que as carcaças dos cães foram colocadas inteiras no poço, sem uma etapa de desmembramento após a morte – diferente dos bovinos, que foram desmembrados (provavelmente para alimentação). Havia também alguns objetos de cerâmica, mármore e ferro, assim como algumas moedas. Em um dos potes de cerâmica, foram encontrados os restos mortais de um filhote de cachorro que tinha entre 16 e 28 semanas quando morreu.

Não se tratava de cães de rebanho ou de guarda: a maioria eram animais pequenos, provavelmente terriers, corgis ou outros cachorros de colo. 

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Entre os milhares de ossos e artefatos, um se destacou: um báculo de cachorro, pintado de vermelho em um dos lados. Esse osso pode ser encontrado no pênis de vários mamíferos, apesar de não existir em humanos. “Embora a presença de báculos não seja, por si só, incomum, a coloração desse espécime é indicativa de manipulação humana”, escreveu a pesquisadora Ellen Green em um novo artigo publicado no periódico Oxford Journal of Archaeology.

O pequeno osso, que mede menos de cinco centímetros, foi estudado com uma técnica chamada fluorescência de raios X, que pode determinar a composição de um objeto sem danificá-lo. Assim, os pesquisadores descobriram que a face avermelhada estava coberta de óxido de ferro, uma substância que não ocorre naturalmente na região. Além disso, não havia nada de metal no poço que pudesse ter produzido a ferrugem para manchar o osso dessa forma. 

Para a autora do novo artigo, isso significa que a aplicação foi intencional e ocorreu antes do osso ser colocado no poço, sugerindo que o osso báculo tinha algum significado cultural. A antropóloga traça uma ligação entre o artefato e a visão que os romanos tinham de fertilidade. 

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“O pênis tinha muitas associações no mundo romano e era usado como amuleto da sorte e para afastar o mau-olhado”, disse Green, em entrevista ao portal LiveScience. Os cachorros também eram associados especificamente com a fertilidade.

Um exemplo é a faca de cerca de dois mil anos que foi encontrada no começo dos anos 2000 também no Reino Unido, junto com os restos mortais de seis cães. O cabo da faca foi esculpido em marfim e mostra dois cães acasalando. “Os cães também são comumente associados a enterros de bebês em toda a Grã-Bretanha romana, relacionando-os tanto à nova vida quanto à morte”, escreveu Green.

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Faca com cabo de marfim esculpido no formato de cães acasalados de Silchester, Hampshire.
(I. R. Cartwright/Universidade de Reading./Reprodução)

A pesquisa aponta que o poço de Nescot, onde o osso pintado foi encontrado, foi usado repetidas vezes por cerca de cinquenta anos, com pelo menos nove episódios separados em que ossos foram depositados. Green encontrou evidências de que alguns ossos foram removidos do poço, manuseados e depois depositados novamente.

“Não consegui encontrar nenhum outro caso semelhante de uso romano de ocre vermelho em ossos, nem nenhum exemplo da Idade do Ferro britânica”, disse a pesquisadora ao Live Science. “É um artefato muito singular de um local muito singular, mas, em última análise, é um pouco misterioso.”

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