Assine SUPER por R$2,00/semana
Continua após publicidade

A bituca de cigarro que incendiou um avião em pleno ar

No desastre de Orly, que derrubou um avião da Varig em 1973, os passageiros morreram sufocados enquanto o piloto evitava cair em Paris.

Por Redação Super
Atualizado em 21 mar 2022, 07h03 - Publicado em 15 jan 2020, 13h31


“Já que vamos morrer, ao menos não mataremos mais pessoas lá embaixo.” A trágica mensagem foi recebida pela torre de controle do Aeroporto de Orly, em Paris, na tarde de 11 de julho de 1973. A frase vinha da cabine de um Boeing 707 da Varig, onde o comandante paraibano Gilberto Araújo Silva lutava para respirar.

Enquanto a aeronave ia se enchendo de fumaça, o piloto tentava explicar à torre sua decisão de pousar no meio da zona rural – embora estivessem a menos de um minuto da pista do aeroporto.

Cerca de dez minutos antes, por volta das duas da tarde, o voo cumpria os últimos quilômetros da rota Rio de Janeiro-Paris, com 134 ocupantes. Os pilotos haviam começado o procedimento de descida, quando uma passageira saiu tossindo de um dos banheiros. “Quase morri aí dentro!”, ela exclamou, tropeçando pelo corredor.

Duas comissárias de bordo correram até o lavabo: pela porta aberta, viram um grosso rolo de fumaça. Uma das comissárias foi correndo buscar o extintor de incêndio – mas, quando voltou, o incêndio já estava se espalhando para o corredor.

Continua após a publicidade

Quando a fumaça chegou à cabine de comando, o comandante Gilberto Araújo decidiu que a nave não poderia entrar em Paris. Se o avião caísse no perímetro urbano, causaria uma tragédia sem precedentes. A única saída era realizar um pouso de emergência nos arredores da cidade. Havia apenas um terreno desabitado ali por perto: um campo de cebolas, na aldeia de Saulx-les-Chartreux, ao sul da metrópole. À beira da asfixia e sem conseguirem enxergar sequer o painel de controle, piloto e copiloto quebraram as janelas do cockpit, puseram os rostos para fora e realizaram a manobra como se fossem motoristas calculando a largura de uma garagem. No impacto da descida, Araújo lesionou o crânio, a coluna e três vértebras. O copiloto, atingido pelos galhos de uma árvore, teve fratura exposta no braço e um rasgo na mão.

O avião, agora, estava parado. Nos fundos havia uma sinistra calmaria. O pouso fora bem-sucedido, mas a fumaça havia sufocado quase todos os passageiros. O oxigênio das máscaras se esgotara em alguns minutos, e o monóxido de carbono fizera 122 vítimas. Entre elas, o cantor Agostinho dos Santos, a atriz Regina Lecléry e o senador Filinto Müller – que, na época, era presidente do Senado Federal. Entre os tripulantes, quase todos sobreviveram. A cabine contava com quatro tanques de oxigênio; além disso, a abertura das janelas permitira que os comissários e pilotos engolissem menos fumaça. Um único comissário morreu, ao ser arremessado contra o painel do cockpit.

Continua após a publicidade

O carioca Ricardo Trajano, então com 19 anos, foi o único sobrevivente entre os passageiros. Durante a descida, ele agachou-se contra a porta entreaberta da cabine de comando – e sobreviveu graças ao ar que vinha das janelas abertas. Minutos depois do pouso, bombeiros franceses encontraram-no desmaiado, com fraturas e queimaduras. Foi retirado com vida antes que o fogo terminasse de consumir o avião.

Uma investigação do Ministério de Transportes da França determinou, mais tarde, que o incêndio provavelmente fora causado por uma ponta de cigarro, jogada na lixeira do banheiro – na época, não era proibido fumar a bordo. Após o desastre em Orly, todas as agências aéreas exigiram que as companhias proibissem o consumo de cigarros nos banheiros das aeronaves. Mas a abolição total do fumo em aviões continuou um assunto polêmico durante mais de dez anos. As companhias aéreas do mundo inteiro só instituíram a proibição em 1988.

Autoria e desfecho

Por evitar centenas de mortes potenciais no perímetro de Paris, o piloto Gilberto Araújo foi condecorado pela Força Aérea Brasileira e pelo Ministério dos Transportes da França. A família de Antônio Fuzimoto, piloto que dividia o cockpit com Araújo, contesta essa versão – e afirma que foi ele, na verdade, o responsável pelo heroico pouso de emergência. A alegação foi endossada, à época, pelo engenheiro de voo Claunor Bello, que estava a bordo do avião.

Continua após a publicidade

Poucos anos depois, Gilberto Araújo se envolveria em nova tragédia, a bordo de um Boeing 707. Em 30 de janeiro de 1979, Araújo decolou do Aeroporto de Narita, em Tóquio, com destino a Los Angeles. Não havia passageiros a bordo, apenas bagagens. Após 22 minutos de voo, a aeronave sumiu dos radares. O comandante Gilberto Araújo e a tripulação do Boeing desapareceram sobre o Oceano Pacífico, sem deixar vestígios. Ninguém sabe o que aconteceu. “De qualquer forma, meu pai sempre dizia que queria morrer voando”, diz Maria Letícia Chavarria, filha de Araújo.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.