Foi a Primeira Guerra Mundial que deu ao médico brasileiro Manuel de Abreu a chance de estudar a tuberculose. Com a grande demanda de médicos, Abreu acabou chefiando o Laboratório Central de Radiologia do Hospital Dieu, em Paris. Pôde então dedicar-se à construção de um aparelho confiável de radiografia. Os raios X haviam sido descobertos pelo alemão William Roentgen, em 1895, mas as chapas obtidas com eles no início do século ainda eram pouco mais que um borrão. Na prática, o diagnóstico era feito com o estetoscópio, com o qual se ouvia a respiração dos pacientes para verificar se o pulmão estava ou não danificado pela tuberculose. Erros de análise eram freqüentes.
Abreu resolveu construir um aparelho que fizesse uma imagem nítida. Ele atingiu seu objetivo em 1936 ao aplicar sobre os filmes uma substância chamada tungstato de cálcio. A função desse composto é absorver os raios X que passam através do corpo do paciente e assim formar a imagem dos órgãos lá dentro. Até então esse papel cabia a um outro preparado, o cianeto de bário. Mas, comparando com as chapas borradas tiradas naquela época, as radiografias de Abreu eram perfeitas, revelando uma visão muito bem definida dos pulmões. Eram as abreugrafias, como mais tarde ficaram conhecidas.
O primeiro posto médico a oferecer o novo exame, logo depois de Abreu voltar ao Brasil, em 1945, foi montado na Rua do Resende, no centro do Rio de Janeiro. Inicialmente houve receio de que a exposição constante aos raios X fosse prejudicial à saúde. Mas logo se descobriu que dois exames por ano não faziam mal. A técnica atraiu especialistas da América do Sul e da Europa, interessados no novo método de diagnóstico e acompanhamento da doença, projetando o nome do brasileiro.
Luta contra a tuberculose
Manuel de Abreu nasceu em São Paulo, no dia 4 de janeiro de 1892, e cresceu num período em que a tuberculose era um grande problema social no Brasil. Apenas na cidade do Rio de Janeiro, onde havia estatísticas confiáveis, ela matava 300 cidadãos em cada grupo de 100 000 habitantes. Não admira que, ainda adolescente, tivesse decidido seguir a carreira médica.
Entrou com apenas 16 anos na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro e, logo após graduar-se, mudou-se para Paris para continuar os estudos. Lá inventou o meio mais simples e eficiente de diagnosticar e combater a tuberculose – a radiografia de pulmão. Com ela foi possível detectar a doença preventivamente e combatê-la a tempo de salvar os pacientes. Isso fez de Abreu um precursor da Medicina preventiva no país.
Por ironia, um dos seus grandes prazeres era o cigarro. O vício acabou por matá-lo, produzindo um tumor no órgão que mais havia estudado na vida, o pulmão. Morreu em 30 de janeiro de 1962.