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Prisioneiros do Vietnã desenvolveram super cérebro na solitária

Sob muito estresse, alguns veteranos desenvolveram habilidades incríveis de memória e cálculo

Por Ana Carolina Leonardi
Atualizado em 31 out 2016, 18h58 - Publicado em 6 jun 2016, 18h45

Um cela solitária pode ser um ambiente enlouquecedor, por conta do isolamento, o escuro, a falta absoluta do que fazer. Mas, para o psiquiatra e neurocientista Dennis Charney, ela pode funcionar como uma “academia” de supercérebros.

O professor da Escola de Medicina Monte Sinai, em Nova York, passou a vida estudando pessoas que passam por grandes estresses e traumas, para entender como a saúde mental de alguns responde tão bem a essas tragédias.

Um de seus estudos mais amplos foi com ex-prisioneiros americanos da Guerra do Vietnã. Alguns deles passaram anos na solitária, sem perspectiva de liberação. Mesmo assim, quando foram liberados, eles exibiam muito menos casos de estresse pós-traumático e depressão do que é esperado de prisioneiros de guerra.

Além disso, certos prisioneiros realizaram feitos impressionantes. Charney contou, em uma entrevista ao fórum Big Think, que um dos ex-prisioneiros exercitou o cérebro ao ponto de fazer multiplicações entre números de 12 dígitos de cabeça.

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Robert Shumaker, outro veterano do Vietnã entrevistado pelo cientista, passava de 12 a 14 horas por dia na solitária planejando sua casa dos sonhos. Mas ele fez bem mais do que sonhar acordado – o plano de Shumaker incluía até os locais exatos em que ficaria cada prego. Cada cômodo tinha uma metragem específica e era composto por um número específico de tijolos. Shumaker calculou inclusive o peso total que a casa teria.

Quando voltou aos Estados Unidos, o oficial da Marinha construiu uma cópia exata do seu projeto de arquitetura mental. Segundo Charney, ele chegou a brigar com a esposa quando ela sugeriu uma reforma da casa.

A memória dos prisioneiros também passou por transformações. Paul Galanti, outro entrevistado, conseguiu voltar às suas aulas de química e reconstituir mentalmente a tabela periódica. Equações químicas e cálculo viraram seus passatempos.

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Os veteranos de Charney não são os únicos que desenvolveram habilidades especiais em ambiente de intenso estresse. No seu livro Resilience: The Science of Mastering Life’s Greatest Challenges (sem publicação no Brasil), o cientista cita outros dois casos famosos.

Galand Kramer conseguiu decorar os nomes de 750 jogadores de baseball nos seis anos em que ficou preso no Vietnã – sabia dizer a lista de trás para frente. Mesmo com suas supercapacidades, ele voltou aos Estados Unidos e descobriu que a mulher tinha pedido o divórcio um ano antes da sua liberação.

O mais famoso dos detentos superdotados foi Douglas Hegdahl. Com 19 anos, só estava no exército há seis meses quando foi capturado. Ele guardou todos os detalhes que conseguiu de todos os prisioneiros com quem teve contato. Quando foi liberado, o rapaz tinha decorado os nomes completos de 256 prisioneiros, além de informações sobre a sua captura. Em alguns casos, sabia o nome de parentes, da cidade natal e até do cachorro dos colegas. Fez questão de visitar as famílias e contar o que sabia sobre os presos. O melhor de tudo? Ele decorou esses detalhes no ritmo da musica infantil Sítio do Seu Lobato (Old MacDonald had a farm) – ou simplesmente Ia-ia-Ô.

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LEIABebês bilíngues têm super cérebro, diz estudo

Hoje, Charney estuda de que forma esses exercícios de profunda concentração mental melhoraram a capacidade do cérebro de armazenar informação. Ele acredita que tudo tem a ver com a habilidade do órgão de se adaptar e criar novas conexões – a chamada plasticidade cerebral. O cientista espera que esse conhecimento ajude a entender e até tratar doenças como depressão, ansiedade e distúrbios de memória.

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