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Richard Owen: O gênio ciumento

Brigas, intriga, traição. O arqui-rival de Charles Darwin parecia personagem de novela mexicana

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h21 - Publicado em 31 jan 2005, 22h00

Martha San Juan

Ele poderia ter entrado para a história como anatomista brilhante, fundador do Museu de História Natural de Londres e criador da palavra dinossauro (que significa “lagarto terrível” em grego). Mas o inglês Richard Owen é lembrado até hoje por um motivo nada brilhante: ser um dos mais implacáveis inimigos da teoria evolucionista – e a rivalidade extrema que mantinha com seu autor, Charles Darwin.

“Que homem estranho, invejoso de um naturalista como eu, tão inferior a ele”, comentou um modesto Charles Darwin referindo-se ao cerco implacável do colega. Darwin era o mais famoso, mas não o único alvo dos ataques de Owen – um homem que apesar das grandes descobertas científicas parecia sofrer de “memória fraca”: tinha incrível facilidade para esquecer quem o havia ajudado em suas pesquisas e, assim, arrumar confusão com colegas do meio acadêmico.

Em 1842, publicou a descrição científica dos “lagartos terríveis”. Um trabalho extenso, digno de sua fama de anatomista cuidadoso e que não mencionava uma única vez que os fósseis, na verdade, haviam sido descobertos por paleontólogos amadores como Gideon Mantell. A falta de “delicadeza” fez com que Mantell o colocasse imediatamente em sua lista de desafetos.

O problema era que Owen tinha a seu favor amigos poderosos. Era um orador brilhante e esnobe, cristão devoto, ex-tutor dos filhos do príncipe Albert e da rainha Vitória e, claro, cientista genial. Considerado o maior especialista em anatomia da Inglaterra, era autor da identificação de moluscos, de mamíferos australianos e do gorila, além de deduzir a existência de aves sem asas na Nova Zelândia a partir de um fragmento de osso (episódio em que, novamente, foi acusado de não dar crédito a outros).

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Mas, apesar de seu trabalho em anatomia avançar, Owen continuava com as mesmas idéias. Influenciado por teorias religiosas, acreditava que todos os vertebrados eram construídos segundo um molde feito por Deus. No fundo, concordava com uma forma de evolução. O molde divino, no entanto, é que teria evoluído até chegar ao que somos hoje. Acabou entrando para a história como um dos mais ativos antievolucionistas.

Por quê? Conhecendo sua personalidade, não é de estranhar. Brigão, teimoso e arrogante, resenhou A Origem das Espécies, o clássico de Darwin, em 1860, dizendo que a teoria da seleção natural estava errada – para ele, uma espécie não poderia gerar outra espontaneamente. Foi o bastante para enfurecer os seguidores de Darwin. Como o pai da teoria se recusava a rebater as acusações de Owen, foram seus seguidores que tomaram as dores. Thomas Henry Huxley, apelidado de “buldogue”, partiu para o ataque em nome do mestre. Além de um célebre debate que quase acabou em pancadaria com o bispo de Oxford, defensor da teoria de Owen, Huxley protagonizou discussões públicas com o desafeto. Em um panfleto de 1863, chamou o rival de “piteco bimanuado braquicéfalo ortógnato mentiroso”. Owen respondeu que Huxley não passava de um “primata arquiencefálico”.

Essas “amabilidades” tinham relação com a discussão e eram mais uma maneira de defender seu ponto de vista. O anatomista queria provar que o cérebro humano era especial e em nada parecido com o dos macacos. Já Huxley acreditava no contrário – e acabou convencendo o público de suas idéias. Owen morreu em 1892, aos 88 anos, dez anos após Darwin. Estava rico e continuava teimoso. Ainda acreditava ter vencido a batalha contra seu grande rival.

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