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Sobre a Sociedade

Confira publicações fundamentais para entender a sociedade em que vivemos hoje.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h21 - Publicado em 31 ago 2008, 22h00

Ele está com um grupo de especialistas em auxílio à lista – todos esperando exasperadamente, na verdade, por um elevador lento dentro do prédio de uma companhia telefônica segura no centro de Nova York. Estão dirigindo-se para o salão central, onde sua equipe de telefonistas – 72 pessoas nos períodos de pico – fica sentada em cubículos cinza e responde as chamadas do número 411 para toda a Manhattan e partes do Brooklin e do Bronx. É um processo que requer economia de tempo ao extremo mais moderno. Na área metropolitana de Nova York, a empresa atende 5,5 milhões de solicitações de auxílio à lista por dia; com esse número imenso se multiplicando, qualquer economia nos poucos segundos dedicados a cada ligação devolve anos de vida humana ao total cósmico de tempo livre. Esse lugar é um laboratório para a intensificação da experiência de trabalho moderna e para os desdobramentos mais extremos da tecnologia de economia de tempo. Os telefonistas, tendo aprendido a decodificar mais sotaques que qualquer grupo de intérpretes das Nações Unidas, tendo aprendido um alfabeto mnemônico-padrão (M de Mary, P de Peter…), tendo assumido os fones de ouvido e armado as mãos acima de teclados especializados, preparam-se a cada dia para ultrapassar a média do departamento: 21a 22 segundos por chamada. Os melhores declaram atingir a média pessoal de dezesseis segundos – o que significa que, em um período de trabalho ininterrupto de 1h45m, atendem 394 ligações, antes de fazer uma pausa de quinze minutos ou parar meia hora para o almoço e voltar a colocar o fone.

Vinte e um segundos para o telefonista não significa vinte e um segundos para o cliente. Não se trata mais de uma experiência de tempo real, em que uma pessoa é atendida por um telefonista e os dois conversam. A tecnologia tornou o vínculo entre telefonista e cliente mais frio, ou, de qualquer modo, distorceu-o digitalizando e alterando o tempo de suas vozes. Seu telefonema para o auxílio à lista e o telefonema que o auxílio à lista recebe de você passam-se em universos paralelos. Primeiro, desde a década de 1980, os telefonistas pararam de falar os dígitos dos números de telefone que encontravam; os computadores é que fazem isso. Especificamente, o telefonista pressiona uma tecla chamada de Audio Release e lá longe, na sala limpa, com ar condicionado e sem ninguém do switch do escritório central, um circuito eletrônico em um gabinete de várias portas, do tamanho de uma geladeira, gera pulsos que o fone do seu aparelho converte no som de números falados. Isso poupa quase cinco segundos. Mas não poupa cinco segundos seus. Enquanto você escuta o número, o telefonista já está envolvido no pedido de alguma outra pessoa. Analogamente, no princípio da ligação, outro gabinete reproduz a voz de, digamos, James Earl Jones, pulsando lugubremente a frase “ Bem-vindo à Bell Atlantic” milhões de vezes por dia, seguido imediatamente por outro gabinete, muito longe, com uma frase como “Auxílio à lista. Qual lista?” Costumava ser “qual lista, por favor”, mas cada milésimo de segundo conta. Clientes impacientes tendiam a cortar mesmo o por favor com seu pedido, como torcedores de beisebol que começam a aplaudir depois do hino norte-americano em “land of the free”, em vez de esperar, como antigamente por “home of the brave”. Em alguns lugares, a voz eletrônica pergunta “qual cidade?”, mas não em Nova York; os nova-iorquinos sabem qual cidade. Sua vez de falar. Você diz “Motor Vehicles” ou “Domino’s, hum, é, Pizza” (para o auxílio à lista, é claro que o mundo vive de pizza e comida chinesa; alguns teclados têm até um botão especial para pizza). Quando você termina, suas palavras são roteadas para o fone do próximo telefonista disponível – que, enquanto você estava falando, ainda estava ocupado ajudando um cliente anterior. O que o telefonista ouve e o que você acabou de dizer há apenas um instante não são exatamente a mesma coisa. Para ganhar ainda mais tempo, os computadores primeiro enviam suas palavras para um programa que remove todas as pausas e silêncios que podem ter prejudicado a clareza de sua fala. Esse software tenta retirar os “é”s. Também pode acelerar levemente a reprodução da voz.

As companhias telefônicas gostariam de encontrar a configuração ideal dessa compressão: rápido o bastante para poupar tempo, mas não tanto que atrapalhe os telefonistas. Uma estação de trabalho em mais uma sala limpa monitora essas variáveis: Economias por Compressão e Economias por Remoção de Silêncio. O desempenho do cliente também é monitorado – sim, quando você liga para o auxílio à lista, pode sair-se bem ou mal. A máquina registra uma contagem de seus Erros por Falar Cedo Demais (quer dizer, você não teve a paciência de esperar pela pergunta “qual lista?”), Erros por Falar Muito Tempo (“o, é, bom dia, você pode me dizer o, é, número, do, é…”), Fala Não Detectada (você fica paralisado ou desliga) e outras medidas de imperfeição. Se você fizer o seu trabalho à perfeição – se conseguir fazer, nem muito cedo nem devagar demais, em linguagem perfeita, um pedido sem ambigüidades e que produza um único resultado no terminal –, você não será ligado a nenhum telefonista. O papel humano no auxílio à lista será totalmente removido para segundo plano. Por mais intricado que o processo tenha se tornado, seus engenheiros sabem que só atingiram uma estação intermediária. Algum dia, esperam, o reconhecimento de voz poupará ainda mais tempo. Estão fazendo experiências com reconhecimento automático de algumas expressões muito comuns, como “Domino’s Pizza”, mas ainda é difícil para os computadores distinguir sim e não no ambiente poliglota acelerado do auxílio à lista. Enquanto isso, quando a aritmética de economia de tempo da companhia telefônica atinge o resultado final, parece que as novas tecnologias ganham alguns segundos para a empresa, mas perdendo alguns dos seus segundos, em média. De fato, há uma transferência de um pouco de tempo, quer dizer, do seu livro razão para o da empresa. Em média. Em parte, isso é culpa sua. Você também poderia poupar tempo se soubesse que pressionar a tecla # lhe permite pular frases automáticas. Mas você não sabe disso, sabe? Você não parou para ler as instruções no encarte que acompanha sua conta de telefone. Não muito tempo atrás, o telefonista ficava olhando listas telefônicas gigantescas. Depois veio o microfilme, rapidamente. Depois, terminais de computador. O cérebro humano, que até aqui não pode ser substituído, pode ao menos ser pressionado para atingir a velocidade máxima. Sinais eletrônicos no fone avisam sobre mais uma chamada recebida. “Staples, na rua 57, por favor?” Encontre a lista, mova o cursor, pressione Audio Release para que o computador cumpra sua função. Sinal. “Union Gas, no Brooklin?” Cursor, Audio Release, sinal. “Maimonides Hospital?” Um telefonista treinado digita MA MED, move o cursor e aperta Audio Release antes que o cérebro destreinado tenha sequer começado a analisar mai-mo-ni-des. Parece brutal – Sísifo acelerado, com uma nova rocha a empurrar a cada 21 segundos – e, para alguns, é demais. Mas há telefonistas que dizem se desenvolver sob pressão. Procuram aprimorar suas médias pessoais; suas mentes encontram os atalhos corretos; os dedos voam de forma independente do controle consciente. Multitarefa: conseguem destacar uma parte da mente para devanear, enquanto o sinal toca de novo. Acontece o mesmo com o máximo em trabalhos acelerados de alta pressão, aquele em que seres humanos em seus terminais controlam objetos que se movem a oito quilômetros por minuto e onde crash and burn* não é uma figura de linguagem.

A sala de controle mais estressante do mundo industrializado deve ser o New York Tracon em Westbury, Long Island, responsável por sete mil vôos por dia. “Os controladores praguejam e crispam-se como uma reunião de pacientes da Síndrome de Tourette”, observou o escritor Darcy Frey, em 1996, “enquanto procuram evitar a queda de desempenho”. A exaustão, a acidez estomacal, os colapsos são lendários. Mas a realidade que mantém o sistema funcionando é que cada vez mais controladores apreciam sinceramente a pressão. Consideram-na uma forma de ginástica mental, com graça e virtuosismo, conhecimento e poder. Comandam uma linguagem especial do imediatismo. Assim como os idiomas da região polar têm palavras para as muitas variedades de neve, os controladores de tráfego aéreo dominam as diversas nuances, especificadas nos Federal Aviation Regulations norte-americanos, de imediatamente, sem demora, com despacho e urgência (uma condição que “requer assistência oportuna, mas não imediata”). Também há modos menos ortodoxos de especificar urgência. “Ei, você está em Nova York, companheiro”, avisa um controlador chamado Tom Zaccheo a uma aeronave. “Preciso que você pouse em um minuto em Nova York, não é um minuto de matuto.” Seu tipo é Tipo A. Quando bebem, é café. Quando comem, é comida chinesa para viagem. Um dos “crispadores” inadvertidos de Frey era o campeão das horas extras do controle de tráfego aéreo em 1995, Jim Hunter. “Tenho certeza de que trabalhar com tanto tráfego tem conseqüências a longo prazo”, disse Hunter, sacudindo a perna. “Na verdade, fico meio alto com isso. Sério.” Como uma droga sem as substâncias químicas de verdade, e quanto mais alto melhor.

Nosso tempo

Nome – Acelerado

Autor – James Gleick

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Editora – Campus

Por que ler – Você se sente escravo de um relógio supersônico e, por conta disso, vive correndo atrás para colocar a vida em ordem? Não se preocupe: você não está só. Sua liberdade – e a de todos os indivíduos atormentados pela velocidade dos ponteiros do relógio – depende da compreensão do tempo, afirma o jornalista americano James Gleick, Autor – de Acelerado, livro lançado na virada do milênio e já apontado como um clássico de uma era em que velocidade máxima deixa de ser apenas Nome – de filme para fazer parte do cotidiano. É a era do ritmo frenético em casa, no trabalho e nas relações sexuais, do instantâneo, das novidades efêmeras e de muita, muita ansiedade. E o que houve com a tecnologia e a internet? Elas não deveriam contribuir para mais tempo livre? O que deu errado? Por que as pessoas andam “no limite”? A pretensão de Gleick não foi de dar as respostas para essas questões em longas explicações, numa tese sobre o assunto. Ele quis apenas refletir de uma maneira leve e rápida sobre o medo generalizado de se desperdiçar segundos, a paranóia da velocidade, a atual apreensão da realidade e a maneira como microchips, meios de comunicação e economia, entre outros elementos, aceleraram o dia-a-dia na virada do século 20 para o 21. Em suma, Gleick fala de tempo e da falta de tempo na vida moderna, numa época em que nem mesmo nosso avô consegue mais conceber um mundo sem motoboy, internet e memória RAM. Gleick debruçou-se sobre diversos aspectos da correria diária e de suas complexidades, e o resultado foi um livro irreverente e divertido. Reflete, por exemplo, sobre o quanto o desenvolvimento de aparelhos eletrônicos nos ajudou a economizar nanossegundos. Mostra como a falta de organização nos faz perder preciosos segundos e minutos diários. Sem falar nas horas desperdiçadas em frente ao televisor e em outras atividades do gênero. No fim das contas, perde-se muito tempo na ânsia de ganhá-lo. É um livro que merece ser lido, bem devagar.

(Aline Rochedo)

Nome – A Lógica do Cisne Negro

Autor – Nassim Nicholas Taleb

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Editora – Best Seller

Por que ler – Você já pensou no impacto do altamente improvável? Por exemplo, o que teria acontecido se as pessoas soubessem previamente dos atentados terroristas nos EUA de 11 de setembro de 2001? Ou do tsunami no Pacífico em dezembro de 2004? São questões que permitiram a Nassim Nicholas Taleb, especialista em gerenciamento de riscos, propor a lógica do Cisne Negro. Ele conta que, antes da chegada dos primeiros europeus à Austrália, as pessoas acreditavam que todos os cisnes eram brancos. Bastou um único exemplar de cisne negro para invalidar a afirmação comumente aceita. Para Taleb, mais importante do que aquilo que se conhece é aquilo que não se conhece. “O que você sabe não pode machucá-lo”, afirma o Autor – . Nos dois casos acima citados – o atentado e o tsunami –, foi o imprevisto que causou os estragos. Esta é a lição da lógica do Cisne Negro: o surpreendente não é a magnitude de nossos erros de previsão, mas nossa falta de consciência dela. E não é necessário apelar a grandes catástrofes para concluir que nossos conhecimentos e aprendizados limitados são os responsáveis por isso. Taleb afirma que coisas cotidianas, como a escolha da profissão ou de um parceiro, também são afetadas pelo inesperado. O problema está na estrutura de nossas mentes, no desdenho pelo abstrato e no apego exagerado aos fatos. Depois dos atos terroristas de 2001, questiona o Autor – , as pessoas entenderam que a sabedoria convencional tem defeitos? Não, só aprenderam a evitar prototerroristas e edifícios altos. Em A Lógica do Cisne Negro, a cada tirada de bom humor, o leitor descobre que tudo na vida ocorre de eventos imprevisíveis e impactantes. Você nunca mais vai temer o desconhecido.

(Aline Rochedo)

Nome – O Ponto de Desequilíbrio

Autor – Malcolm Gladwell

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Editora – Rocco

Por que ler – O que o hábito de fumar, a revolução americana e a explosão de consumo dos calçados Hush Puppies têm em comum? Todos passaram pelo “ponto de desequilíbrio”, que o Autor – considera o momento no qual o contágio por uma idéia cresce sem motivo aparente. Assim, comportamento e consumo podem ser controlados para transformar qualquer iniciativa em um sucesso absoluto. Por isso, alguns empreendimentos dão certos e outros jamais saem do anonimato. Para o jornalista britânico Malcolm Gladwell, colunista da revista The New Yorker, a fórmula mistura três fatores: a regra dos eleitos, o fator de fixação e o poder do contexto, que envolvem talentos sociais, irresistibilidade da informação e as condições do tempo e do lugar em que começa a epidemia. Quem controla esses três segredinhos, crê Gladwell, chega ao tal ponto de desequilíbrio.

(Aline Rochedo)

Nome – Freakonomics

Autores – Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner

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Editora – Campus

Por que ler – A reunião de um economista e um jornalista teria tudo para virar uma tese sobre os perigos de uma crise financeira mundial. Mas Levitt, o economista, e Dubner, o jornalista, produziram um livro para mudar o modo como as pessoas enxergam o mundo. As questões parecem simples, muitas vezes esdrúxulas. Por exemplo, o que é mais perigoso para uma criança: uma piscina ou um revólver? Os Autor – es analisam estatísticas que provam que as piscinas matam mais. O senso comum teria nos indicado a outra opção. Com exemplos desse tipo, o livro chega à conclusão de que o mundo não é tão complicado quanto parece. Em cada resposta para nossos dramas cotidianos – como criar os filhos, enfrentar criminosos ou vender uma casa –, pode se encontrar o que os Autor – es chamam de “o lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta”. Basta fazer a pergunta certa. A economia tem a solução. Freakonomics é uma baita dica para quem gostaria de tomar decisões mais racionais.

(Aline Rochedo)

Deus, Jesus, papa e cia.

Nome – Deus Não é Grande

Autor – Christopher Hitchens

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Editora – Ediouro

Por que ler – “Allahu Akbar” (“Deus é grande”) é uma expressão árabe muito usada pelos muçulmanos. Irônico e ácido, o jornalista britânico Christopher Hitchens a contradiz para intitular seu mais recente livro, no qual ataca as religiões como mal maior da sociedade atual. Hitchens defende que a crença no divino é reflexo do medo que os seres humanos têm da morte e do desconhecido. Os dogmas são acusados de impedir o avanço da democracia e de perpetuar sistemas Autor – itários, exercendo seu papel no estímulo de repressões sexuais, racismos, terrorismos e até genocídios. Defensor de guerras contra teocracias, o jornalista é criticado por destacar das religiões apenas seu lado perverso, ignorando aqueles que, por elas, se dedicam a boas ações. Ainda assim, contribui para a discussão racional dos credos e para uma maior compreensão dos fundamentalismos.

(Kelly Cristina Spinelli)

Nome – O Poder e a Glória

Autor – David Yallop

Editora – Planeta do Brasil

Por que ler – Mais midiático e carismático que todos os pontífices que o antecederam, João Paulo 2o espalhou pelo mundo mensagens de paz e liberdade em 26 anos de papado. É considerado santo pelos fiéis e pela Igreja Católica, que deve concluir em breve sua beatificação. Seu papado, porém, foi alvo de muitas críticas. As mais ferrenhas estão em O Poder e a Glória, do escritor britânico David Yallop. O Autor – pesquisou arquivos da CIA, da KGB e do Vaticano para relatar questões como a aproximação política entre o papa e a Casa Branca contra a União Soviética e a omissão de João Paulo II em escândalos de pedofilia. Não é a melhor biografia do papa, já que, além de focada apenas nas deficiências do pontífice, é carente de provas. Mas aponta os pecados do Vaticano – e o importante papel que exerce na política.

(Kelly Cristina Spinelli)

Nome – O Jesus Histórico

Autor – John Dominic Crossan

Editora – Imago

Por que ler – A imagem que temos de Jesus é a de um homem branco, de olhos azuis. Carpinteiro e filho único. Mas teólogos como o irlandês John Crossan têm descoberto que algumas passagens bíblicas podem ter sido dramatizadas. Crossan apóia-se em evangelhos e em achados arqueológicos para tentar decifrar a vida de Cristo. Jesus deve ter sido camponês e tinha o tipo físico de um árabe. Mas o teólogo não discute sua divindade, ressalta apenas que, em sua época, Jesus teve maior importância política que religiosa: pregava a igualdade econômica e social (sob o preceito de que todos são filhos de Deus).

(Kelly Cristina Spinelli)

Nome – A Bíblia – Uma Biografia

Autora – Karen Armstrong

Editora – Jorge Zahar

Por que ler – O mesmo texto religioso inspirou movimentos tão opostos quanto a teologia da libertação dos afro-americanos e o linchamento dos negros pela Ku Klux Klan. A Bíblia é o livro mais lido, e mais diversamente interpretado, do mundo – e sua história biográfica está contada no livro homônimo da inglesa Karen Armstrong, ex-freira católica e renomada estudiosa de religião. Levando em consideração as circunstâncias políticas e sociais em que a tradição oral foi escrita, reescrita e reinterpretada ao longo dos tempos, a Autor – a aponta questões como o fato de que a leitura literal dos textos bíblicos é um fenômeno atual. Comum entre os fundamentalistas, esse tipo de leitura promove controvérsias e justifica atrocidades. Antes, a Bíblia era tida como um guia alegórico para o desenvolvimento espiritual. Armstrong mostra que não há interpretação definitiva para um texto como esse – e conclui que a compaixão e a caridade devem nortear o leitor: qualquer interpretação que resulte em violência deve ser abandonada.

(Kelly Cristina Spinelli)

Mulheres no Islã

Nome – Infiel

Autora – Ayaan Hirsi Ali

Editora – Companhia das Letras

Por que ler – Em sua autobiografia, a somali Ayaan Hirsi Ali faz uma denúncia corajosa da opressão contra as mulheres na sociedade muçulmana. Ela sentiu no corpo os horrores da sociedade que mutila, espanca e mata em Nome – de Alá. Tinha 37 anos quando escreveu o livro, exilada nos EUA, depois de ter sido condenada à morte por um fanático que, antes, assassinou o cineasta Theo van Gogh. Juntos, Ali e Theo tinham feito um curta-metragem que mostrava muçulmanas cansadas da submissão e da violência. Hoje, ela vive rodeada de guarda-costas. Infiel é o relato corajoso de quem acredita na liberdade e na igualdade.

(Aline Rochedo)

Nome – Desonrada

Autoras – Mukhtar Mai e Marie-Thérèse Cuny

Editora – Companhia das Letras

Por que ler – A paquistanesa Mukhtar Mai foi condenada a um estupro coletivo por ter pedido clemência para o irmão condenado à morte. O relato brutal dessa vida marcada pela violência, apoiada pelo sistema de castas no Paquistão, é contado pela jornalista francesa Marie-Thérèse Cuny. Em Desonrada, o leitor conhece a luta de uma mulher cansada da opressão e disposta a defender os direitos das mulheres, não só no seu país, mas em todo o mundo islâmico. Mukhtar conta que venceu o sofrimento e a humilhação, transformando as barbaridades do fundamentalismo religioso na motivação de uma das maiores ativistas de nosso século.

(Aline Rochedo)

Crime (bem) organizado

Nome – Ilícito

Autor – Moisés Naím

Editora – Jorge Zahar

Por que ler – Qualquer coisa está à venda hoje, vide a pirataria de bolsas, softwares, medicamentos e dvds. Mas o comércio ilícito também vende espécies ameaçadas de animais, escravos, órgãos humanos, cadáveres, metralhadoras e armas nucleares. O jornalista Moisés Naím, editor-chefe da revista Foreign Policy, revela como estamos perdendo a batalha para o crime organizado, graças a três ilusões na forma como tratamos o comércio ilícito. A primeira, ao não percebermos que o ilícito cresceu junto com as mudanças econômicas dos anos 90. A segunda, ao tratarmos esse comércio como mera questão criminal, ignorando sua organização corporativa. A terceira ilusão é a idéia de que é um fenômeno subterrâneo, que acontece em lugares distantes. “À medida que se expandem em direção a empresas privadas lícitas, partidos políticos, parlamentos, governos locais, grupos de comunicação, tribunais, exército e setores beneficentes, as redes de tráfico assumem uma influência poderosa – e, em certos países, sem-igual – nas questões de Estado”, alerta.

(Aline Rochedo)

Nome – McMáfia

Autor – Misha Glenny

Editora – Companhia das Letras

Por que ler – As prateleiras estão cheias de romances policiais, diversos com saborosas histórias fictícias pontilhadas de realismo. McMáfia parece fazer o contrário: transforma a vida real em absurda ficção. Todas as tramas do livro relatadas custaram três anos de investigações ao jornalista britânico Misha Glenny, que cobriu a queda do bloco comunista no final da década de 1980. Este livro vai deixá-lo de cabelos em pé. Não só porque fala das fraudes eletrônicas cometidas no Brasil. Mas porque mostra o crime organizado na política e no meio empresarial, desde redes de tráfico de mulheres até as rotas de distribuição de armas, drogas ou petróleo. Você vai descobrir como o poder e a corrupção andam de mãos dadas. O legal de McMáfia é a linguagem narrativa na qual os próprios personagens revelam o tamanho da bandidagem.

(Aline Rochedo)

Certas palavras

Nome – A Aventura das Línguas do Ocidente

Autora – Henriette Walter

Editora – Mandarim

Por que ler – A professora e lingüista francesa Henriette Walter brinda-nos com um delicioso passeio pela história das línguas faladas no Ocidente. Não só as oficiais e ensinadas nas escolas, como português, espanhol, italiano, alemão ou holandês, mas também dezenas de outras regionais que os europeus usam até hoje para se comunicar. Fora as línguas mortas, por desuso ou por decreto. O que todas elas têm de semelhante? Quais são as raízes dessas línguas? Henriette mostra que esse patrimônio comum começou há 7 mil anos, com as migrações dos povos pela Europa, seja em busca de conquistas de territórios, seja atrás de parceiros comerciais. O período abrange o latim, o etrusco, o grego e uma inimaginada língua indo-européia. O estudo é feito sob o prisma histórico, geográfico, gramatical e semântico, mas a leitura é saborosa e pode ser feita em ordem aleatória, se você não agüentar de curiosidade sobre o nascimento do português. O certo é que você nunca mais vai falar mal da língua.

(Aline Rochedo)

Nome – Cartas a um jovem terapeuta

Autor – Contardo Calligaris

Editora – Campus

Por que ler – O jovem terapeuta do título do livro não é apenas o recém-formado. Um dos mais importantes psicanalistas do País, Contardo Calligaris revela os segredos da profissão de psicoterapeuta também para aspirantes e os mais experientes. Em forma de cartas e de perguntas e respostas, endereçadas a terapeutas, um jovem e uma jovem, o autor mostra como ser um bom profissional, conseguir o primeiro paciente e conquistar outros mais. Ensina o que fazer quando o paciente se apaixona pelo terapeuta e a solucionar situações de conflito. De quebra, explica as diferenças entre psicoterapia e psicanálise. Como de costume, Calligaris não perde o bom humor ou a coloquialidade do texto, nem se nega a compartilhar toda a sua experiência na área. Leitura obrigatória para quem pensa em se dedicar à profissão, mas o livro não deixa de ser curioso também para os que jamais se imaginaram no papel de terapeuta.

(Aline Rochedo)

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